Uma breve análise das capacidades aéreas de cada país e a probabilidade de ação em caso de conflito
A tensão na Venezuela tem aumentado a cada hora, com forças leais ao regime do ditador Nicolás Maduro e oposição entrando em constante confronto. O reconhecimento da ilegitimidade do governo Maduro por parte da comunidade internacional ajudou a incendiar o país e o temor de uma guerra civil se torna cada dia mais real.
Atualmente a Venezuela conta com uma modesta, mas sofisticada força aérea, que embora em números absolutos não seja capaz de enfrentar uma grande potência, como os Estados Unidos, possui relativo poder de combate. Na década passada, ainda sob o governo Hugo Chávez, a Venezuela iniciou um amplo programa de reequipamento militar, com destaque para a aquisição de armamentos russos, como caças Sukhoi Su-30MK2V, helicópteros Mil Mi-17, assim como baterias de misseis S-300, carros de combate T-72, entre outros. Além disso, o país ainda adquiriu alguns aviões de transporte chineses Shaanxi Y-8, que se adicionaram a frota de helicópteros Cougar e Super Puma, franceses, caças F-16 norte-americanos, e Tucanos, brasileiros, muitos adquiridos décadas atrás. Ainda que distante do poder bélico de grandes nações as forças armadas da Venezuela se destacam na região.
Todavia, a crise econômica refletiu na capacidade da Venezuela em manter todos seus meios militares em condições de voo. Fontes militares e de inteligência apontam que apenas seis caças F-16A e um F-16B, estão em operação. Assim como apenas 13 Su-30 possuem condições de combate no momento. Com um total de 20 caças da sua linha de frente em serviço, a Venezuela teria grandes dificuldades em sustentar uma guerra regular, combatendo um país como os Estados Unidos. “Mesmo que a Rússia ou China estiverem dispostas a apoiar a Venezuela, é pouco provável que o país consiga se armar a tempo para uma guerra”, comenta o especialista em defesa Olavo Gomes.
Outro entrave apontado é a incertezas das condições dos misseis e bombas venezuelanos. Parte do arsenal utilizados pelos F-16, de origem norte-americana, pode estar sem manutenção há vários anos e por tanto, sem condições de emprego. “Os armamentos de ponta exportados pela Rússia também podem não estar completamente operacionais”, diz Gomes.
Um hipotético combate com o Brasil, por ar, daria alguma vantagem aos venezuelanos em termos de capacidade técnica dos seus principais caças, que rivalizariam com os menos capazes F-5EM e A-1 (AMX), da força aérea. Ainda assim, um combate aéreo entre ambos os países é pouco provável, já que um eventual embate se daria por terra, na região de fronteira, basicamente entre forças do exército. “A maior defesa do Brasil é sua extensão territorial e a geologia da fronteira, que é formada por uma grande cadeia de montanhas e regiões de mata fechada”, considera Harry Goldfein, ex-analista militar. Um combate seria majoritariamente entre forças terrestres, com quase nenhum suporte mecanizado. E nisso o Brasil se destaca, já que o maior aliado nessa situação são os Super Tucanos que foram projetados para esse tipo de missão”. Os turbo-hélices de treinamento avançado e ataque, Super Tucano, foram desenvolvidos pela Embraer em parceria com a FAB, para permitir o Brasil atuar contra aeronaves do narcotráfico e eventuais guerrilhas em região de fronteira.
Com um terreno acidentado e sem estradas, para permitir o uso intensivo de blindados, o Super Tucano pode ser um aliado fundamental para as forças brasileira. Combinados aos aviões de ataque leve, A-1, o Brasil superaria a defasagem da aviação de caça de primeira linha ao apoiar suas forças terrestres. Além disso, os helicópteros Mil Mi-35 (AH-2 Sabre) poderiam oferecer suporte extra aos soldados brasileiros.
O senão, é a capacidade venezuelana de responder as ações brasileira pelo ar. As baterias anti-aéreas S-300, estão entre as mais eficientes do mundo, assim como mesmo com número limitados, os caças venezuelanos possuem capacidade de defender as fronteiras sem grandes dificuldades.
A situação venezuelana so não permite uma hipotética invasão ao Brasil, já que envolveria uma complexa logística para manter extensas cadeias de suprimento e de suporte. Os caças Su-30MK2V possuem raio de ação de 1.500 km, o que permite decolar das duas principais bases venezuelanas e atingir alvos em Boa Vista e virtualmente atacar Manaus. Todavia, um ataque desses seria bastante limitado, pela falta de armamentos disponíveis e ao risco de perder os aviões em combate sobre território brasileiro. “Na realidade militar a Venezuela não dispõe de nenhum alvo primário no Brasil”, avalia Goldfein. “As baixas seriam civis, algo inaceitável na guerra moderna, o que dificulta a Venezuela desestabilizar militarmente e industrialmente o Brasil. Isso não impede que o governo Maduro pare de fornecer eletricidade para Roraima. Hoje sua maior arma”.
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Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 25/02/2019, às 00h00 - Atualizado às 13h35
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