Consagrado na aviação militar, o mecanismo será aplicado pela primeira vez em uma aeronave comercial
O novo avião da Boeing terá as pontas das asas dobráveis. Foi a maneira que o fabricante norte-americano encontrou projetar um jato maior do que os atuais 777 sem comprometer sua operação em solo. É que, para alongar o charuto desta segunda geração do família triplo sete, os engenheiros tiveram de aumentar a envergadura do avião, ou seja, a distância entre uma extremidade e outra das asas, o que o tornaria incompatível com alguns dos principais aeroportos internacionais ao redor do mundo se não fosse pelo novo dispositivo. Em outras palavras, fará todo o táxi com as asas dobradas, por uma questão de espaço.
A decisão de desenvolver os novos 777X nasceu da concorrência com o Airbus A350 XWB. Por duas décadas, o Boeing 777 tem sido sinônimo de avião de longo curso com elevada capacidade. Seu lançamento em 1995 mudou o curso da aviação, especialmente após a chegada do 777-300ER, em 2004. Desde então, as principais empresas aéreas do mundo passaram a voar com o enorme bimotor da Boeing, aposentando a maior parte dos veteranos Boeing 747-400, que possuem capacidade ligeiramente superior, mas com custos até 40% maiores. O mesmo aconteceu com os quadrimotores Airbus A340, economicamente pouco competitivos diante do 777-300ER.
O surgimento do Airbus A350 XWB mudou essa história. O rival europeu demonstrou ter características similares às do do Triple Seven, mas com custos mais atraentes, o que levou a Boeing a trabalhar numa segunda geração de seu best-seller. Nesse cenário, nasceu o 777X, composto por dois membros, o 777-8 e o 777-9, este último com maior capacidade e alcance.
Como nos porta-aviões
Para atender aos requisitos dos principais clientes do 777-9, em especial os da Emirates Airline, a Boeing teve de alongar a fuselagem em quase 3 m em relação a série -300, passando para 76,5 m de comprimento. A maior mudança, porém, se deu na envergadura: a distância entre uma ponta e outra da asa passou para 71,8 m. O problema é que a Boeing pretende manter o novo avião dentro da mesma categoria dos atuais 777-300ER e as novas asas limitariam o emprego do novo avião em diversos aeroportos que a geração atual voa. Ao mesmo tempo, asas menores reduziriam o alcance.
Para poder atender aos requisitos operacionais de alcance e operação, a Boeing retomou um antigo plano, criado justamente para o 777, ainda na década de 1990, as pontas das asas dobráveis. O principio é similar ao utilizado em aviões que operam em porta-aviões, onde o espaço é importante e as asas são dobradas para poupar preciosos metros. No caso do 777-9, as asas passam de 71,8 m para 64,8 m, exatamente o mesmo tamanho das asas do 777-300ER. O dispositivo será o primeiro de seu tipo a entrar em serviço em qualquer avião comercial.
Táxi com asa dobrada
O princípio de funcionamento é simples. Um sistema atuador instalado nas asas deverá dobrar as pontas quando a aeronave reduzir a velocidade após o pouso. Também voltará à posição normal quando a tripulação concluir os checks pré-decolagem. A Boeing não confirmou se o sistema será completamente automático ou dependerá da atuação dos pilotos.
Os engenheiros também estão trabalhando numa série de mudanças relacionadas ao projeto e funcionamento das asas, como reposicionamento dos motores, que serão ligeiramente menores do que os atuais, mudanças no perfil aerodinâmico, entre outros.
A Boeing completou recentemente os testes de componentes de vários elementos do sistema, incluindo o pino de travamento, para garantir que possui as características de desgaste corretas. Os engenheiros trabalham em dois protótipos das asas, uma apenas a seção funcional, com a seção que efetivamente será sobrada, enquanto a segunda é a asa completa.
Sabe-se que o sistema é bastante seguro. Os técnicos dizem que, se a ponta da asa se dobrar em voo, haverá apenas um prejuízo ao desempenho do avião em voo, sem comprometer a segurança.
Edmundo Ubiratan
Publicado em 17/02/2016, às 15h00 - Atualizado às 18h21
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