Revisão no programa Artemis e incertezas na continuidade de missões da NASA aumentam a pressão na unidade espacial da Boeing
A Boeing, que enfrenta há vários anos uma grave crise interna, poderá realizar um de seus mais drásticos cortes na história recente, com a demissão de aproximadamente 400 funcionários ligados à sua divisão espacial.
O conturbado programa Artemis, que promete retomar as viagens para a Lua até o final da década, poderá sofrer uma grande mudança na gestão do atual presidente, Donald Trump, que avalia usar o sistema de lançamento comercial da SpaceX, alterando o projeto original de uma solução própria da NASA.
A Artemis originalmente utilizaria como lançador o foguete do programa Space Launch System (SLS), no qual a Boeing é a principal contratada, sendo responsável pelo estágio principal e superior.
Com atrasos consideráveis e constantes revisões no calendário, a NASA planeja lançar a missão Artemis II, a primeira viagem tripulada que contornará a Lua, em meados de 2027. O SLS foi o foguete responsável pela missão primária, a Artemis I, que, embora não tripulada, validou os parâmetros e sistemas da missão.
Todavia, o programa enfrenta custos crescentes e um calendário indefinido, somados à baixa popularidade de gastos com missões espaciais e aos problemas constantes nos projetos da Boeing. Recentemente, a nave Starliner, que acumulava vários anos de atrasos, sofreu uma falha grave em sua primeira missão tripulada à Estação Espacial Internacional, deixando no espaço dois astronautas e voltando para a Terra vazia.
Apenas o projeto Starliner gerou para a Boeing perdas superiores a US$ 2 bilhões e não tem perspectivas de se tornar rentável no curto prazo. Não há sequer certeza sobre a continuidade do contrato com a NASA.
O CEO da Shift4 Payments, Jared Isaacman, escolhido por Trump para liderar a NASA e aliado de Elon Musk, classificou o SLS como "escandalosamente caro", aumentando a pressão por uma revisão no programa espacial. Em uma recente investigação da NASA, o trabalho da Boeing no Bloco 1B do SLS contribuiu para um estouro de custos no programa de US$ 700 milhões. Ainda assim, classificou o foguete como essencial para a missão Artemis.
Segundo fontes da NASA consultadas por AERO Magazine, sob condição de anonimato, a mudança do lançador agregaria novos atrasos ao programa Artemis, assim como aumentaria os riscos e significaria gastos bilionários em um foguete que não passou de um lançamento. Por outro lado, a SpaceX tem realizado progressivos lançamentos seguros e de baixo custo, com foguetes que poderiam ser configurados para transportar a Artemis II até a órbita da Lua.
Embora não exista nenhum plano oficial para descartar o SLS, a NASA emitiu um comunicado afirmando que trabalha junto de seus parceiros da indústria “para avaliar e alinhar orçamento, recursos, desempenho do contratado e cronogramas para executar os requisitos da missão de forma eficiente, segura e bem-sucedida”.
Embora o programa Artemis tenha sido criado na primeira gestão Trump, com o objetivo de levar a humanidade de volta à Lua e, na sequência, a Marte, o projeto acumula mudanças de conceito e finalidade há mais de duas décadas. Durante o mandato de George W. Bush, a NASA avaliava uma missão similar à Apollo, que foi abandonada por Barack Obama, o qual cancelou o projeto e investiu em resolver a questão das viagens tripuladas na órbita baixa, sobretudo com parceiros comerciais, como a Boeing e a SpaceX.
Elon Musk, que recentemente assumiu o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), criado em janeiro por meio de ordem executiva visando cortar custos e melhorar a eficiência em todo o governo, declarou ser favorável a uma revisão de custos e objetivos da Artemis. Em janeiro, afirmou que a ida à Lua é uma distração e prometeu viabilizar que os Estados Unidos levem os primeiros astronautas até Marte.
Especialistas de mercado não descartam que a Boeing possa vender toda a sua divisão ligada ao espaço, incluindo a Starliner e o foguete SLS, focando seus negócios no setor aeronáutico e abandonando o espacial.
Redação
Publicado em 12/02/2025, às 18h00
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