Rússia deixa o tratado de céus abertos e eleva tensões com os EUA

Acusações mútuas marcaram os últimos meses do tratado que permitia monitorar movimentos militares de ambos os países

Por Edmundo Ubiratan Publicado em 08/06/2021, às 14h00 - Atualizado em 09/06/2021, às 14h25

Rússia utilizava o Tu-214ON nas missões de observação em territórios dos Estados Unidos

O presidente da Rússia, Vladimir Putin oficializou a saída do país do tratado de céus abertos (Open Skies Treaty) após o projeto ser aprovado pelo Parlamento. O acordo de vigilância criado em 1992 permitia aos Estados Unidos e a Rússia monitorarem mutuamente os movimentos e instalações militares estratégicas.

Com o uso de aeronaves de vigilância os dois países passaram monitorar constantemente regiões estratégicas, avaliando o cumprimento de acordos de redução dos arsenais estratégicos. Ainda que 34 nações tenham assinado o tratado, que entrou oficialmente em vigor em 2002, os maiores interessados eram os Estados Unidos e a Rússia.

A ideia era permitir que os países vigiassem uns aos outros abertamente, evitado assim tensões militares desnecessárias ou especulativas. Porém, desde o início do acordo uma série de desconfianças tomaram conta do ambiente de vigilância, com o governo Donald Trump se retirando do tratado em 22 de novembro de 2020, após acusar reiteradamente a Rússia de violações repetidas ao pacto.

O governo russo afirmou que os norte-americano usaram um pretexto artificial para deixar o Tratado de Céus Abertos, passando a comprometer a segurança interna e os interesses da Rússia.

Entre as alegações dos Estados Unidos estava o fato de Moscou se recusar ao longo dos anos em a aplicar o tratado aos territórios georgianos da Abcásia e da Ossétia do Sul. Já o governo russo afirma que ambos territórios são, para este caso, países independentes e, portanto, fora da jurisdição de qualquer tratado.

Além disso, os norte-americanos também criticaram a exigência de um tempo limite de voo sobre o enclave de Kaliningrado, localizado na região central da Europa, que é visto como um posto militar avançado. Já a resposta russa afirma que o limite tinha como objetivo apenas evitar atrapalhar o fluxo de voos comerciais que cruzam o diminuto espaço aéreo do enclave.

Com o fim do acordo a Rússia deverá notificar os outros depositários, no caso o Canadá e a Hungria. Porém, haverá um prazo de até seis meses para o processo ser revertido, mas dependerá de uma nova rodada de negociações entre os dois maiores interessados na manutenção do acordo de céus abertos.

O governo Biden, que fez sua campanha acusando a Rússia de uma série de violações, não deu sinais de qualquer interesse de aderir novamente ao tratado. No último dia 27 de maio, um porta-voz do Departamento de Estado afirmou que “[os Estados Unidos] não pretendem voltar a aderir a ele [acordo de céus abertos] dado o fracasso da Rússia em tomar quaisquer ações para seu cumprimento”.

Estados Unidos deverão aposentar formalmente os dois OC-135B utilizados no tratado de céus abertos

Os dois aviões da força aérea dos Estados Unidos (Usaf) OC-135B, destinados exclusivamente as missões do Open Skies Treaty, foram retirados de serviço e deverão ser enviados ao 309ª Grupo de Regeneração e Manutenção Aeroespacial (AMARG, na sigla em inglês). A famosa base no Arizona reúne grande parte das aeronaves norte-americanas retiradas de serviço e com poucas chances de voltarem as operações regulares no curto ou médio prazo.

A atitude mostra que, por ora, Washington e Moscou estão longe de voltar a negociar um tratado que permita a manutenção da vigilância militar mútua.

aeronave notícias de aviação avião aviação Boeing EUA Rússia Tupolev Biden Putin Tu-214ON OC-135B Open Skies Treaty