Por que a Embraer encerrou sua produção de aviões na China?

Após encerrar produção na China, Embraer reforça atuação e mira novos contratos no país

Por Gabriel Benevides Publicado em 16/04/2025, às 13h28

Com mercado de 1.500 jatos em vista, Embraer tenta recuperar presença na aviação chinesa - Embraer

A Embraer operou, entre 2003 e 2016, uma linha de produção na China por meio de uma joint venture com a estatal AVIC (Aviation Industry Corporation of China). A parceria resultou na criação da Harbin Embraer Aircraft Industry Company (HEAI), voltada à fabricação local dos jatos regionais ERJ-145 e dos modelos executivos Legacy 600 e 650.

O acordo foi firmado no início dos anos 2000, em um contexto de fortalecimento das relações comerciais entre Brasil e China. A Embraer havia inaugurado um escritório de negócios no país em 2000 e, posteriormente, avançou com a produção em território chinês visando consolidar sua presença no mercado e, futuramente, viabilizar exportações da família E-Jet.

No entanto, o projeto enfrentou desafios logísticos e comerciais. A produção local se mostrou mais onerosa do que no Brasil, impactada por tarifas de importação e carga tributária elevada. A partir de 2008, o avanço da indústria aeronáutica chinesa, com investimentos em programas próprios como o ARJ21 (atual COMAC C909) e o C919, reduziu o interesse por parcerias com fabricantes estrangeiros.

Com demanda abaixo do esperado e mudanças na estratégia do mercado chinês, a joint venture foi encerrada em 2016, após a entrega do último Legacy 650. Ao todo, foram produzidas cerca de 40 aeronaves ao longo de 13 anos de operação.

Presença contínua no mercado chinês

Apesar do fim da linha de montagem, a Embraer mantém presença ativa na China. Mais de 80 jatos da fabricante já operaram no país, e, em março de 2025, a empresa reforçou sua atuação ao nomear Patrick Peng como Diretor-Geral e Vice-Presidente Sênior de Vendas e Marketing da Embraer Aviação Comercial na China.

A empresa também obteve, em 2023, a certificação dos modelos E190-E2 e E195-E2 no país, ampliando o potencial de vendas. Outro foco estratégico é a conversão de aeronaves comerciais em cargueiros, atendendo à crescente demanda do comércio eletrônico chinês.

Segundo projeções da própria Embraer, o mercado chinês deverá demandar cerca de 1.500 novas aeronaves com até 150 assentos até 2040. Com isso, a empresa busca expandir sua cadeia de suprimentos com parceiros locais e fortalecer sua presença comercial.

Geopolítica favorece retomada de negócios

O acirramento das tensões comerciais entre Estados Unidos e China também afeta o setor aeronáutico global e pode abrir espaço para uma reaproximação entre Brasil e China no setor.

Nesta quarta-feira (16), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, fez um raro elogio público à indústria aeronáutica brasileira: “Gostaria de destacar que o Brasil é um importante país da aviação, e a China atribui grande importância à cooperação direta com o Brasil em vários campos, incluindo a aviação.”

O governo brasileiro tenta, há dois anos, viabilizar a venda de 20 jatos da Embraer para companhias aéreas chinesas, em uma nova tentativa de fortalecer os laços comerciais e reativar parcerias no setor.

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