Pilotos bateram boca em frequência da torre de controle de Buenos Aires
Por Martín Romero Publicado em 18/10/2022, às 12h05
Dois pilotos, um da Aerolíneas Argentinas e outro de um Learjet 60 (LV-CCO), bateram boca na frequência da torre de controle do aeroporto Jorge Newbery (AEP), em Buenos Aires, no último domingo (16).
O comandante do Learjet pediu prioridade para pouso por estar transportando um paciente que estava sendo transferido de unidade médica e pediu ao controle da Ezeiza Centro (SAEF) para reduzir a velocidade na descida para não afetá-lo.
A caminho do mesmo destino, havia um Boeing 737 da Aerolíneas Argentinas, que ainda estava na sequência de descida e aproximação, que foi solicitada a reduzir sua velocidade por separação com o tráfego que a precedeu e evitar conflitos.
Esta indicação do controlador não foi bem aceita no cockpit, que por todos os meios procurou pousar à frente do Learjet 60. O controlador negou qualquer possibilidade de ultrapassagem, uma vez que o Learjet estava em situação especial, o que lhe dá prioridade em todos os tipos de procedimento.
Conversa da frequência SAEF:
Controlador: Copiado, perfeito;
LV-CCO: se você precisar de mais (velocidade) nós apressamos, mas para o paciente queremos retardá-lo.
Controlador: Que velocidade você manteria em sua descida?
LV-CCO: Estamos agora em Mach 0,80 e desceremos para 0,60.
Controlador: Copiado.
Controlador: (Para o avião da Aerolíneas) Você poderia manter (Mach) 0,74 em sua descida?
Aerolíneas: E se eu for mais rápido que o outro trânsito(Learjet)?
Controlador: Negativo, chega depois por que o outro trânsito é uma prioridade?
Aerolíneas: Bem... precisam de 74, então?
Controlador: Afirmativo, é manter o espaçamento com o outro trânsito;
Aerolíneas: e... em qualquer caso podemos voar para VANAR então, então nos separamos do tráfego?
Controlador: Eu o coordeno (com o TMA Baires), CCO entrar em contato com a Baires;
LV-CCO: Agradeço senhor e peço desculpas por isso que está acontecendo com você com a pressa da Aerolíneas;
Controlador: Sem problemas, é uma coisa do dia-a-dia.
LV-CCO: É assim que essas crianças são...
Aerolíneas: De todos os dias, os (aviões) lentos de todos os dias, estamos atrás dos lentos;
Conversação na frequência TMA Baires:
Controlador: CCO para (Mach) 050;
LV-CCO: 050 obrigado;
Aerolíneas: Vem falar isso na minha cara, moleque do CCO!
LV-CCO: Olha, eu sou capitão e você é um *** e se (transmissão irreconhecível), vou f*** você com socos!
Aerolíneas: Vou te esperar lá na esquina;
LV-CCO: Sem problema! Lá vou eu te encontrar. Você é um imbecil!
A gravidade do fato não são apenas as queixas na frequência, mas o uso indevido dele por ambos os pilotos, que passaram 27 segundos trocando insultos em frequência aberta. Cada segundo que a frequência é ocupada pode ser de vital importância para outra aeronave ou para algum indício de urgência que o controlador precisa ditar.
Infelizmente, temos que falar sobre a falta de profissionalismo por parte de ambas as equipes, sem mencionar que a fraseologia aeronáutica não é usada em nenhum momento. Em nenhum momento, a tripulação do voo da Aerolíneas Argentinas usou a callsign (Argentinas + número de voo), assim como o Learjet 60, e o controlador de tráfego ao se dirigir à aeronave da Aerolíneas também não distingue o número do voo.
A fraseologia oficial requer que o controlador da ordem com o sinal de chamada (callsign) da aeronave a que ele se reporta, para diferenciá-la dos outros e impedir que outras tripulações confundissem as indicações. Por exemplo, na Europa, por haver um grande número de voos por dia, os números dos mesmos podem ser repetidos em diferentes companhias aéreas, é por isso que o número de voo para o passageiro é diferente do número indicativo, por exemplo: Speedbird (British Airways) 1234 é o voo de Londres para Barcelona, mas para evitar confusão o indicativo do referido voo para o controle aéreo será Speedbird 43TS. Um indicativo aleatório que será mais difícil de confundir com um semelhante.
É um risco para a segurança da aviação que a fraseologia não seja usada corretamente, de acordo com as normas internacionais. É este ponto que se faz um profissional.