Pilot Flying e Pilot Monitoring: o que é e qual a importância das funções a bordo

Federação Internacional de Pilotos incentiva o foco de treinamentos do papel de Pilot Monitoring para aumentar a segurança dos voos

Por Micael Rocha Publicado em 26/09/2024, às 09h00

Segundo a Ifalpa, a função do Pilot Monitoring é especialmente importante para o aumento da consciência situacional durante todas as fases de voo - Divulgação

Para a realização de um voo seguro e eficaz, a correta e clara divisão de tarefas dentro de uma cabine de comando em uma aeronave faz com que a operação se torne mais simples e intuitiva, aumentando consideravelmente os níveis de consciência situacional em todas as fases do voo.

Em aeronaves cuja operação é do tipo dual pilot - ou seja, quando é compulsório a presença de dois pilotos no cockpit voando o avião -, o comandante do voo e o copiloto podem revezar na pilotagem da aeronave em uma dada etapa. Ou seja, mesmo sentado à esquerda, no tocante à assumir os comandos da máquina, o comandante poderá realizar as tarefas do primeiro oficial e vice-versa.

Nesse momento, aquele que estiver efetivamente operando a aeronave dá-se o nome de “Pilot Flying” - PF, enquanto o outro colega assume a função de “Pilot Monitoring” - PM. A International Federation of Air Line Pilots Associations (Ifalpa) sublinha a relevância dos papéis de Pilot Flying e Pilot Monitoring em operações de voo.

A organização internacional de pilotos diz que, apesar de a indústria da aviação ter estabelecido definições claras para essas funções, há a necessidade de reforçar qual o foco nas tarefas de monitoramento associadas a ambos tripulantes, durante todas as fases de voo.

A função de Pilot Monitoring é vista pela associação como fundamental para a segurança e eficiência operacional, uma vez que a ele é delegado diversas responsabilidades, tais como aumentar a consciência situacional através de observância das ações tomadas pelo colega, verificar possíveis erros, gerenciar a comunicação e apoiar o processo de tomada de decisões. 

O papel de “piloto de monitoramento” requer que ambos observem, interpretem e compreendam as informações relevantes de voo, adaptem-se a mudanças, comunique desvios e intervenha sempre que necessário. Segundo a Ifalpa, essa vigilância é a base para a segurança das operações aéreas.

Neste contexto, a associação destacou diversos exemplos e processos que visam oferecer aos tripulantes técnicos tópicos que possam aumentar o nível de percepção das atividades que são recomendadas pelos PF e PM durante o exercício de suas atribuições. Neste tópico especificamente, destacamos quatro desses exemplos. 

Exemplos práticos de atribuições do Pilot Monitoring

Gestão de recursos de atenção

Nesse tipo de treinamento, o instrutor pode facilitar o gerenciamento da atenção do Pilot Flying (PF) ajustando o nível de automação e escolhendo os trechos de voo a serem comandados.

Para o Pilot Monitoring (PM), a complexidade dos aeroportos selecionados também influencia o nível de atenção exigido. Atenção ao alinhamento na pista correta, taxiamento pelas pistas de táxi conforme instruídos pelo ATC e identificação dos hotspots de aeroportos com várias pistas são algumas situações onde o monitoramento das ações do Pilot Flying ficam mais evidentes.

Esse gerenciamento adequado dos recursos de atenção é importante para que ambos tripulantes adquiram e desenvolvam suas habilidades em situações de diferentes níveis de complexidade operacional.

Gerenciamento da percepção de ameaças 

Durante um briefing para um pouso com vento cruzado forte e variável, uma possível ameaça pode ser a mudança desse vento para uma componente de cauda que exceda os limites da aeronave (tailwind landing). Para mitigar esse risco, o Pilot Monitoring deve prestar atenção extra à componente de cauda e anunciar imediatamente (através de callouts) se o limite desse componente for ultrapassado.

Essa antecipação e o monitoramento contínuo durante a aproximação ajudam para que decisões sejam tomadas antes que a aeronave entre em uma situação insegura, conforme os parâmetros estabelecidos pelos SOP (Standard Operating Procedure) da empresa e/ou da aeronave.

Feedback constante e monitoramento: variações meteorológicas em rota como ameaça

Uma ameaça meteorológica que pode não ter sido identificada durante o briefing, como variações de vento abruptas ou sistema de baixa pressão, pode influenciar o voo e até mesmo inviabilizar o pouso no destino. Para se minimizar este risco, as condições em rota devem ser gerenciadas com estratégias específicas. 

Nesse caso, o Pilot Monitoring é instruído a observar o display de navegação (PFD) e informar imediatamente se a velocidade ou direção do vento ultrapassar o valor máximo acordado, alterações barométricas ou mesmo a presença de nuvens convectivas intensas, com o uso do radar meteorológico.

O crosscheck com a navegação despachada pelo Despachante Operacional de Voo (DOV) também colaboram para a elevação do nível de atenção durante o voo.

Debriefing sobre a degradação da consciência situacional

Outra proposta para elevar o nível de consciência situacional se dá através de eventos inesperados. Um treinamento proposto (e já realizado) poderá ser feito durante uma aproximação com vento de cauda e formação de gelo nas asas, onde o Pilot Flying ativa o sistema de proteção contra gelo, resultando em uma desaceleração e rampa diferente do esperado. Assim, a aeronave não atinge os critérios de aproximação estabilizada, levando a uma arremetida. 

Em um dos treinamentos já realizados com esse tipo de cenário, no momento do debriefing, ficou claro que o Pilot Monitoring percebeu a perda de energia e aumento da razão de descida, mas não comunicou o Pilot Flying a tempo de evitar a arremetida. A análise pós-voo destacou a necessidade de uma comunicação clara e oportuna através de callouts entre os pilotos em condições críticas, conforme estipulado pelas boas práticas em prol da segurança durante as fases críticas do voo.

Segundo associação de pilotos, a presença do Pilot Monitoring é essencial para a segurança de voo

 

Tais exemplos reforçam a importância da gestão atencional e da percepção de ameaças no treinamento de pilotos, conforme regulamentado pela legislação aeronáutica. O foco no gerenciamento eficaz de recursos, na comunicação precisa e nas estratégias de mitigação de erros operacionais e, em especial, nas definições claras das atividades e funções do Pilot Flying e do Pilot Monitoring, asseguram uma condução mais segura das operações dentro do cockpit das aeronaves multi-crew.  

consciência situacional Pilot Monitoring Ifalpa piloto de monitoramento nternational Federation of Air Line Pilots Associations Pilot Flying

Leia também

United Airlines abre novo centro de treinamento para comissários
Emirates, IATA e Airbus lançaram programa de treinamento para o A350