Nova taxa do clima pode encarecer viagens no mundo todo e inviabilizar o transporte aéreo

IATA critica proposta de taxa global sobre transporte aéreo, alerta para riscos econômicos e defende investimentos em combustíveis sustentáveis

Por Marcel Cardoso Publicado em 07/07/2025, às 09h29

Taxa do clima ameaça a conectividade global e pode paralisar investimentos em combustíveis sustentáveis - Ministério dos Portos e Aeroportos

A Associação do Transporte Aéreo Internacional (IATA) manifestou forte oposição à proposta da Global Solidarity Levies Task Force (GSLTF), que pretende criar uma taxa sobre o transporte aéreo para financiar ações voltadas a mudanças climáticas, pandemias e outros desafios de desenvolvimento em países em desenvolvimento.

Segundo a IATA, a medida apresenta falhas estruturais e ameaça a sustentabilidade econômica e ambiental do setor aéreo. A entidade destaca que, embora a GSLTF estime arrecadar até €78 bilhões (R$ 498,4 bilhões) anuais com a cobrança sobre passageiros premium, o valor supera em três vezes o lucro global projetado para a aviação em 2024. O setor opera com margem de lucro média de apenas 3,4%, metade da média global de outros segmentos econômicos.

Desafios financeiros e climáticos

A IATA ressalta que as companhias aéreas estão comprometidas com a meta de emissão líquida zero de carbono até 2050, esforço que deve exigir investimentos de cerca de US$ 4,7 trilhões (R$ 25,6 trilhões) entre 2024 e 2050. Sobrecarregar o setor com novas taxas poderia comprometer a capacidade de investimento em soluções sustentáveis, como combustíveis de aviação sustentáveis (SAF), operações mais eficientes e tecnologias de redução de emissões.

“O setor aéreo é um catalisador econômico, não uma máquina de fazer dinheiro. Impor impostos três vezes maiores que o lucro anual do setor sem avaliar os efeitos colaterais é irresponsável”, afirmou Willie Walsh, diretor geral da IATA.

Proposta ameaça o Corsia

Outro ponto crítico é o risco de enfraquecimento do Corsia (Carbon Offsetting and Reduction Scheme for International Aviation), mecanismo globalmente acordado para gerenciar as emissões da aviação internacional. A criação de uma taxa paralela, como propõe a GSLTF, poderia fragmentar a política climática global, gerando ineficiências e sobreposição de esforços.

A IATA alerta ainda para a ausência de uma avaliação sobre o impacto econômico da taxa para viajantes e para as economias dos países que receberiam os fundos. Segundo a entidade, onerar os passageiros premium afetaria a dinâmica das rotas e a conectividade global, prejudicando comunidades remotas e setores econômicos dependentes do transporte aéreo.

Pesquisa revela rejeição à tributação de viagens aéreas

Uma pesquisa global conduzida pela Savanta em 15 países, a pedido da IATA, revelou amplo ceticismo público em relação à tributação de viagens aéreas:

Apenas 9% apoiam impostos como forma de compensação de carbono, enquanto soluções como SAF (25%) e investimentos em tecnologias de redução de emissões (23%) aparecem como preferências.

“A última coisa de que o setor precisa é de um golpe de US$ 90 bilhões em taxas. O apoio deveria ser voltado para investimentos em SAF, que permitirão à aviação conectar pessoas e negócios a oportunidades globais de maneira sustentável”, concluiu Walsh.

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