Promotoria alega que pilotos descumpriram procedimentos básicos durante o pouso
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 16/04/2020, às 00h00 - Atualizado às 15h35
Sukhoi Superjet 100 sofreu um grave incêndio segundos após o pouso de emergência
Onze meses após o grave acidente com o Sukhoi Superjet 100, que resultou na morte de 41 pessoas e deixou outras dez feridas, as autoridades russas divulgaram novas imagens do pouso frustrado. O vídeo e fotografias fazem parte do material utilizado durante a investigação pelo comitê de segurança da aviação da Rússia e da promotoria.
O acidente ocorreu em 9 de maio de 2019, no aeroporto de Sheremetyevo, nos arredores de Moscou, quando o voo 1492 da Aeroflot sofreu uma descarga elétrica logo após a decolagem. Ainda que a ocorrência de raios não cause grandes danos na aeronave, os pilotos reportaram uma falha elétrica, considerado usual neste tipo de evento e que nas condições do voo exigia que o pouso fosse realizado o mais breve possível. Pela proximidade com a pista os pilotos optaram por retornar ao aeroporto de origem.
O comandante Denis Evdokimov e o copiloto Maxim Kuznetsov informaram ao controle do aeroporto Sheremetyevo as condições do voo e que iriam fazer um pouso de emergência. A investigação mostrou que o comandante descumpriu uma série de procedimentos de voo, inclusive do manual da Aeroflot, realizando uma aproximação desestabilizada, com um ângulo de aproximação bastante íngreme. O pouso ocorreu acima dos limites do projeto do avião, ocasionando um bounced landing, com consequente hard landing e perda de controle da aeronave no solo. Com a violência do impacto a estrutura sofreu sérios danos, levando a um incêndio que consumiu praticamente toda a parte traseira da fuselagem.
Imagens utilizadas na investigação mostram estado geral do Superjet 100
Após a aeronave a tripulação levou 17 segundos para iniciar o procedimento de evacuação, com a abertura da porta principal dianteira direita e o acionamento da escorregadeira. Após mais 13 segundos foi aberta a porta no lado oposto do avião. As imagens divulgadas na época mostraram diversos passageiros desembarcando com a bagagem de mão e outros tentando fugir das chamas que tomavam conta da cabine. Um total de 37 passageiros e tripulantes escaparam com vida, sendo dez feridos, enquanto outras 41 pessoas perderam a vida.
Os investigadores afirmam que o comandante Evdokimov não cumpriu os procedimentos previstos e foi responsável pelo acidente, sendo formalmente acusado por negligência e ao crime equivalente ao homicídio culposo no Brasil. Caso seja condenado a pena poderá chegar aos sete anos de reclusão.
Acidente fatal deixou 41 mortos. Passageiros que conseguiram escapar evacuaram o avião levando bagagem de mão
A defesa dos pilotos alega que as equipes de emergência demoraram a responder ao acidente, assim como o controle do aeroporto de Sheremetyevo que teve uma resposta lenta em declarar a necessidade de socorro imediato. Além disso, apontam que a pane elétrica dificultou o controle do Superjet 100, que passou a não responder corretamente aos comandando dos tripulantes.
A promotoria afirma que não foram encontradas evidencias que corroborem que houve uma falha nos sistemas de controle do avião ou que as equipes de socorro demoraram mais do que o usual para atender a ocorrência. Por fim, também foi considerado como fator contribuinte as condições climáticas, mas sem ligação direta com o pouso malsucedido.
Logo após o acidente os investigadores descobriram que milhares de pilotos civis na Rússia podem não ter realizado o curso básico de pilotagem, comprando as carteiras em escolas fantasma. Apenas em 2007 foram mais de 550 licenças obtidas de maneira ilícita.