Combinação entre poder aéreo e oportunidades de desenvolvimento alçarão o país a um novo patamar estratégico
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 25/09/2020, às 09h00 - Atualizado em 26/09/2020, às 19h15
Imagem mostra o primeiro Gripen E brasileiro voando em ala com um dos F-5 da FAB
A escolha do Gripen E permitiu ao Brasil, pela primeira vez em sua história, definir e participar do projeto de um caça supersônico, elevando não apenas a capacidade operacional da FAB como, também, o potencial tecnológico de toda a indústria aeroespacial brasileira.
Além de competente fabricante de aviões comerciais, em breve, o país ganhará respeito no cenário geopolítico do século 21, mesmo permanecendo distante do poderio das grandes potências. Tais fatores, porém, não ficam claros de imediato. Logo após o anúncio da vitória do Gripen NG, muitos questionaram a aquisição de uma versão ainda em desenvolvimento, o que poderia ser um erro estratégico enquanto outros defenderam a decisão justamente pelo fato de o novo caça ainda ser um protótipo, que não é uma situação inédita.
Na década de 1980 o Brasil seguiu um caminho similar ao participar do programa AMX, desenvolvido pela Itália. Na ocasião a Embraer se tornou parceria das fabricantes Alenia e Aermacchi, passando a desenvolver em parceria parte do futuro avião de ataque ítalo-brasileiro. Os ganhos obtidos permitiram a Embraer dar um salto tecnológico, em especial quanto ao domínio dos processos de projeto de uma aeronave de alta performance.
A Saab garante que “o Gripen NG é uma plataforma de baixo risco, acompanhada de um programa já custeado de desenvolvimento contínuo e melhorias garantidas”. Há razões estratégicas por trás dessa afirmação. Diante dos custos proibitivos dos caças atuais, a presença de um parceiro é fundamental para a Suécia se manter competitiva e militarmente independente. Aliás, o pequeno país escandinavo mantém quase completa independência militar, visto considerar estratégico para sua sobrevivência ter a capacidade de se defender de ameaças externas.
Imagens mostram o voo de translado do Gripen E entre Navegantes, em Santa Catarina, e a unidade da Saab/Embraer
Em termo militares, o Gripen E atende perfeitamente às necessidades atuais da FAB e seu plano de renovação de longo prazo. Embora se questione o fato de o modelo ser monomotor, especialistas como o capitão-aviador Gustavo lembram que os antecessores do Gripen, o Mirage III e o Mirage 2000, ambos operados pelo GDA (Grupo de Defesa Aérea), também possuíam apenas um motor. “Sempre voamos com segurança os Mirage. Isso jamais foi um problema. No mais, o F-35, que é a mais nova arma dos norte-americanos, também tem um só motor”, compara o militar.
Em termos táticos, o Gripen E cumprirá a missão atual, que é proteger prioritariamente o espaço aéreo do Distrito Federal, podendo ser deslocado rapidamente para as demais regiões do país. O modelo deverá ter um raio de ação de até 1.300 km e raio máximo de traslado de 4.000 km. Para quem acha seu alcance insuficiente, oficiais da FAB argumentam que nenhum caça é acionado para cumprir missões tão longas. “Se uma ameaça estiver a 4.000 km de Anápolis, outro esquadrão será ativado. Não existe lógica em enviar alguém para uma área tão distante”, ressalva o capitão Gustavo.
Um dos motivos é o tempo necessário para interceptar um alvo a mais de 1.000 km. Caso o interceptador voe a Mach 2, levaria 30 minutos para alcançá-lo. “Nenhum avião voa nessa velocidade por tanto tempo. Não haveria combustível para completar a missão e, depois, regressar”, acrescenta o aviador da FAB. “Além disso, em meia hora uma força hostil já teria cumprido seus objetivos e atacado os alvos que consideraria importantes”.
Para atender às necessidades de defesa aérea, o Brasil deverá investir em uma frota capaz de atuar nas várias bases aéreas espalhadas pelo território nacional. O plano da FAB, caso consiga adquirir os 120 aviões planejados, será distribuir os aparelhos por diversas bases, diminuindo a vulnerabilidade, padronizando a frota e ampliando significativamente a capacidade de defesa.
* Texto base publicado originalmente na edição 236 de AERO Magazine