Parceria entre Geo e GIZ desenvolve primeira planta brasileira de SAF a partir de resíduos agrícolas
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 27/11/2025, às 13h00
Um projeto brasileiro apoiado por instituições da Alemanha foi incluído entre as prioridades do Novo PAC e prevê instalar a primeira planta industrial de combustível sustentável de aviação (SAF) do país a partir de resíduos agroindustriais.
O acordo reúne a Geo bio gas&carbon e a agência alemã GIZ, que aportará recursos, tecnologia e cooperação técnica para acelerar o desenvolvimento do modelo produtivo de SAF, consolidando uma parceria internacional voltada à expansão da produção de biocombustíveis avançados.
Um dos principais desafios para a expansão do SAF em larga escala envolve a complexidade tecnológica de produção, a ausência de regulamentação padronizada em nível global e os elevados custos associados à fabricação e à distribuição.
“[O projeto] traz também um potencial de aceleração de processos, como tornar as licenças mais factíveis dentro de um contexto de prioridade nacional”, avalia Isabela Bolonhesi, coordenadora de Regulatório e ESG da Geo.
A parceria prevê desenvolver em escala industrial um processo de conversão de resíduos agrícolas em biogás e, posteriormente, em SAF, utilizando carbono biogênico como matéria-prima. Trata-se do único projeto nacional baseado integralmente em resíduos agroindustriais, segundo a Geo bio gas&carbon.
A iniciativa integra o DeveloPPP: Produção de SAF a partir de Resíduos de Biomassa, iniciativa de cooperação internacional coordenada pelo Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) e financiada pelo Ministério da Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha.
A Geo prevê iniciar a produção em 2027 — mesmo ano em que o Brasil deverá adotar percentuais obrigatórios de SAF em voos domésticos, conforme o ProBioQAV. O investimento total é estimado em 7,8 milhões de euros, sendo 1,5 milhão aportado diretamente pelo governo alemão por meio da GIZ.
A planta piloto será instalada no interior de São Paulo, com apoio financeiro da Finep. A produção inicial deve atingir 350 litros por dia, ampliando para 750 litros após o scale up da fase experimental. Embora ainda distante do volume necessário para atender à demanda comercial, o projeto busca desenvolver tecnologia e capacidade operacional para avançar rumo a um modelo de produção em escala industrial, baseado no uso de resíduos de biomassa como fonte de carbono biogênico.
Quando atingir a escala comercial, a planta poderá atender tanto a demanda brasileira projetada pelo ProBioQAV quanto o mercado europeu regulado pelo ReFuelEU Aviation. A Geo já negocia contratos de off take para comercialização futura do combustível.
O governo alemão busca, com o projeto, estruturar cadeias de valor de biocombustíveis avançados no Brasil, desenvolver competências locais e ampliar a disponibilidade global de SAF em rotas consideradas sustentáveis. A GIZ também atuará na replicação do modelo por meio de novas plantas, no mapeamento de investidores e no fortalecimento de parcerias acadêmicas entre instituições brasileiras e alemãs.
Parte do programa prevê treinamento técnico, elaboração de guias regulatórios e apoio à certificação completa da cadeia — do tratamento de resíduos até a validação do SAF no Brasil. A Geo, que opera seis plantas de biogás nos estados de São Paulo e Paraná, considera o projeto uma plataforma para escalar a oferta de carbono biogênico no país.