Ainda diante da sua maior crise em um século, fabricante mantém carteira bilionária equivalente ao 29º PIB do mundo
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 30/10/2020, às 15h00 - Atualizado às 19h43
Mesmo com crise, carteira de pedidos da Boeing se fosse um país seria o 29º PIB do mundo, superando Israel
Mesmo diante dos desafios impostos pela covid-19, somado aos problemas internos em diversas áreas de atuação, a Boeing mantém uma carteira de pedidos total de US$ 393 bilhões no terceiro trimestre de 2020.
A Boeing registrou fluxo de caixa operacional de US$ 4,8 bilhões no terceiro trimestre, sentindo os feitos da pandemia e da interrupção dos voos com o 737 MAX.
Seguindo a orientação dos reguladores globais, a Boeing realizou ao longo dos últimos 18 meses uma série de progressos para a retomada segura das operações do 737 MAX, incluindo voos de validação e certificação rigorosos conduzidos pela Federal Aviation Administration dos EUA, Transport Canada e Agência de Segurança de Aviação da União Europeia.
A paralisação da família 737 MAX se tornou histórica ao superar um ano e meio de proibição global, sendo o maior período já registrado para um modelo de avião comercial a jato moderno. A expectativa inicial era retomar as operações em meados de julho do ano passado, com um novo prazo prevendo outubro de 2019. Atualmente a Boeing acredita que o seu principal produto será liberado para retomada dos voos em novembro, com início dos voos comercial ganhando força em janeiro de 2021.
“Apesar dos obstáculos de curto prazo, continuamos confiantes em nosso futuro de longo prazo e estamos focados em manter investimentos importantes em nosso negócio e nas ações significativas que estamos tomando para fortalecer nossa cultura de segurança, melhorar a transparência e recuperar a confiança", destacou Calhoun.
O Conselho Conjunto de Avaliação Operacional, composto por autoridades da aviação civil dos Estados Unidos, Canadá, Brasil e União Europeia, também realizou suas avaliações na atualização dos procedimentos de treinamento dos pilotos.
Aliás, em meados de 2017 a Anac foi a única agência de aviação a destacar a importância de um treinamento especial para o 737 MAX. Atualmente a Boeing já completou cerca de 1.400 voos de teste e verificação para a recertificação do 737 MAX, além de mais de 3.000 horas de voo dedicados a correção dos sistemas do avião.
A receita da Boeing até o terceiro trimestre foi de US$14,1 bilhões, com prejuízo por ação GAAP de US$ 0,79 e prejuízo por ação principal, não GAAP, de US$ 1,39, refletindo menor volume de entregas e serviços comerciais. O Fluxo de Caixa Livre é definido como Fluxo de Caixa Operacional GAAP, sem despesas de capital para adições de propriedades, plantas e equipamentos.
O fluxo de caixa operacional foi de US$ 4,8 bilhões no trimestre, refletindo o menor volume de entregas e serviços comerciais devido principalmente a pandemia, aliado ao cronograma de recebimentos e despesas.
O relatório ainda aponta que o caixa e os investimentos em títulos e valores mobiliários sofreram uma queda para US$ 27,1 bilhões, em comparação com US$ 32,4 bilhões no início do trimestre, principalmente devido a saídas de caixa operacional. A dívida foi da ordem de US$ 61,0 bilhões, ante US$ 61,4 bilhões no início do trimestre devido ao pagamento de dívidas a vencer.
"A pandemia global continuou a pressionar o nosso negócio neste trimestre, e estamos nos alinhando a essa nova realidade gerenciando de perto nossa liquidez e transformando nossa empresa para ser mais expressiva, resiliente e sustentável no longo prazo", afirmou Dave Calhoun, presidente e CEO da Boeing.
Boeing concluiu etapa de voos de testes para recertificação do 737 MAX, esperada para novembro
A situação da Boeing está relativamente sob controle graças ao amplo leque de serviços e áreas de atuação do fabricante, que atua em setores diversos, indo da aviação comercial a exploração espacial.
"Nosso portfólio diversificado, incluindo nossos serviços governamentais e programas de defesa e espacial, continuam a proporcionar alguma estabilidade para nós, enquanto nos adaptamos e reestruturamos para depois da pandemia”, explicou Calhoun.
Para se adaptar aos impactos da covid-19 e preparar o fabricante para o futuro, a Boeing continuou sua transformação de negócio em cinco áreas principais, incluindo infraestrutura, despesas gerais e estrutura organizacional, portfólio e mix de investimentos, integridade da cadeia de suprimentos e excelência operacional.
A Boeing foi forçada a redimensionar suas operações para se alinhar às novas realidades do mercado, incluindo a redução no quadro de funcionários e rescisões adicionais no terceiro trimestre.
Linha de produção do 787 Dreamliner será concentrada na Carolina do Sul, mudando estratégia industrial da Boeing
A divisão de avião comercial da Boeing entregou 28 aviões durante o trimestre, e a carteira de pedidos incluiu mais de 4.300 aviões avaliados em US$ 313 bilhões.
A receita da divisão de aviação comercial para o terceiro trimestre recuou para US$ 3,6 bilhões, refletindo o menor volume de entrega no período ocasionado pela pandemia e ainda aos problemas de qualidade de produção do 787 Dreamliner e retrabalho associado a correção de falhas. Além disso, os custos extras de produção do programa 737 subiram US$ 590 milhões, que somado ao menor volume de entregas no período ajudou a margem operacional do terceiro trimestre cair para 38,1 por cento.
Ainda no terceiro trimestre a Boeing adicionou a campanha de ensaios em voo o último protótipo previsto do programa 777X e decidiu que consolidar a produção do 787 Dreamliner na Carolina do Sul a partir de 2021. A mudança da linha de produção significa uma importante mudança na estrutura industrial, que ao longo de um século esteve concentrada na região de Seattle, no estado de Washington. Ainda assim, a mudança da linha de produção do 787 para a Carolina do Sul não teve um impacto financeiro significativo no programa no terceiro trimestre.
Compra do F-15EX pela USAF representa um alívio para o caixa da Boeing
Considerado um dos negócios estratégicos da Boeing, a receita do terceiro trimestre para Defesa, Espaço e Segurança recuou para US$ 6,8 bilhões, principalmente devido ao cronograma de concessão de aeronaves derivadas, parcialmente compensado pelo maior volume de caças. A carteira de pedidos foi de US$ 62 bilhões, dos quais 30 por cento representam pedidos de clientes internacionais.
A margem operacional do terceiro trimestre diminuiu para 9,2% refletindo um desempenho menos favorável, incluindo um encargo do KC-46A Tanker de US$ 67 milhões. O avião tanque derivado da família 767 sofreu uma série de problemas operacionais, obrigando uma revisão de projeto e reparo de diversas aeronaves.
Durante o trimestre, o segmento de Defesa, Espaço e Segurança recebeu uma concessão da força aérea dos Estados Unidos para oito aeronaves F-15EX e uma extensão do contrato da Nasa referente a Estação Espacial Internacional. No período ainda houve um novo contrato para nove helicópteros MH-47G Bloco II Chinook para o Exército norte-americano e quatro satélites702X adicionais.
A marinha dos Estados Unidos ainda introduziu o vigésimo F/A-18 no programa de modificação de Vida de Útil. Ainda foi registrada a entrega do primeiro V-22 Osprey para o Japão e o primeiro MH-47G BlocoII Chinook para as Operações Especiais do Exército norte-americano.