A Boeing adotou três motores no 727 buscando equilibrar desempenho, regulamentação e tecnologia em uma época de grandes desafios
Por Marcel Cardoso Publicado em 12/08/2025, às 09h33
Lançado nos Estados Unidos no início dos anos 1960, o Boeing 727 rompeu o padrão predominante da época, dominado por bimotores e quadrimotores. Com configuração trijato, o modelo atendeu simultaneamente a requisitos técnicos, regulatórios e operacionais impostos por três companhias lançadoras: United Airlines, American Airlines e Eastern Air Lines.
Embora o conceito trimotor não fosse inédito, sendo também desenvolvido pela Hawker Siddeley no Trident, de forma praticamente paralela – o primeiro voo de ambos ocorreu com uma diferença de exato 1 ano e 1 dia, ele oferecia algumas vantagens.
A United Airlines buscava desempenho confiável em aeroportos “quentes e altos”, como Denver. A American Airlines priorizava a eficiência de um bimotor. Já a Eastern Air Lines exigia um terceiro motor para cumprir regulamentações sobre voos sobre o mar, que restringiam bimotores a trajetos a menos de sessenta minutos de um aeroporto alternativo. O projeto resultante conciliou essas necessidades em uma única plataforma.
O 727 incorporou dois motores Pratt & Whitney JT8D instalados na fuselagem traseira e um terceiro motor no centro da fuselagem, com entrada na parte superior traseira, feita por um duto em “S” sob a cauda. Essa solução preservou a aerodinâmica das asas e evitou reforços estruturais pesados. O T-tail e os flaps triplos garantiram desempenho em pistas curtas, ampliando o alcance a mercados onde jatos como o 707 não operavam.
Entre os desafios do projeto estavam o acesso complexo ao motor central, alto nível de ruído e custos de adequação a normas ambientais mais rígidas. Apesar disso, o 727 superou a meta inicial de 200 unidades e tornou-se o avião mais vendido da Boeing até a chegada do 737. A configuração trijato foi posteriormente adotada por modelos como o Tupolev Tu-154, Lockheed L-1011 Tristar e posteriormente os Dassalt Falcon. A McDonnell Douglas apostou no trijato, mas com motor montado acima da fuselagem.
O 727 deixou o serviço de passageiros na maioria dos mercados nos anos 2000, substituído por bimotores mais econômicos e silenciosos. Seu legado permanece como exemplo de compromisso entre desempenho, regulamentação e viabilidade operacional, consolidando-se como um marco na engenharia aeronáutica.