Relatório do Cenipa revela falhas graves no controle aéreo que causaram colisão entre Boeing 737 MAX da Gol e veículo no Galeão, em fevereiro
Por Marcel Cardoso Publicado em 06/08/2025, às 09h21
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, Cenipa, divulgou ontem (5), o relatório final do acidente envolvendo um Boeing 737 MAX 8 da Gol Linhas Aéreas e um veículo de manutenção em uma das pistas do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, em 11 de fevereiro.
O órgão da Aeronáutica apontou falhas operacionais críticas e deficiências sistêmicas no controle de tráfego aéreo como causas determinantes para o acidente.
O voo G31674, com destino a Fortaleza, transportava 103 passageiros e seis tripulantes. Durante a corrida de decolagem na pista (RWY) 10, a aeronave atingiu um veículo parado no centro da pista, forçando a tripulação a interromper a decolagem bruscamente. Apesar do impacto, não houve feridos graves, mas tanto o avião quanto o carro sofreram danos significativos.
Segundo o relatório do Cenipa, o acidente foi causado por uma série de erros humanos e falhas organizacionais. O controlador de tráfego aéreo autorizou a decolagem sem verificar visualmente a pista, que já estava ocupada pelo veículo. A decisão ocorreu em um ambiente marcado por distrações, como uso de celulares, conversas paralelas e baixa carga de trabalho.
A supervisão também falhou. O responsável pelo monitoramento das operações estava utilizando o celular no momento do incidente e não impediu a autorização de decolagem. A cultura permissiva do grupo de trabalho, que tolerava condutas incompatíveis com a segurança operacional, foi considerada um fator contribuinte.
Além disso, o relatório destaca falhas na gestão da emergência. A ativação formal do plano de emergência do aeroporto ocorreu com atraso de mais de dois minutos após a colisão, tempo considerado excessivo. O supervisor não coordenou as ações e chegou a abandonar sua posição durante a crise.
Outro ponto crítico foi a comunicação inadequada entre torre e veículo. A fraseologia fora dos padrões comprometeu a compreensão da gravidade da situação pelos ocupantes do carro, que não perceberam a aproximação da aeronave a tempo de liberar a pista.
O Cenipa também criticou o não uso de headsets pelos controladores, prática obrigatória para garantir qualidade na comunicação e manter a consciência situacional. Além disso, foi registrada hesitação por parte dos controladores em revogar a autorização de decolagem, mesmo após se lembrarem da presença do veículo.
A investigação utilizou o modelo de James Reason para analisar falhas ativas e latentes no sistema. O relatório conclui que, embora o erro imediato tenha sido do controlador, as causas estruturais remontam a falhas recorrentes de supervisão, cultura organizacional deficiente e processos ineficazes de prevenção.
O caso evidencia a necessidade urgente de reformas nos protocolos de segurança e no ambiente de trabalho do controle de tráfego aéreo brasileiro. Entre as recomendações implícitas está a adoção rigorosa do conceito de “sala estéril” — que proíbe distrações como uso de celulares — e a melhoria na formação e supervisão dos profissionais envolvidos.