Lockheed Martin tem no modelo da Airbus uma carta na manga para competir no programa KC-Y da força aérea norte-americana
Por André Magalhães Publicado em 27/01/2022, às 16h55
Comprovações do A330 MRTT são um dos destaques do projeto LMXT | Foto: Lockheed Martin
Após a força aérea dos Estados Unidos (Usaf) descartar a compra da versão tanque do Airbus A330, em um processo polêmico, dando prioridade a nova proposta da Boeing, o avião poderá voltar a cena e desta vez sem passar nem mesmo por uma concorrência.
O novo parceiro do projeto baseado no A330 é a gigante norte-americana Lockheed Martin, que tem um novo programa que visa fornecer à Usaf um eficaz avião-tanque. O programa batizado de LMXT tem como plataforma básica o A330 MRTT, modelo que surgiu logo após o KC-45 ter sido cancelado pela força aérea norte-americana.
O A330 MRTT oferecido pela como LMXT no chamado programa KC-Z oferece recursos adicionais em relação ao modelo original, como capacidade extra para treze toneladas de combustível, elevando a carga máxima de querosene para 135 toneladas, para uso próprio e para transferência para aeronaves receptoras. Além disso, conta com recursos de enlace de dados e defesa criados para atender as exigências da força aérea dos EUA.
Um dos entraves do KC-45 em meados de 2010, época que era oferecido através de um consórcio entre a Airbus e a Northrop Grumman, era o fato de ser um avião europeu. Ainda que não seja incomum aeronaves militares estrangeiras nas forças militares dos Estados Unidos, em geral são modelos de menor complexidade e importância estratégica.
No slogan atual, o projeto é referido como “construído na américa para americanos”. O avião deverá ser construído no estado do Alabama, onde a Airbus já monta os A320neo e A220 destinados ao mercado interno dos EUA.
O projeto da empresa tem como foco o programa KC-Y, da Usaf, que irá complementar a frota dos Boeing KC-46 Pegasus, derivado do Boeing 767.
“Ouvimos os operadores da Força Aérea para obter informações sobre a entrega de um avião-tanque que não apenas atende às necessidades atuais, mas também tem flexibilidade para se adaptar aos requisitos de missões futuras”, disse Tony Frese, importante executivo da Lockheed Martin.
O avião, de acordo com a Lockheed Martin, já é certificado para reabastecer diversas aeronaves dos Estados Unidos, como: F-35A, F-22, F-16, F-15, A-10, B1-B, C-17, dentre outras.
De fato o LMXT poderia ser uma segundo opção para a Usaf, visto que o KC-46, apesar de novo e caro, continua enfrentando vários problemas técnicos. Além disso, o total adquirido não será suficiente para suprir a demanda projetada, especialmente com a aposentadoria integral dos atuais KC-135 e KC-10.
A Usaf tem um contrato firme para produção de trezes lotes do KC-46, totalizando 179 aviões. Na ocasião da assinatura do projeto havia a projeção que a maior capacidade dos novos jatos seria suficiente para compensar o menor número de aeronaves, visto que a frota de KC-135 supera as 400 unidades.
Além disso, o KC-46 dispõe de significativos recursos tecnológicos, como a capacidade de reabastecimento ar-ar (A3R) totalmente automático, sistema de visão e câmera avançado operacional e comprovado em combate.
Com as falhas do KC-46 e a demanda distante de ser atendida, a Usaf lançou em junho do ano passado o Programa Bridge Tanker, também conhecido como KC-Y. A proposta prevê a compra de até 160 aviões tanque derivados direto de um modelo comercial, não contando com nenhum desenvolvimento adicional.
Assim, por ora, competem diretamente pelo contrato os atuais KC-46, que já estão prontos e são derivados do Boeing 767, assim como o A330 MRTT. Qualquer adição de capacidade aos modelos não terá apoio financeiro da força aérea. Da mesma forma, não é previsto desenvolver um avião do zero. Acredita-se que a Boeing deverá oferecer um lote adicional de KC-46 no programa KC-Y.
O A330 MRTT já está presente em várias forças aéreas pelo mundo, inclusive a Força Aérea Brasileira (FAB) abriu nesta quinta-feira (27) uma licitação para a compra de dois Airbus A330 comerciais que deverão passar por um processo de modificação para o padrão militar.
Em meados de 2007 o Pentágono lançou a concorrência KC-X, que previa o desenvolvimento de uma avião tanque capaz de substituir os já envelhecidos KC-135. O projeto teve como finalistas o KC-45, proposta da Airbus (na época EADS) em parceria com a Northrop Grumman, oferecendo um modelo derivado do A330-200, e o Boeing KC-767, derivado direto do 767-200.
Dois anos mais tarde a proposta do KC-45 foi vencedora. Na sequência a Boeing e diversos congressistas questionaram a escolha, reabrindo a concorrência. O novo vencedor foi o KC-46, uma versão completamente nova do KC-767, que recebeu uma série de melhorias em relação a proposta original. Todavia, o avião passou a sofrer com uma série de falhas de projeto e de integração de sistemas, além de problemas na qualidade de produção.
Por fim, novos estudos da Usaf mostraram que o lote original, com menos de 200 aviões, não seria suficiente para atender a elevada demanda por transporte estratégio e de reabastecimento existente nas forças armadas dos Estados Unidos.
* Colaborou Edmundo Ubiratan