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Acidente com o 737 da Ethiopian abre questionamentos sobre processo de certificação

Problema grave em sensor e nos procedimentos adotados pela Boeing colocam em check indústria aeronáutica


Nas últimas semanas acompanhamos atônitos a divulgação do relatório preliminar do acidente da Ethiopian Airlines, onde ficou comprovado que o MCAS, do Boeing 737-8 MAX, foi fator contribuinte para o desfecho catastrófico do evento.

Logo após o evento escrevi que esse evento gerava uma questão sobre a confiança no processo, e de fato, essa é a grande questão. Como confiar em um processo que aprovou uma aeronave com um sistema que “briga” com o piloto?

A investigação preliminar revela que pouco mais de um minuto após a decolagem os pilotos começaram a lutar contra o sistema, veja o gráfico que foi publicado no Seattle Times e eu traduzi:

Reprodução: Seattle Times

A falha de um sensor desencadeou todo o problema. Pior, a solução inicial, desabilitar o brake não soluciona o problema, por que o avião pode estar tão rápido – como foi o caso do Ethiopian, que é fisicamente impossível comandar o profundor com os cabos manuais.

A certificação aeronáutica existe exatamente para evitar que situações como estas aconteçam. Uma aeronave de passageiros, do porte do Boeing 737, não pode ser produzida com um sistema com potencial falha catastrófica e sem redundância. Esse foi o caso. O problema de um único sensor causou a falha catastrófica de todo o sistema.

Além disso, no caso da falha de um componente do sistema, as ações de recuperação devem ser claras e efetivas para retomada do controle da aeronave, no caso, claramente não foram.

O fato é que, no 737 MAX os procedimentos de certificação não foram seguidos corretamente. Os testes não foram realizados da forma correta – se é que foram realizado, as verificações não foram completas e depois do acidente da Lion Air a solução que apresentaram não foi testada em todas as possibilidades. Isso que levou ao acidente da Ethiopian.

O Senado americano está discutindo uma “CPI” para averiguar as questões envolvendo o FAA (a agência reguladora da aviação civil dos Estados Unidos) e a certificação do Boeing 737. Além disso, houve a troca do administrador do FAA há poucas semanas, que segundo declarações oficiais, não tem relação com o ocorrido. Muitas perguntas ainda estão sem resposta e embora os fatores contribuintes diretos do acidente fiquem cada vez mais claros, questões mais importantes de ordem estratégica, precisam ser respondidas. A principal delas em relação aos processos de certificação dos produtos aeronáuticos, território de guerra comercial, com a interdependência cada vez maior das indústrias e dos governos.

Shailon Ian é formado pelo ITA como Engenheiro Aeronáutico, é CEO Vinci Aeronáutica.

Por Shailon Ian
Publicado em 15/04/2019, às 15h00 - Atualizado às 16h55


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