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Ficção vira realidade

Visão sintética, sistema infravermelho, telas <i>touchscreen</i>... novos painéis transformaram o <i>cockpit</i> dos grandes jatos corporativos em cenários que antes só existiam em videogames e obras de ficção


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Gulfstream tem em seus aviões o PlaneView, painel baseado no Primus Epic, da Honeywell, com sistema infravermelho
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A Bombardier acaba de entregar ao tricampeão de Fórmula 1, Niki Lauda, o primeiro Global 5000 equipado com o novo Vision Flight Deck. O sistema integrado à suíte de aviônicos Rockwell Collins Pro Line Fusion torna a família Global uma das primeiras a contar com o conceito de visão sintética exibida no HUD (Head-up Display). A nova tecnologia, batizada de HGS (Head-up Guidance System), aumenta a consciência situacional dos pilotos de forma significativa e explora ainda mais as vantagens do HUD. O sistema permite que o piloto tenha as principais de voo presente no mesmo campo de visão do horizonte, eliminando a necessidade da sincronia contínua entre observar os instrumentos instalados na cabine e olhar através da janela, crítica especialmente nas fases de pouso e decolagem. Com o incremento dos dados do Synthetic Vision no HUD, o piloto passa a contar não apenas com os dados de voo, mas também com importantes informações referentes ao terreno e a auxílios. O Vision Flight Deck, a exemplo de painéis de outros jatos executivos top de linha, representa mais um passo rumo à consolidação definitiva da tecnologia digital na aviação.


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As instrumentações de voo e motor são itens básicos na aviação desde sempre. Não por acaso, com o passar do tempo, os sistemas passaram a agregar informações, tornando-se cada vez mais complexos e imprescindíveis, e exigindo um número maior de pessoas na cabine e espaços cada vez mais amplos para sua instalação. Porém, com os avanços da eletrônica, os aviões passaram a contar com sistemas mais precisos que exigiam menor espaço e reuniam apenas os dados realmente importantes aos pilotos.

Com isso, as tripulações puderam ser reduzidas para um ou dois pilotos, já que parte do trabalho seria realizado pelos computadores de bordo. Além disso, as suítes de aviônicos passaram a exibir os dados em telas digitais, em substituição aos tradicionais mostradores analógicos. O advento do LCD (Liquid Cristal Display) aliado a computadores cada vez mais leves e poderosos permitiu que a indústria criasse sistemas antes vistos apenas como ficção científica.

A maior parte dos novos sistemas conta com arquitetura aberta e oferece a possibilidade de integrar funções e dados que ainda não foram desenvolvidos. Durante os últimos anos, os principais fabricantes têm investido no desenvolvimento de novos aviônicos, sendo que grande parte dos recursos são voltados em pesquisa com pilotos, que contribuem decisivamente no processo. Em uma parceria firmada entre a Honeywell Collins e a Gulfstream para criação de uma nova geração de aviônicos ficou claro que o uso excessivo de cores na tela causam distração, sendo convencionado que seriam utilizadas apenas cores básicas. Do mesmo modo, os estudos mostraram que um grande número de informações ou de ícones na tela causa distração. No entanto, a exibição do terreno, reproduzido de maneira sintética, aumentava a consciência situacional, assim como o uso de imagens de infravermelho.

A MAIOR PARTE DOS NOVOS SISTEMAS CONTA COM ARQUITETURA ABERTA E OFERECE A POSSIBILIDADE DE INTEGRAR FUNÇÕES E DADOS QUE AINDA NÃO FORAM DESENVOLVIDOS

Atualmente, a Gulfstream tem em seus aviões o PlaneView, painel baseado no Primus Epic, da Honeywell. O sistema apresenta vários novos recursos e funções, incluindo o Enhanced Vision System, o sistema de infravermelho da Gulfstream. A suíte conta com quatro telas LCD, de 14 polegadas, de alta resolução que podem ser configuradas para uma exibição em página inteira ou uma exibição 2/3 com 2 janelas 1/6 adicionais. O sistema exibe os instrumentos de voo principais, informações de navegação, exibições sinóticas e de sistema, além de informações do sistema de alerta EICAS (Engine Indicating and Crew Alerting System). O PlaneView também é integrado ao HUD, oferecendo o VGS (Visual Guidance System) e o EVS (Enhances Vision System) para operações visuais em condições de visibilidade reduzida, que são certificados para operações de aproximação de 100 pés AGL.

No MFD do PlaneView está o I-NAV, que exibe mapa de movimentação, informações geográficas, terreno, informações do aeroporto, auxílio à navegação e rotas e plano de voo, permitindo recursos de planejamento gráfico de voos e radiofonia com imagens de radar meteorológico. O XM Weather é uma função opcional, mas bastante útil, já que exibe as condições do tempo atualizadas continuamente com uplink XM, mostrando praticamente em tempo real imagens do sistema radar NEXRAD de alta resolução, ventos em altitude e imagens de satélite.

A plataforma Primus Epic também é utilizada pela Dassault Falcon Jet, que o batizou como EASy (Enhanced Avionics System). Embora seja baseado na mesma plataforma que o PlaneView, o EASy difere em alguns aspectos, especialmente na exibição dos dados, que foram personalizado para a família Falcon. O maior diferencial está no EASy II, que inseriu também visão sintética e o FANS-1/A (Future Air Navigation System), além do CPDLC (Controller Pilot Data Link Communications).

A Garmin oferece inúmeras opções de aviônicos, com destaque para a suíte G1000. Ele é composto por 10 LRU (Line Replaceable Units), que são módulos responsáveis por coletar, armazenar e processar diferentes dados para o sistema. Dentro do conceito LRU, os módulos foram concebidos de maneira modular, permitindo que o sistema seja utilizado em uma ampla gama de aeronaves, além de reduzir significativamente o tempo e o custo de manutenção. Com uma arquitetura flexível, o G1000 se tornou um grande sucesso no mercado, equipando de jatos executivos até pequenos monomotores a pistão. Embora tenha sido concebido para painéis com restrição de espaço físico, o sistema conta com telas de LDC em duas opções de tamanho, 10 ou 12 polegadas, que divididas entre PFD e MFD exibem basicamente todos os dados necessários.

Algumas versões do G1000, como a que equipa modelos da família Cirrus, podem ser instaladas em conjunto com o módulo GDL 69 ou GDL 69A, que oferece acesso à rede XW Weather. Assim, caso seja instalado com o opcional GSR 56, o sistema oferece acesso à rede de satélites Iridium. Uma das maiores novidades da Garmin, porém, é a suíte G5000, que foi concebia para a aviação executiva e conta com grandes inovaçõe. O G5000 também possui arquitetura aberta, permitindo ser instalado em diversos tipos de aviões. Um dos maiores destaques é a configuração dos softkeys para funcionarem por touchscreen. Com isso, os knobs mecânicos, os switches, os botões e os clutters foram removidos do painel. Além de criar um visual mais limpo, tornou o sistema mais leve. Porém, alguns pilotos vêem com ressalva o uso de sistemas touchscreen, já que ele poderá ser de difícil uso em caso de turbulência ou se a tela estiver demasiadamente suja.


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Abaixo, o painel EASy da Dassault Falcon, com datalink
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Embora alguns recursos sejam vistos com ressalta no início, após alguns anos são aceitos pela comunidade aeronáutica, muitas vezes se tornando equipamento básico. Um deles é o HUD, que, mesmo tendo sido empregado por várias décadas na aviação militar, enfrentava grande resistência no mercado civil, tendo sido inicialmente absorvido pela aviação executiva. Um dos primeiros fabricantes a disponibilizar o equipamento como opcional foi a Embraer, na família E- -Jet. Atualmente, o HUD é equipamento de série no Boeing 787, que ainda assim não apresenta dados de infravermelho ou visão sintética. Um dos destaques da avionica do 787, a propósito, é que ela reduziu significativamente o número de LRU utilizadas, tornando mais simples e rápido o sistema. O sucesso foi tão grande que a Rockwell Collins, a desenvolvedora primária dos sistemas, trabalha numa versão derivada para ser utilizada no programa espacial Orion.

As novas suítes de aviônicos deverão continuar acompanhando os progressos da informática, tornando-se mais modernas e incorporando recursos que antes só eram possíveis em videogames ou obras de ficção.

G5000 do Citation Latitude, que funciona por touchscreen.
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Por: Edumundo Ubiratan
Publicado em 21/05/2012, às 08h06 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45


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