Combustível caro, inflação e dólar valorizado podem comprometer a aviação comercial no Brasil
A Petrobras realizou na última sexta-feira (1) uma nova alta, de aproximadamente 18% no preço do querosene de aviação. O preço do combustível usado pela totalidade dos aviões comerciais do Brasil já acumulava elevação de 38% entre 1 de janeiro e 1 de março, ganhando agora novo reajuste para cima.
O reajuste ocorreu segundo a Petrobras pela pressão no preço internacional causado pela Guerra na Ucrânia. A estatal brasileira mantém a política de equiparação do preço dos combustíveis baseado na precificação internacional.
“Esses dados mostram como o preço do QAV é um desafio permanente para as empresas aéreas e comprovam que esse combustível deveria ter tratamento de política pública, pois antes da pandemia transportávamos mais de 100 milhões de passageiros por ano”, explicou Eduardo Sanovicz, presidente da Associação Brasileiras das Empresas Aéreas.
Atualmente o combustível é um o item de maior incidência nos custos de uma empresa aérea, correspondendo por mais de um terço dos custos do setor. Além disso, seu valor é indexado ao dólar, ampliando ainda mais o impacto nas contas das empresas aéreas e por fim, no valor do bilhete. “Agora, a guerra na Ucrânia acelerou a pressão sobre o valor do combustível, o que pode frear a retomada da operação aérea que estávamos observando a cada mês”, alertou Sanovicz.
O Brasil ainda sofre com a cobrança de um tributo adicional sobre os combustíveis, o ICMS, que amplia ainda mais o custo do insumo. Ainda que diversos estados tenham promovidos cortes no ICMS nas operações aéreas regulares, a maior parte do país o imposto adiciona em média 15% a mais no preço do querosene de aviação. A cobrança é única no mundo e afeta apenas empresas nacionais, visto que as estrangeiras estão isentas da cobrança. O ICMS é válido apenas para voos dentro do território brasileiro.
Outro entrave enfrentado pelas empresas aéreas nacionais é justamente a flutuação da moeda norte-americana, que embora tenha recuado para um patamar abaixo dos 5 reais, ainda representa quase o dobro do registrado em 2014, quando custava aproximadamente R$ 2,35.
O setor aéreo teme que a alta no preço do combustível possa comprometer o crescimento projetado. O Brasil se destacou por ser um dos países com mais rápida recuperação do transporte aéreo regular no mundo, mas a inflação, somada a alta dos preços do querosene e dólar super valorizado pode frear ou mesmo retroceder a curva de crescimento.
Por Edmundo Ubiratan
Publicado em 04/04/2022, às 13h31
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