Um passeio para conhecer de perto as mudanças no Aeroporto Internacional de São Paulo após a entrega do terceiro edifício de embarque pela GRU Airport
Por Robert Zwerdling, de Guarulhos Publicado em 25/06/2014, às 00h00 - Atualizado às 07h46
No final da madrugada do último dia 11 de maio, o Boeing 747-8I de matrícula D-ABYK pertencente à Lufthansa aterrissou em Guarulhos executando o voo LH 506, procedente de Frankfurt. A novidade naquele domingo foi a instrução dada pelo controlador do “Solo Guarulhos” à tripulação alemã, orientando o táxi da aeronave para estacionar no novíssimo Terminal 3. Os passageiros da Lufthansa logo sentiram a diferença na chegada, quando puderam se deslocar por saguões bem mais amplos do que os acanhados setores de desembarque internacional encontrados nos terminais mais antigos do aeroporto, estes inaugurados entre as décadas de 1980 e 1990. No novo edifício, não falta espaço na área de imigração e há sete esteiras na área de restituição de bagagem com área adequada para acomodar grande volume de passageiros nas horas de maior movimento. O aeroporto, aliás, passará a trabalhar com a leitura de códigos de barras, permitindo, assim, que se execute o serviço de manuseio de bagagem por esteiras com muito mais rapidez, como acontece nos grandes aeroportos de países mais desenvolvidos. É necessário, no entanto, aguardar as obras de adaptação nos terminais antigos, programadas para ter início nos próximos meses.
Na segunda-feira, um dia depois da inauguração, a mídia deu destaque ao atraso no serviço de entrega das malas dos passageiros do voo LH 506 sem mencionar que o contratempo se deu por falha da empresa de handling contratada pela companhia alemã. Uma emissora de televisão exibiu, ainda, a imagem de uma goteira no edifício recém-inaugurado. Sim, ainda há o que se fazer antes de o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (SP), estar definitivamente pronto, a despeito de melhorias contínuas, sempre necessárias. Contudo, parece justo reconhecer que o Terminal 3 foi construído em tempo recorde, no prazo de 15 meses, após a concessão do aeroporto à iniciativa privada, começando a desobstruir um dos principais gargalos infraestruturais do país.
Cumbica estava totalmente saturado, recebendo uma média de 36 milhões de passageiros ao ano, quando a capacidade instalada lhe permitia receber no máximo 30 milhões de usuários com médio conforto. Também vale lembrar que o único estacionamento do aeroporto comportava no máximo 3.700 veículos. Na prática, Guarulhos aos poucos ganha “jeitão” de aeroporto internacional de primeira linha com o investimento de aproximadamente R$ 2,9 bilhões realizado no último ano e meio. Até 2032, quando terminará a vigência do contrato de concessão estabelecido pelo governo federal, a GRU Airport, que é controlada pelo consórcio formado pelas empresas Invepar (Investimentos e Participações em Infraestrutura S.A.) e ACSA (Airports Company South Africa), tendo assumido o controle do aeroporto paulista no dia 15 de novembro de 2012, deve injetar mais R$ 1,6 bilhão.
Logo que a GRU Airport assumiu a administração do aeroporto, reformulou o desenho do estacionamento de carros, adicionando mais 500 vagas, e instalou o sistema de cobrança automática, em parceria com a empresa Sem Parar. Além disso, ergueu um edifício-garagem, a primeira grande obra de infraestrutura entregue pela concessionária. Com oito andares e área de 84.000 m2, o prédio comporta 2.644 veículos e está interligado diretamente ao novo terminal por meio de esteiras rolantes em área coberta. Contando com a reformulação do estacionamento em frente ao Terminal 4, edifício sem pontes de embarque erguido ao lado dos terminais de carga para atender aos voos de Azul, Trip e Passaredo, Guarulhos passou a oferecer um total de 8.000 vagas para veículos. A administração está ciente de que ainda falta conforto no estacionamento antigo, mas adianta que o plano diretor de obras prevê a construção de novos edifícios-garagens em frente aos terminais 1 e 2.
Tanto os usuários de Guarulhos quanto os operadores aguardam pelas obras de reformulação dos antigos edifícios de embarque. Algumas melhorias já foram feitas, como a reforma dos banheiros, a troca de alguns elevadores e de escadas rolantes e a construção de uma pequena praça de alimentação no Terminal 2. Os setores de embarque também foram reformulados, principalmente, a ala internacional que passou a oferecer mais posições nas áreas de vistoria de bagagem com raios X e pórticos detectores de metal. Outra novidade foi a instalação de portões com leitura ótica do bilhete de embarque, que deverão acelerar o trânsito de passageiros assim que estiverem operando em sua totalidade.
Setor de embarque possui 90 posições de check-in, divididos em três ilhas com 30 posições cada
O que permanece pendente são as ampliações das salas de espera reservadas para os passageiros que embarcam em área remota (sem fingers) em ônibus. Saturadas, elas obrigam os passageiros a aguardarem o voo amontoados, alguns deles sentados nas escadas ou no chão, ocasionando confusão em alguns casos, com muita gente aflita para não perder o transporte para a aeronave. A administração do aeroporto ainda não adiantou o que será feito nessas áreas, mas, a julgar pela agilidade na execução de obras até agora, o usuário deve receber boas notícias em breve.
Além da Lufthansa, a subsidiária Swiss e a portuguesa TAP Air Portugal também se transferiram para o Terminal 3 no dia 11 de maio. A administração achou por bem iniciar a operação em fases para que os sistemas possam ser testados ou adaptados antes que todos os voos de longo percurso se transfiram para a nova ala. Mesmo antes da inauguração, foram realizadas diversas simulações envolvendo 4.700 voluntários com o objetivo de se reduzir as falhas operacionais. “Ainda faltam alguns ajustes, como a melhoria no processo de transmissão e recebimento de dados nas áreas próximas às pontes de embarque”, destaca o gerente de uma linha aérea internacional, que prefere não se identificar. Até a data do fechamento desta edição, mais seis companhias haviam se transferido para o novo edifício: a United Airlines, a Air Canada, a Turkish Airlines, a Air China, a Emirates e a Etihad. A mudança definitiva de outras 12 companhias deve acontecer até o mês de setembro deste ano, processo que será encerrado com a transferência dos voos de longo percurso operados pela Latam Airlines, companhia criada depois da fusão entre a TAM Linhas Aéreas e a chilena Lan Airlines. A partir deste ponto, o Terminal 1 atenderá exclusivamente aos voos domésticos, enquanto o Terminal 2 atenderá tanto a voos domésticos quanto aos internacionais nas rotas do Mercosul.
Visitamos o novo edifício e atestamos que o Terminal 3 oferece padrões de conforto e modernidade similares aos dos principais aeroportos do exterior. O edifício está interligado ao Terminal 2 através de um condutor climatizado servido por esteiras rolantes. Quem caminha com calma observa pelas janelas uma extensa área desocupada. Fui informado de que o terreno já está reservado para uma cadeia de hotéis, que erguerá um complexo de alto padrão, e que também ficará responsável pela construção de um hotel na área interna, reservada aos passageiros em conexão no aeroporto. Assim que se deixa esse condutor, caminha-se por um piso intermediário no Terminal 3, entre as alas de desembarque e embarque, que oferece não só o acesso ao edifício-garagem como a um setor comercial bem diferente do que conhecemos, com lojas de conveniência, lanchonetes e restaurantes para todos os gostos e bolsos.
O Terminal 3 oferece padrões de conforto e modernidade similares aos dos principais aeroportos do mundo
Subindo as escadas rolantes ou pelo elevador panorâmico, chegamos ao piso de embarque. Muito amplo, com bom aproveitamento de iluminação natural, o setor é servido por três ilhas, com 30 posições para atendimento em check-in em cada, totalizando 90. Para passageiros em conexão, há outros 18 balcões. Infelizmente, ainda não conseguimos criar no Brasil o sistema utilizado nos Estados Unidos para o despacho da bagagem em conexão de voo internacional para o doméstico. Lá o passageiro que chega do exterior passa pela imigração e, depois, pelo setor de alfândega. Sem precisar passar pelo check-in na área externa, ele simplesmente deposita a mala numa esteira de conexão e prossegue para embarcar no voo doméstico sem outras preocupações. No Brasil, o passageiro internacional ainda precisa desembarcar e comparecer a um balcão de check-in para despachar novamente a bagagem, o que gera filas intermináveis e leva algumas viajantes a perder seus voos de conexão por conta da demora nesse processo. Ainda com relação ao número de balcões de check-in, é difícil ter certeza se ele está adequado ao volume de passageiros esperado depois que todas as companhias estiverem operando no Terminal 3, mesmo considerando as facilidades e o automatismo dos chamados e-gates, previstos pela GRU Airport. Aparentemente, a ampliação do edifício pode ser fazer necessária já nesta próxima década.
Ainda no piso de embarque do novo terminal, o usuário encontra o Restaurante Olive Garden, de comida italiana, muito conhecido nos Estados Unidos e que chega pela primeira vez ao Brasil. Pertence à International Meal Company, que também inaugurou outro restaurante inédito no país, o Red Lobster, de frutos do mar, localizado na área da nova praça de alimentação no Terminal 2. Os preços não são muito altos como se esperava para lojas que trabalham dentro dos aeroportos brasileiros, com aluguéis relativamente elevados. Mas o passageiro deve estar atento à tabela de preços.
O Olive Garden, por exemplo, cobra um valor adequado para o prato do Fettuccine Alfredo, que acompanha a salada. Custa R$ 33,00. Porém, se o incauto cliente pedir um cafezinho, vai desembolsar mais R$ 6,50! Vale tomar a xícara num dos pontos de café, com valores um pouco menos salgado.
O Terminal 3 dispõe de 20 pontes de embarque, com a possibilidade de receber o A380
A nova área reservada para o processo de embarque no Terminal 3 é bastante ampla e bem sinalizada. Depois de passar pela Polícia Federal, o passageiro encontra um verdadeiro bulevar de luxo, que oferece 16 lojas de grifes, com tributação diferenciada e preços, em dólares, não tão assustadores. Vale destacar que, no setor de desembarque, a Dufry, que é responsável pela rede Duty Free Shop presente nos aeroportos brasileiros, inaugurou em Guarulhos uma das maiores lojas desse segmento no mundo, com área de 4.400 m².
Subindo uma rampa, acessam-se as salas de atendimento especial (VIP) no piso mezanino. A própria GRU Airport mantém um local destinado aos passageiros de classe executiva e primeira classe que são encaminhados pelas companhias aéreas sem suas próprias salas no aeroporto. Mesmo quem não tem convite para a sala podem utilizar a área reservada aos passageiros da classe executiva se desembolsar US$ 40 pagos com cartão de crédito. Na área, o cliente tem direito a cadeiras para repouso, lanches, bebidas à vontade e chuveiro, que ajuda bastante se o passageiro estiver viajando há horas.
O píer de embarque também é imenso e oferece, além de várias lojas e lanchonetes, uma visão privilegiada dos pátios e pistas do aeroporto, um bom passatempo para os entusiastas da aviação. São 26 portões de embarque, sendo seis para embarque em posição remota, com área mais espaçosa aos passageiros que embarcam em ônibus.
De acordo com o grupo Tysa-Engecorps, responsável pelo projeto do novo terminal, existe uma grande diferença entre o conceito de conforto e funcionalidade de hoje em comparação com o do ano em que o aeroporto foi inaugurado, 1985. Além disso, no passado, Guarulhos dividia a atenção e os recursos de seu único administrador, a Infraero, com outros aeroportos.
O Terminal 3 dispõe de 20 pontes de embarque, com a possibilidade de receber o mesmo número de aeronaves de médio porte. A função do novo píer, porém, é receber desde jatos de grande porte até os superjumbos A380. O pátio é bem amplo, comportando até 10 aviões na configuração para widebodies. Nesse caso, as demais aeronaves teriam de estacionar na nova área remota com capacidade para 14 jatos. Sabendo que terá de erguer um novo píer em futuro próximo para receber com comodidade pelo menos outros 10 jatos de médio porte, a GRU Airports deixou tudo pronto. O novo edifício já tem espaço reservado ao lado do Terminal 3, incluindo uma interligação subterrânea, que foi concluída junto com as obras do novo pátio “kilo” para estacionamento de aeronaves.
Na área operacional, a GRU Airport também tem reservado fundos para a ampliação das áreas de manobras. Além do novo pátio junto ao Terminal 3, a administração entregou as obras do pátio “lima”, com área de 69.000 m2, reservado para pernoite e manutenção de aeronaves de grande porte, e o prolongamento da taxiway “alfa” para o setor leste do campo. O aeroporto opera duas pistas paralelas – a 09R/27L e a 09L/27R –, que oferecem 3.000 e 3.700 metros de comprimento, respectivamente. A primeira é utilizada com maior frequência para pousos e a segunda, para decolagens. Por uma concepção equivocada de projeto, as duas têm eixos longitudinais separados por menos de 760 m, que é o mínimo exigido para que se opere pousos e decolagens simultâneos de acordo com os padrões estabelecidos pela Organização da Aviação Civil Internacional (OACI). Porém, nos Estados Unidos, valem as regras baixadas pela agência de aviação civil norte-americana (FAA), que libera a operação de pousos e decolagens simultâneos em pistas paralelas que tenham menos de 760 m de separação longitudinal. O Brasil pretende utilizar regras semelhantes para homologar esse tipo de operação em Guarulhos – já que a terceira pista paralela não deve sair por enquanto do papel, apesar da própria administração estar ciente de que hoje seria uma obra imprescindível para o crescimento do aeroporto e a diminuição dos congestionamentos em terra e no ar. As companhias aéreas já ministraram cursos a respeito, só que faltam detalhes operacionais a serem concluídos junto às autoridades governamentais. Também já está tudo pronto para o início de operações do sistema ILS de categoria 3, que permitirá pousos com visibilidade zero. Nesse caso, os pilotos brasileiros ainda deverão passar por treinamento específico já que são homologados para executar aproximações do tipo ILS de categoria 2.
Outra obra muito importante e que pode ser executada pela atual administração será a construção de saídas rápidas para aeronaves que pousam pela cabeceira 27L. A falta dessas pistas de táxi faz diminuir o fluxo de aproximações, já que se exige maior distanciamento entre as aeronaves em descida. A GRU Airport, no entanto, pretende agora investir na reforma da pista 09L/27R, que deverá ser alargada de 45 m para 60 m para atender aos Airbus A380. A obra será iniciada após a realização da Copa do Mundo, assim como a adequação das pistas de táxi que estarão reservadas para o deslocamento do superjumbo.