United Technologies anuncia compra da Rockwell Collins

Caso se concretize, transação de US$ 30 bilhões será a maior da história da indústria aeroespacial

Por Ernesto Klotzel Publicado em 22/09/2017, às 10h06 - Atualizado em 25/09/2017, às 11h41



Após muitas expectativas, a United Technologies anunciou recentemente seus planos para a compra da Rockwell Collins no valor de US$ 30 bilhões – o maior valor na história da indústria aeroespacial mundial.

Embora a transação pareça vantajosa – sob o o ponto de vista acionário – para todos, a United Technologies tornou-se alvo de críticas de alguns analistas industriais e de clientes atuais. Enquanto muitos acham a transação muito onerosa. A Boeing e a Airbus levantaram objeções menos óbvias.

O mercado da aviação comercial sofreu demais durante os últimos dois anos com a queda de encomendas após anos de euforia. As encomendas do setor já são cíclicas por natureza e parece que, no momento, o mercado passando por uma queda sustentada. As incertezas econômicas e políticas também tiveram seu efeito no atraso e cancelamento de encomendas de aeronaves novas. Além disso, jatos fabricados há mais de 20 ou 30 anos foram modernizados e continuam em operação.

Além disso, os fabricantes de aviões tiveram de investir consideravelmente em programas de desenvolvimento durante o mesmo periodo, exercendo grande pressão nos lucros de Boeing e Airbus. Enquanto estes e outros fabricantes têm lutado para manter as margens de lucro nos limites superiores de um dígito, fornecedores como a United Technologies e Rockwell Collins têm registrado margens de lucro entre 14% e 17%.

O resultado deste mercado comercial e a pressão crescente dos investidores fez com que tanto a Airbus como a Boeing tentassem adotar uma atitude mais agressiva diante dos fornecedores em termos de preços. No entanto, à medida que permitem que outras empresas produzam algumas das mais complexas peças em suas aeronaves, estas, de certa forma, abriram mão de seu direito de se capitalizar em um mercado altamente lucrativo: realizar a manutenção em aeronaves em âmbito global. Um exemplo típico é o da Rolls-Royce, o fornecedor britânico de motores, que aufere perto de metade de suas vendas e a maioria de seus lucros com a manutenção de motores. 

Assim não deve ser surpresa que tanto a Boeing como a Airbus estão prontos para o melhor aproveitamento deste mercado, ao fabricar um número maior de peças “dentro de casa”. Em julho, a Boeing anunciou planos para inaugurar uma instalação para fabricar vários tipos de aviônicos outros sistemas elétricos, enquanto a Airbus continua a "enxugar" sua lista de fornecedores e realizar mais trabalho próprio em âmbito interno. 

A empresa que resultará da combinação da United Technologies com a Rockwell Collins terá uma receita annual superior a US$ 60 bilhões, não tão longe dos US$ 80 bilhões da Airbus e US$ 96 bilhões da Boeing. Assim, parece lógico que os fabricantes de aeronaves se sentiriam ameaçados pela aquisição proposta, que confere à nova empresa do segmento fornecedor um poder de baganha bastante maior.