Por Edmundo Ubiratan e Ernesto Klotzel Publicado em 22/02/2015, às 00h00
No dia 1º de abril de 1987, os principais jornais dos Estados Unidos noticiaram a colisão de um voo da Alaska Airlines com um salmão. Tradicionalmente, a imprensa americana publica piadas no famoso “dia da mentira”, em geral, com notícias absurdas e fantasiosas. Naquele ano, porém, a informação era verdadeira. No dia 30 de março, o voo 61 decolou de Seattle, WA, com destino a Anchorage, com escalas em Juneau, Yakutat e Cordova. A única alteração na rotina era a presença de um inspetor da FAA (Federal Aviation Administration), que deveria checar a tripulação em rota até o destino final. Ainda assim, nada incomum. Eis que, na segunda perna do voo, após a decolagem, durante uma curva à esquerda, para evitar as montanhas a oeste, mantendo uma razão de subida constante, os tripulantes avistaram uma grande águia se aproximando pela esquerda, num rumo que coincidia com o da aeronave. Os pilotos perceberam que passariam sob a ave se o animal prosseguisse em sua rota de voo, mas, em caso contrário, o choque seria inevitável e os danos na aeronave não seriam dos menores. Talvez a águia tenha tido a mesma percepção, considerando que aquele enorme predador branco representava uma séria ameaça à sua vida. Numa ação rápida, o pássaro mergulhou em curva para o sul, largando a presa que trazia em suas garras. Naquele instante, os pilotos e o checador da FAA assistiram em câmera lenta ao inacreditável: um peixe “voava” em direção ao 737. O salmão atingiu a aeronave pouco atrás da última janela esquerda do cockpit. O barulho seco do impacto foi seguido de um breve momento de silêncio e um frenético scan flow dos instrumentos para verificar a integridade dos sistemas. Após a confirmação de que o avião continuava voando normalmente, os pilotos se perguntavam: “Realmente batemos no que achamos que batemos?”. Diante do fish strike, a tripulação chamou o despacho da empresa em Juneau e, apesar das circunstâncias, obteve aprovação para levar o Boeing pelo menos até a etapa seguinte. Seria necessária apenas uma inspeção no solo. Como Yakutat fica numa das regiões mais remotas do Alasca, a empresa teve de enviar um mecânico até lá num pequeno avião. Evidentemente, a notícia chegou ao aeroporto antes das aeronaves e, enquanto o 737 taxiava, uma pequena multidão se aglomerava para ver o avião que havia colidido em voo com um peixe. Muitos tiveram a certeza de que essa era a desculpa mais absurda para justificar algum problema no avião. Ainda assim, o mecânico descartou qualquer grave dano, sendo que a única avaria no Boeing era um amassado abaixo da janela do cockpit. Já o salmão se resumiu a um risco de sangue e algumas escamas na fuselagem. Muitos acreditam que o “Salmon Thirty Salmon” é uma homenagem a essa estranha história, ainda que a pintura seja oficialmente uma homenagem ao Alasca e à indústria pesqueira, uma das maiores clientes da Alaska Airlines. O trocadilho com 737 é, também, uma brincadeira com a pronúncia de salmon no inglês americano [samn], similar à pronuncia do número 7 [sevn]. Outro caso parecido ocorreu em 2014, quando um Gulfstream GIV do NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) colidiu com um peixe, também alijado por um pássaro, durante a corrida de decolagem na base aérea de MacDill, na Flórida. O avião conseguiu abortar a decolagem e o peixe foi encontrado na pista durante a inspeção.