Após um ano da guerra na Ucrânia, o emprego aéreo mostrou deficiências, carências e inovações de ambos os lados
Por André Magalhães e Edmundo Ubiratan Publicado em 24/02/2023, às 18h25 - Atualizado em 27/02/2023, às 10h30
Há um ano começava a invasão da Ucrânia pela Rússia, quando canais de notícias em todo o mundo todo mostravam as primeiras imagens e detalhes do conflito. Após o anunciar o que chamou de Operação Militar Especial, o presidente Vladimir Putin, argumentou que o objetivo era apenas destruir grupos nazistas ucranianos, que atacavam grupos étnicos russos na região do Donbas.
Analistas internacionais acreditavam que a operação seria rápida, sem deixar margem para resposta ucraniana, visto o vasto poderio militar de Moscou, mas contrariando as expectativas as forças de Kiev restiram e ao longo de um ano atingiram vantagens táticas, mesmo sofrendo fortes baixas.
O conflito além de expor uma série de erros nas táticas russas, como uso de caças em funções pouco usuais, e da carência de equipamentos modernos por parte da Ucrânia, apresentou uma inovação nos ataques como drones, muitos adaptados para uso em combate.
Entre os destaques dos primeiros 365 dias de guerra estão a análise da força aérea russa seguir dividida em funções especializadas, estruturadas em uma hierarquia vertical e bastante complexa, em alguns casos baseada na estratégia do exército.
Por exemplo, em alguns casos, os pilotos dos caças não agem dentro do cenário que estão vendo, mas baseado em controle do solo, que recebe reportes de radar e avaliam o que deve ou não ser feito no combate ar-ar. A estratégia é similar a empregada até os anos 1960, quando os caças não dispunham de avançados radares e se atuavam a partir de instruções de radares de solo.
Em outros casos, as ações foram montadas em estratégias que desconsideraram completamente a defesa antiaérea, expondo os avançados caças russos às limitadas, mas ainda poderosas, artilharias ucranianas. O que deveria ter sido uma missão simples para os modernos Sukhoi Su-34 e Su-35 se mostrou uma ação quase suicida, com ataques de bombardeiro picado, usando bombas de queda livre em vez de misseis de cruzeiro ou ar-terra.
Os russos estão ampliando o uso de seus caças em ataques com mísseis de cruzeiro ou bombas de precisão, incluindo a participação dos Su-57, de quinta geração. Aliás, o conflito na Ucrânia é o segundo em que os Su-57 atuam, visto que realizaram algumas missões de combate real na Síria, antes mesmo de terem sido declarados operacionais.
Do outro lado, os ucranianos, que, nos anos 1990, haviam entregado grande parte de sua capacidade militar aos russos, sob a promessa de não agressão, viram-se ano após ano com uma frota envelhecida. Seus Sukhoi Su-27 eram da primeira geração, com sistemas de radar e armas ultrapassados e limitados. A promessa de um futuro ingresso na Otan, ou da possível venda de armas ocidentais, arrastou-se por três décadas, intercaladas com governos pró-Russia e pró-Ocidente, que em geral mantinham políticas de defesa distante da realidade e necessidade.
Ainda assim, com seus limitados Su-27 e um pequeno lote de MiG-29, os ucranianos conseguiram reagir inicialmente contra a ofensiva russa, em duelos ar-ar incrivelmente equilibrados, mesmo com um lado contando com armamentos ultrapassados e o outro com o estado da arte.
A Otan, vista por Moscou como uma ameça, tem sido um grande fornecedor de armas aos militares ucranianos, incluindo mísseis antiaéreos, drones, armas, alguns helicópteros e possivelmente, e no futuro, de blindados como os Leonard 2, Chanllenger 2 e M1 Abrams. Contudo, o envio de caças segue indefinido e uma promessa que não passa da fase de análises de risco.
A Ucrânia solicita o envio de aviões de combate desde o começo da guerra, pois sua força aérea já se encontrava em uma situação precária e foi bem danficada atingida nos primeiros dias de confrontos.
Diversas falas e supostas soluções para o envio de aviões foram feitos, países da Otan que ainda operam os veteranos caças soviéticos, como o MiG-29, prometeram enviá-los para a Ucrânia, mas efetivamente somente algumas peças de reposição foram fornecidas. Outros modelos como F-15, F-16 e Gripen C também foram cogitados, em especial pela imprensa, embora o envio envolva uma questão delicada, com diversos fatores sendo considerados, incluindo um crucial treinamento aos pilotos e mecânicos ucranianos.
Contudo, em 2023 o assunto vem ganhando destaque nas conversas oficiais, com o Reino Unido, por exemplo, se comprometendo a treinar pilotos ucranianos para operar avançados caças ocidentais.
Listamos a perdas de meios aéreos de ambos os lados do conflito. Embora a Rússia apresente números superiores, vale destacar também a presença maior de caças, drone e helicópteros do país no conflito, o que amplia as chances de perdas. Por outro lado, a Ucrânia mesmo com perdas materiais menores teve sua capacidade de defesa aérea quase aniquilada.
Todos os números foram cruzados com dados da AERO Magazine e outras diversas fontes, incluindo o Oryx, EurAsian Times, Forbes, Kyiv Post, entre outros. Eventuais consultas futuras poderão resultar em novos números, os dados abaixo se referem a última semana de janeiro de 2023.
Quantidade | Aeronave | Missão |
1 | MiG-31BM | Interceptador |
3 | Su-35S (1) | Caça Multimissão |
1 | Su-24MR | Reconhecimento Tático |
6 | Su-34M (2) | Caça-Bombardeiro |
1 | Tu-22M (3) | Bombardeiro Estratégico |
1 | Tu-95MS | Bombardeiro Estratégico |
1 | An-26 | Transporte |
1 | Mi-24V/P | Helicóptero de Ataque |
1 | Mi-24P3 | Helicóptero de Ataque |
1 | Korsar | Drone de ataque |
1 | Forpost-RU | Drone de ataque |
1 | Mohajer-6 | Drone de ataque |
1 | Merlin-VR | Drone de reconhecimento |
1 | Lastochka-M | Drone de reconhecimento |
1 | Grifon-12 | Drone de reconhecimento |
2 | Orion | Drone de ataque |
2 | Orlan-10 | Drone de ataque |
2 | Orlan-30 | Drone de reconhecimento |
2 | Granat-4 | Drone de reconhecimento |
2 | Supercam S150 | Drone de reconhecimento |
2 | Supercam S350 | Drone de reconhecimento |
3 | Mi-24P | Helicóptero de Ataque |
3 | Forpost | Drone de reconhecimento |
3 | Eleron T28ME (4) | Drone de reconhecimento |
4 | Takhion (5) | Drone de reconhecimento |
6 | Mi-35M | Helicóptero de Ataque |
8 | Su-24M/MR (6) | Reconhecimento e Interdição |
8 | ZALA 421 | Drone de reconhecimento |
9 | Orlan-20 | Drone de reconhecimento |
11 | Su-30SM | Caça Multimissão |
11 | Mi-28 | Helicóptero de Ataque |
16 | Mi-8 | Helicóptero de Transporte |
17 | Su-34 | Caça-Bombardeiro |
17 | Eleron-3 | Drone de reconhecimento |
23 | Su-25 (7) | Apoio Aéreo Aproximado |
30 | Ka-52 (8) | Helicóptero de Ataque |
120 | Orlan-10 | Drone de reconhecimento |
1 – Três fontes afirmam que foram três Su-35 abatidos, enquanto duas dizem que apenas um
2 – Duas fontes falam em seis Su-34, uma afirma que foram sete e outra diz que 16 foram destruídos. Levantamento da AERO Magazine leva ao total de seis Su-34 destruído em combate
3 – Não ficou claro se era um Mi-24 ou Mi-35M
4 – Todas as fontes consultadas falam na perda de um T28ME, mas sem especificar se foi destruído, capturado ou avariado
5 – Apenas uma fonte afirma que foram três destruídos
6 – Uma das fontes afirma que foram sete Su-24M e um Su-24MR. Outra fonte não faz distinção entre os Su-24M e Su-24MR
7 – Uma fonte afirma que foram 25 e as demais afirmam que foram 23
8 - Duas fontes dizem ter 30 Ka-52 foram perdidos de diversas formas, uma afirma que 28 foram destruídos, um avariado e um se acidentou
Quantidade | Aeronave | Missão |
1 | Mi-14 | Helicóptero Anfíbio de Transporte |
1 | Mi-24P | Helicóptero de Ataque |
1 | UJ-22 | Drone multimissão |
1 | PD-1 | Drone de Reconhecimento, Vigilância e Inteligência |
1 | ITEC Skif | Drone de Reconhecimento |
1 | Orlik | Drone de Reconhecimento, Vigilância e Inteligência |
1 | Shark | Drone de reconhecimento |
1 | Penguin C | Drone de vigilância reconhecimento |
1 | Bayraktar Mini | Drone de reconhecimento |
1 | RQ-20 | Drone de vigilância |
1 | T150 | Drone de transporte |
2 | Il-76 | Transporte |
2 | An-26 | Transporte |
2 | Mi-24P | Helicóptero de Ataque |
2 | FlyEye (1) | Drone de reconhecimento |
3 | Spaitech Sparrow (2) | Drone de Reconhecimento |
3 | Spectator-M1 | Drone de Reconhecimento, Vigilância e Inteligência |
4 | Mi-2 | Helicóptero de Treinamento |
4 | ASU-1 Valkyrja | Drone de Reconhecimento |
7 | Su-27 | Caça |
10 | Leleka-100 | Drone de Reconhecimento |
13 | Su-24M | Ataque |
15 | Bayraktar TB2 | Drone de Ataque |
16 | MiG-29 | Caça |
16 | Su-25 | Apoio Aéreo Aproximado |
18 | A1-SM Fury | Drone de Reconhecimento |
21 | Mi-8 | Helicóptero de Transporte |
1 – Três fontes apontam dois drones destruídos e uma fonte afirma que foram três
2 – Três fontes apontam a destruição de três drones e outras duas dizem que foram dois