Sem piloto

Controlados a distância, os veículos aéreos não tripulados, ou simplesmente vant, evoluíram e já são capazes de captar e transmitir dados em tempo real

Andrea Polimeno E Ivan Plavetz Publicado em 23/01/2012, às 08h37 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45

Poucos meses depois de a Força Aérea Brasileira (FAB) anunciar a criação de um esquadrão de aeronaves remotamente pilotadas, a Polícia Federal (PF) apresentou o seu primeiro VANT. Os dois eventos, ocorridos no segundo semestre de 2011, mostram que o Brasil segue uma tendência mundial. Os governos estão substituindo missões tripuladas por aeronaves de controle remoto - cada vez mais sofisticadas e diversificadas.

Os objetivos variam. Operações militares (incluindo ações armadas), reconhecimento terrestre e marítimo, vigilância aérea nesses dois tipos de ambientes, policiamento e monitoramento e espionagem estão entre os principais. Os VANTs também trabalham em missões ambientais - como no monitoramento de incêndios florestais -, mapeamento, sensoriamento remoto e lançamento de cargas. Além de permitir a construção de aeronaves bem menores com relação às tripuladas, entre outras vantagens, a ausência de ocupantes elimina o fator fadiga e os riscos de contaminação desses últimos, bem como outros inconvenientes inerentes a cada tipo de operação.

A Polícia Federal utilizará os VANTs, inicialmente, para fiscalizar a região da Tríplice Fronteira, entre o Brasil, a Argentina e o Paraguai, contra o crime e o contrabando de mercadorias ilegais. O VANT Heron, fabricado pela IAI-Israel Aerospace Industries, entrou em testes em setembro e os voos operacionais começaram em outubro do ano passado. Um segundo VANT foi adquirido na mesma época, previsto para entrar em operação em dezembro último, ambos na base paranaense de São Miguel do Iguaçu (PR). A PF pretende desenvolver - por transferência de tecnologia, negociada com a empresa israelense - 14 aviões não tripulados até 2014.

A FAB, por sua vez, possui atualmente dois VANTs Hermes 450 no seu recém-lançado Esquadrão Hórus e já celebra "uma nova era na aviação militar brasileira". O Esquadrão Hórus é resultado do grupo de trabalho "Victor", que operou experimentalmente o Hermes 450 (denominado RQ-450 na FAB), durante um ano, para estudar o emprego dos não tripulados na força aérea nacional. Além da base de Santa Maria (SC), a FAB planeja criar novas unidades nos próximos anos em suas bases das regiões Norte e Centro-Oeste.

A ideia dos VANTs surgiu antes mesmo da Segunda Guerra Mundial. Eram como aviões-alvo para treinar artilharia antiaérea que, ao longo dos anos, receberam implementos tecnológicos cada vez mais sofisticados. A novidade, no Brasil, é a capacidade de captar e transmitir dados para a base em tempo real. "Antes, era necessário planejar com antecedência, decolar, voar e depois processar os dados. Hoje temos de gerenciar simultaneamente a coleta, a análise e a difusão da informação. O processo se funde", explicou o tenente-coronel-aviador Paulo Ricardo Laux no lançamento do esquadrão, em Santa Maria (SC).

Como parte da Estratégia Nacional de Defesa, o Brasil trabalha com o objetivo de desenvolver e fabricar suas próprias aeronaves não tripuladas, estimulando a pesquisa e capacitando seus meios de produção. Destaque para a recém-criada Harpia Sistemas S.A (joint venture entre a Embraer Defesa e Segurança e AEL Sistemas), Santos Lab e Flight Solutions, bem como núcleos de pesquisas das Forças Armadas e de universidades, como acontece no Centro Tecnológico de Exército (CTEX) e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Nas próximas páginas, alguns modelos de VANT. A seleção apresenta tanto os diferentes estágios da evolução da aviação não tripulada ao longo do tempo como também a diversidade de modelos que hoje estão em operação.

QUASE INVISÍVEL
Os especialistas têm estudado inúmeras formas de pequenos VANTs, para missões nas quais se deve manter o máximo de discrição possível - ou mesmo sigilo absoluto - durante observação aérea, notadamente em ambiente urbano. Na foto, um microvant demonstrador de conceito concebido pela MLB Company.




ASAS ROTATIVAS
O Camcopter, da austríaca Schiebel, representa um bom exemplo da diversidade de modelos de VANTs. Nesse caso, trata-se de uma aeronave de asas rotativas capaz de operar a bordo de pequenos navios. Tem capacidade de realizar uma variada gama de missões, incluindo as de observação de pontos afastados do navio.



PREDADORES
O VANT MQ-1Predator, da norte-americana General Atomics Aeronautical Systems Inc., notabilizou-se por ter demonstrado exímia capacidade operacional. O MQ-1Predator e seu descendente mais potente, o MQ-9 Reaper, foram os primeiros modelos de VANTs a serem usados para operações de ataque em combate real. Recentemente, estiveram em destaque no Afeganistão.



EM ÁREA RESTRITA
O Scan Eagle, da Insitu, subsidiária da Boeing, foi especialmente concebido para operações em que o espaço para lançamento e recuperação é bastante restrito, como, por exemplo, o convés de uma fragata. Na imagem, um Scan Eagle pronto para ser catapultado.



MODERNIZAÇÃO GERMÂNICA
Este Euro Hawk, variante do Global Hawk especialmente modificado com a participação do grupo europeu EADS, irá operar na Força Aérea da Alemanha (Luftwaffe) em missões de patrulhamento marítimo. O Euro Hawk substituirá os veteranos turbo-hélices Atlantique II tripulados.



MISSÕES GLOBAIS
O RQ-4 Global Hawk, da Northrop Grumman, foi dimensionado para desempenhar missões de alcance global. Pode carregar uma sofisticada suíte de sensores de elevada precisão, entre eles um potente radar de grande capacidade de varredura e de detecção de objetos que estão na superfície escaneada por sua sofisticada antena. O Global Hawk voa normalmente a quase 20 mil metros de altitude durante essas missões.



PROJETO BOEING
Em abril de 2011, decolou pela primeira vez o Phanton Ray, projeto da Boeing para criar uma aeronave de combate não tripulada (do inglês UCAV) capaz de executar autonomamente missões de reconhecimento e de ataque, entre outras.
#Q#
PROJETO NASA
O Pathfinder-Plus, VANT experimental criado conjuntamente pela norte-americana Aero Vironment em parceria com a NASA, incorporou características técnicas que permitem voos de duração bastante longa. Painéis solares podem abastecer os motores e os sistemas elétricos. Essa performance é muito útil quando se deseja manter um constante monitoramento sobre uma área de interesse.



DRONES
Os primeiros aviões sem piloto receberam a denominação de drone, que significa zangão ou zumbido, em inglês. Eram usados como alvos aéreos para o treinamento de artilharia antiaérea e, mais tarde, para reconhecimento fotográfico.
As primeiras missões dos drones datam da Segunda Guerra Mundial. Na foto, o drone supersônico Ryan Firebee II, da marinha de guerra norte-americana (notar a pintura de alta visibilidade típica dos alvos aéreos). Os drones são utilizados até hoje.



VIGILÂNCIA TÁTICA
O Skylark II, variante aumentada do Skylark I, foi concebido para executar tarefas de vigilância sobre áreas sensíveis ou críticas que requerem constante observação e atualização da situação tática. Uma característica notável fica por conta de sua baixíssima assinatura auditiva e visual.



VANT DA PF
O Heron 1, da israelense Israel Aerospace Industries (IAI), atua em operações contra o tráfico de drogas na América Central e sobre as águas oceânicas da região. A Polícia Federal implantou esse modelo de aeronave no final do ano passado, no Brasil.



BRASILEIRO 100%
O VANT Falcão, da Avibras Indústria Aeroespacial, é um dos projetos em andamento hoje no Brasil.


OPERAÇÃO ÁGATA
A FAB usou pela primeira vez os VANTs em ações reais durante a Operação Ágata I. As aeronaves participaram, por exemplo, da localização de pistas clandestinas de pouso. Na imagem, um dos Hermes 450 da FAB em missão de reconhecimento.



MISSÕES FUTURAS
O VANT VT-15 é um produto de acordo de cooperação implementado pelo Centro Tecnológico do Exército (CTEX) e a Flight Solutions. O aparelho está em fase de avaliação e poderá ser adotado pelo Exército em missões de reconhecimento, vigilância e orientação de artilharia.



EM TEMPO REAL
O minivant Carcará, da brasileira Santos Lab, é uma solução bastante simples e de baixo custo para coletar imagens de uma área de interesse e transmiti-la em tempo real para uma base remota. Sua nova versão, o VANT Carcará II, operado pelo Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, possui sensor eletro-óptico dotado de zoom de 10X ou infravermelho alternativamente. O alcance de seu datalink chega a 15 km.



A TIRACOLO
O pequeno VANT Skylark I d a israelense Elbit Systems, comumente usado como os "olhos da tropa", pode ser lançado manualmente e t ransportado por apenas um soldado.

BASES TERRESTRES
COMO ACONTECE O CONTROLE A DISTÂNCIA

O VANT é constantemente manejado por dois controladores. Os comandos são operados a distância. É o que mostra a imagem abaixo, uma típica estação terrestre de controle do MQ-1 Predator. No detalhe, antenas para transmissão de sinais de comando, na operação de controle dos VANTs RQ-450, da Força Aérea Brasileira. O sistema também recebe dados da aeronave.