Mesclando confraternização e negócios, encontro no interior de São Paulo se consolidada como um dos principais eventos voltados para a aviação leve no Brasil
Texto e Fotos por Edmundo Ubiratan, de Regente Feijó Publicado em 11/06/2015, às 00h00
Realizado anualmente no Aeródromo José Martins da Silva, em Regente Feijó, no interior de São Paulo, o Aviashow se consolida como um evento aeronáutico de peso no mercado brasileiro de aviões leves. Criado com o objetivo de ser uma confraternização informal de amigos nas instalações do Aeropark Clube de Voo Desportivo, o encontro ganhou corpo nos últimos anos. “Começamos como um churrasco para amigos, que logo era um boi no rolete, um almoço e hoje é um encontro de três dias”, comemora Renato S. Silva, do Aeropark. Mesmo distante do universo de feira de negócios, o Aviashow acabou atraindo o interesse de diversas empresas do setor, em especial fabricantes de aeronaves desportivas e da aviação leve, pelo perfil do público.
Basicamente pilotos-proprietários com familiares ou amigos, os participantes do Aviashow atraíram fabricantes, representantes de aeronaves e fornecedores de serviços interessados em expor novidades da aviação leve. Ainda que os organizadores garantam que os negócios nunca foram o foco, o encontro de amigos se revelou oportuno para empresas com diferentes atuações. “É um raro momento de nos aproximarmos do cliente”, afirma José Antônio, diretor comercial da Agnus Aviação, fabricante do LSA Agnus. “Muitos interessados fecham negócio na própria feira”.
Apesar das incertezas econômicas, o discurso na Aviashow era de confiança na assinatura de novos contratos. A Cirrus Aircraft é uma das empresas que celebraram os resultados do encontro. “Continuamos tendo bastante procura. O número de negócios reduziu, mas muitos continuam interessados em trocar de avião ou adquirir um novo”, pontua Sergio Beneditti, representante da Cirrus no Brasil.
Mais de 300 aviões pousaram em Regente Feijó nos três dias do Aviashow
Os organizadores têm a ambição de tornar o Aviashow o principal encontro de aviões leves do país. “Negócios acabam ocorrendo, é uma forma de viabilizar o encontro, mas o foco continua sendo a reunião de amigos”, ressalta Renato S. Silva. Guardadas as devidas proporções, o encontro de Regente Feijó lembra feiras como Sun ‘n Fun e EAA AirVenture, ambas nos Estados Unidos. Mesmo que a maior parte dos visitantes não pernoite na cidade, alguns já aderiram ao camping, dormindo em barracas ao lado dos aviões. Outros tantos passam o dia ao lado de amigos trocando conhecimentos sobre diversos temas e contanto os famosos “causos”.
Um desses causos foi contado por um proprietário de um impecável Cessna 182. “Estava com um antigo Seneca e perdi o motor 1 na decolagem. Mal tirei o avião do chão e o motor 2 rateou, estava a uns 200 pés sem motor. Fiz um 180 e vim trazendo no limite. Pousei o danado alinhadinho com a pista...”. Reais ou não, histórias como essa atraíram mais de 300 aeronaves ao Aviashow 2015.
No pátio era possível conferir uma infinidade de modelos, dos modernos Cessna TTx aos clássicos Piper Cherokee e Piper Cub, passando por diversos tipos de experimentais RV10 e RV9 até modelos raros como o Rockwell Commander 114 e Stinson 108 R. Alguns pilotos acabaram aproveitando a beleza da região do Oeste Paulista para realizar alguns voos panorâmicos, embora o grande fluxo de aeronaves tenha se tornado um problema em alguns momentos pela falta de coordenação entre pilotos. “Alguns ainda tem dificuldade na autocoordenação [123.45] e, por não conhecerem a região, acabam se complicado”, constata Sergio, piloto de um avião experimental. “O Aeropark é autocoordenação, mas estamos na terminal Prudente, é necessário ter atenção”.
Pilotos se queixaram, ainda, da falta de informação oficial sobre o evento, que não constava no Notam (Notice to Airmen). Os organizadores publicaram no site do evento dois mapas não oficiais que auxiliavam chegada e saída de aeronaves, mas muitos não consultaram a internet e tiveram algumas dificuldades. “Não havia um Notam, apenas um mapa no site. A organização fez o que pôde, mas nem todos os presentes sabiam desses mapas”, pondera Rafael, que só descobriu sobre os mapas após pousar. “A organização não fez por mal, mas os órgãos competentes poderiam colaborar e criar um Notam especifico”.
De acordo com os organizadores, o plano de voo com destino ao Aeropark previa dois portões de entrada, que eram utilizados pelo controle Prudente e variavam conforme a cabeceira em uso. No caso da 08, a entrada para a perna do vento deveria ser por INDIANA, distante 6 nm do Aeropark, enquanto para a cabeceira 26 a entrada era por ANHUMAS. Após o bloqueio de uma das localidades, o controle liberava a autocoordenação. Porém, Prudente não conta com auxílio radar, realizando todo o controle baseado nas informações passada pelas próprias aeronaves, o que exigia maior atenção por parte de todos.
Mesmo com alguns percalços pontuais, a maioria dos participantes elogia a iniciativa e acredita que o Brasil pode realizar eventos similares ao longo do ano. “Temos aviação no restante do país. Precisamos de mais gente com vontade para promovermos eventos similares em demais localidades”, argumenta um dos participantes.