Tudo o que os passageiros gastam antes, durante e após um voo pode ser considerado ancillary revenue, que já é uma das principais fontes de lucro das companhias aéreas
Respício A. Do Espírito Santo Jr. Publicado em 06/12/2011, às 10h30 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45
As empresas aéreas dispõem de duas fontes principais de receita. Uma advinda da venda de passagens e a outra, do transporte de cargas e malas postais. Nos últimos anos, porém, surge uma nova fonte, tanto no Brasil quanto, principalmente, no exterior. São as chamadas "receitas acessórias" ou, na terminologia já consagrada, ancillary revenues. Para entender as receitas acessórias, é preciso compreender o unbundling:
1) Viajando pela Europa, o leitor compra on-line uma passagem baratinha: 15 euros para ir de Barcelona para Liverpool. Feliz da vida pela oportunidade de conhecer a cidade que revelou os Beatles, ele não atenta para os "extras". Saindo do hotel, o leitor descobre que o aeroporto que vai embarcar não é aquele no qual desembarcou vindo do Brasil, mas outro mais afastado. A empresa aérea proporciona o transporte do centro da cidade até o aeroporto afastado, mas ao custo de 20 euros. Bem, pelo menos é bem mais em conta do que o táxi, que lhe custaria uns 35 a 40 euros. Chegando ao aeroporto, descobre que a mala que vai despachar vai lhe custar 20 euros. E aquele assento no corredor, outros 15 euros. Como são quase duas da tarde e a fome está apertando, não vê a hora do serviço de bordo passar. Mas espichando o olho para um encarte que a passageira ao lado está lendo, percebe que o serviço de bordo não vai passar nunca, a não ser que ele faça o pedido às comissárias: um refrigerante sai por 5 euros; o sanduíche, por 15; o docinho, por 3. ah, sim, a garrafinha d'água lhe custará mais outros 3 euros.
2) Qual o preço da passagem, afinal? A empresa dirá 15 euros. Mas esse preço é o do "traslado aéreo de Barcelona a Liverpool". A viagem aérea (tal como 99,9% dos passageiros a concebem) custa 15 euros (do traslado aéreo) + 20 (do traslado por ônibus da empresa até o aeroporto afastado) + 20 (do despacho da mala que não cabe do bagageiro da aeronave) + 15 (do assento no corredor) + 5 (do refrigerante a bordo) + 15 (do sanduíche a bordo) + 3 (da sobremesa a bordo) + 2 (da garrafinha de água a bordo) = 95 euros.
3) Ora, a passagem não custou 15 euros, mas, sim, 95! E não custou mais porque o leitor pagou com um cartão de crédito de uma bandeira parceira da empresa aérea. Se tivesse pagado em cartão de outra bandeira, teria uma taxa extra de 4% a cada transação.
4) Mas tudo bem, afinal, conhecer Liverpool vale a pena, ainda mais que o leitor acumulará as milhas da viagem toda. Contudo, ao resgatar a milhagem no programa de fidelidade da empresa aérea para uma viagem futura, descobrirá que terá que pagar uma "taxa de emissão" do bilhete por milhagem. E lá se vão mais uns 30 euros. E sorte que não precisou remarcar a passagem. Senão, seriam mais 100 euros.
Qual o preço da passagem para o consumidor, afinal?
Essa "engenharia" para fragmentar o valor da viagem aérea é o que hoje se chama de unbundling. Essa separação tem levado muitos passageiros à loucura, mas - garantem as empresas aéreas e muitos estudiosos e especialistas - torna as viagens mais "justas", bem como proporciona mais oportunidades das empresas aéreas poderem fazer preços promocionais, mais acessíveis ao público em geral e, assim, cada vez mais popularizar o transporte aéreo.