Alta é a maior desde 2002 e pode comprometer tanto integração como soberania nacional, dizem operadores
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 20/08/2018, às 17h24 - Atualizado às 19h04
O Brasil quebrou mais um recorde no valor do preço dos combustíveis de aviação, quando o querosene (QAv) atingiu a marca de R$ 3,30 o litro, na média nacional. Responsável por um terço do preço do bilhete aéreo, o querosene alcançou seu maior valor desde 2002.
Para o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, a disparada do preço do combustível dos aviões é mais uma ameaça à competitividade do setor e a falta de interesse político compromete a competitividade brasileira. “A fixação de um teto para o ICMS sobre o combustível dos aviões, imposto que só é cobrado no Brasil, não foi aprovada pelo Senado no ano passado. Além disso, temos uma política de precificação da Petrobras que não é discutida e penaliza não só a aviação, mas diversas outras atividades de extrema importância para o país”, afirma Sanovicz.
O Brasil possui um dos combustíveis mais caros do mundo, muito por falta de políticas claras para o segmento de óleo e gás e o controle estatal sobre o preço do petróleo. Ana Helena Mandelli, diretora de Aviação da Associação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Lubrificantes, Logística e Conveniência (Plural), também defende a revisão do ICMS que incide sobre os combustíveis. Para ela, a cadeia e a logística de produção do QAV são demasiadamente oneradas por esse imposto, prejudicando ainda mais o seu custo final.
“Para que haja um mercado de fato mais competitivo, precisamos de mais infraestrutura para importação e ter efetivamente outra fonte de fornecimento do querosene de aviação, para que haja uma real competição com a Petrobras como fornecedora. Só assim, a gente talvez consiga capturar todos os ganhos dessa competição”, diz Ana.
A alta no preço do querosene de aviação não impacta apenas a aviação regular, mas também a aviação de negócios, responsável por conectar a maior parte do território brasileiro. Muitos modelos de aeronaves a pistão já começam a oferecer como opção o uso de QAv no lugar de gasolina de aviação, o que deveria tornar mais acessível o serviço aéreo em regiões remotas do país. No entanto, com valores acima dos R$ 3 muitas operações se tornam inviáveis do ponto de vista financeiro, comprometendo a integração nacional. Além disso, a alta ainda afeta a segurança do país ao comprometer as operações militares e das forças de segurança pública.