Em outubro de 1962 a humanidade esteve perto de uma guerra nuclear total e a arma criada por Oppenheimer aproximou a humanidade da extinção
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 16/08/2023, às 18h00
Os artefatos criados sob supervisão do físico J. Robert Oppenheimer tinham encerrado o maior conflito armado da história da humanidade. O custo humano da guerra superava e muito os danos causados pelas duas bombas atômicas, e serviram como argumento para seu emprego contra o Japão.
Apenas 17 anos depois o mundo assistia a ameaça de uma nova guerra sem precedentes, desta vez criada justamente pelas armas que tinham encerrado a Segunda Guerra Mundial. Ao longo de treze dias, o mundo esteve a um passo de uma guerra nuclear total. O desfecho seria o fim da humanidade.
O presidente cubano Fidel Castro e o primeiro secretário soviético (na prática, presidente) Nikita Khrushchev, em julho de 1962, acertaram em uma reunião secreta que Cuba receberia um arsenal nuclear capaz de devastar toda a costa leste dos Estados Unidos.
Uma das maiores fraquezas soviéticas naqueles tempos era sua baixa capacidade de atingir alvos estratégicos nos norte-americanos, visto seu arsenal limitado em alcance e velocidade. Ter mísseis em Cuba resolveria completamente a questão, além de colocar pressão no arsenal nuclear americano instalado na Turquia, a poucos minutos de voo da fronteira soviética.
A CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos, estava ciente da reunião e do que havia sido tratado. Em um voo de rotina sobre Cuba, um U-2 identificou e confirmou o maior temor da Casa Branca: havia mísseis com capacidade nuclear na ilha.
As fotografias deixavam claro que os mísseis R-12 de médio alcance e R-14 de alcance intermediário estavam sendo montado em instalações militares cubanas. Era o dia 16 de outubro de 1962.
Por vários anos, Washington e Moscou buscaram manter o controle das tensões, que só voltaria a crescer uma década depois. Ironicamente, hoje, 60 anos depois as relações entre os Estados Unidos e agora a Rússia voltaram a atingir níveis preocupantes, ainda que muito longe da realidade daquele mês de outubro de 1962.
O U-2 era em 1962 o mais avançado avião de inteligência do arsenal dos Estados Unidos, voando em grandes altitudes e com suas câmeras tendo capacidade de varrer amplas áreas de terreno em poucos minutos. Apenas dois anos antes, um U-2 havia sido abatido na União Soviética, demonstrando sua agora fragilidade contramedidas antiaéreas soviéticas. Um míssil S-75 Dvina havia encerrado em maio de 1960 a superioridade absoluta do U-2. Mesmo ciente que seus U-2 não podiam mais voar impunimente sobre território hostil, os Estados Unidos continuavam usando seus aviões sobre Cuba que agora estava fortemente armada.
No dia 27 de outubro de 1962, apenas dois dias antes do fim da crise, o major Rudolf Anderson perdeu a vida quando seu U-2F foi atingido por míssil S-75. Porém, no dia 9 de outubro o avião pilotado pelo major Richard Heyser tirou 928 fotos que detalharam a construção de um complexo de lançamento de misseis R-12 Dvina em San Cristóbal, dando início ao que o mundo conheceria como a Crise dos Mísseis de Cuba.
Após a frustrada tentativa da invasão da Baia dos Porcos os cubanos receberam novos MiG-21, que foi um dos mais poderosos caças de seu tempo. Equipado com o motor Tumansky R-25-300 que gerava então impressionantes 15.600 lbf com pós-combustores, o MiG-21 era armado usualmente com dois misseis R-3S de curto alcance.
Com velocidade máxima de Mach 2 (aproximadamente 2.175 km/h) e alcance de 660 quilômetros, os MiG-21 tinham capacidade de defender a ilha de Cuba com ampla facilidade.
Os únicos B-47 que se aproximaram do teatro de combate foram os RB-47, sua versão de reconhecimento aéreo. O bombardeiro que fez seu primeiro voou em 1947 jamais foi usado em operação real, mas recebeu um radar especial e câmeras de grande abertura, que foram instalados no compartimento de bombas, passando a sobrevoar o território soviético e cubano com frequência. Embora nenhum RB-47 tenha sido abatido em Cuba, três foram perdidos em acidentes entre setembro e novembro de 1962 durante a Crise dos Mísseis, vitimando onze tripulantes.
Derivado direto do Boeing 367-80 ou Dash 80, que deu origem ao 707, o C-135 é uma variante cargueira complementar aos reabastecedores KC-135. Embora sejam ligeiramente diferentes, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a compra dos aviões sob argumento que eles poderiam substituir a frota já limitada e envelhecida de C-124 Globemaster II e C-133 Cargomaster. Foram produzidos sessenta C-135 Stratoliner, que embora sejam um pouco menores e mais estreitos que os 707, se tornaram fundamentais na logística militar dos Estados Unidos por vários anos. Em Cuba um C-135 foi perdido após uma aproximação mal sucedida na base de Guantanamo.
Os KC-135 Stratotanker tinha apenas cinco anos de serviço ativo quando passaram apoiar as missões de reabastecimento aéreo nas missões sobre Cuba. Os KC-135 foram responsáveis por reabastecer especialmente os U-2 que realizaram longas missões sobre o território cubano. Embora voando dentro do alcance radar e da altitude de ação dos mísseis soviéticos, as missões de reabastecimento ocorriam sempre em águas ou território norte-americano. Era uma forma de neutralizar as ameaças durante um procedimento bastante demorado e que tornava ambos aviões alvos fáceis para a defesa aérea cubana e soviética.
Os soviéticos tinham ciência que seus milhares de Il-28 não eram os bombardeiros adequados para atacar nenhum alvo norte-americano. O alcance máximo de 2.180 quilômetros era consideravelmente menor quando a carga de até 3.000 quilos de bombas era instalada. Isso fazia dos Il-28 ideais apenas para ações na fronteira da Otan na Europa, nada muito além. Quando foram deslocados para Cuba os Il-28 estavam agora confortavelmente próximos da fronteira inimiga, podendo atingir alvos profundos no território continental dos Estados Unidos.
Agora os soviéticos tinham como atingir alvos em Nova York e Washington, além de toda região sul e central. A retirada dos Il-28 foi um dos pontos mais difíceis das negociações, que só encerraram em 20 de novembro, quando os últimos bombardeiros leves foram desmontados e levados de volta para a União Soviética.
Errata: O alcance do MiG-21 é de 660 quilômetros e
não 60 quilômetros como informado originalmente. O texto foi corrigido.