Privatizações em debate

Governo adia para o fim do ano anúncio de mais concessões de aeroportos enquanto chegam ao mercado brasileiro inovações para os terminais, como rastreadores de bagagem e sistemas baseados em biometria

Por: Donna Oliveira Publicado em 22/05/2012, às 07h50 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45

A Airport Infra Expo, feira com soluções aeroportuárias promovida no final de abril, em São Paulo (SP), esquentou as discussões em torno da privatização de aeroportos brasileiros. Infraero (Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária), Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e SAC (Secretaria de Aviação Civil) estiveram no centro da berlinda. A resposta mais relevante veio do ministro-chefe da SAC, Wagner Bittencourt (foto). Segundo ele, a conclusão do plano de outorgas dos aeroportos, que definirá outros aeroportos a serem concedidos à iniciativa privada além de Guarulhos, Brasília e Campinas, foi adiada do primeiro trimestre para dezembro deste ano. Nesse plano de outorgas o governo elencará os terminais que serão concedidos à iniciativa privada e os que ficarão sob a responsabilidade da União, recebendo investimentos do Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC). Durante o evento, o secretário-executivo da SAC, Cleverson Aroeira, preferiu não antecipar os nomes dos próximos aeroportos a serem privatizados, mas, informalmente, parece certo que Confins e Galeão irão a leilão.

O balanço das primeiras concessões de aeroportos brasileiros a consórcios privados mostrou-se positivo. Pelo menos é o que se pôde constatar nas principais conferências que aconteceram durante a Airport Infra Expo. O que se ouviu dos especialistas é que a estrutura atual instalada não está habilitada para servir a demanda, é insuficiente. E com a concessão estima- -se que haverá a expansão de qualidade dos terminais, a introdução de competição no sistema aeroportuário e a incorporação de novas informações para o setor. "Com a concessão, teremos mais investimentos, mais cargas comerciais, mais concorrência e melhores preços praticados nos serviços dos aeroportos sem aumento de tarifa aos usuários", acredita Aroeira, da SAC.

O diretor de operações da Infraero, João Marcio Jordão, endossa o discurso da SAC. Segundo ele, a concessão proporciona agilidade no processo de contratação, novas fontes de investimento para melhoria da estrutura aeroportuária, aumento dos resultados pela criação de novos negócios e melhor exploração dos terminais. "O desafio", diz Jordão, "é monitorar para que não haja aumento de custo ao passageiro e manter o equilíbrio financeiro". Ainda de acordo com o executivo, a Infraero tem aumentado o faturamento cerca de 20% ao ano nos últimos anos. "Com a concessão, continuará atuando junto às empresas vencedoras das licitações, entretanto como minoritária, com controle de 49% das ações. Por isso, estamos passando por uma nova estruturação com objetivo de diminuir custos diretos e indiretos, com foco no incremento de receitas comerciais".

O tempo para a reorganização dos terminais deve chegar a 22 meses, estimam os especialistas. De acordo com Clarissa Costa de Barros, gerente técnica de tarifas da Anac, as concessionárias não demonstraram preocupação com o tempo do investimento. "É um investimento agressivo, mas cabível", afirma. Sobre a fiscalização do cumprimento das regras a serem estabelecidas, ela é incisiva: "A regulamentação e o pessoal serão os mesmos. Precisamos de uma reorganização interna da Anac, mas não será complexa nem tão diferente da existente".


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Airport Infra Expo apresentou novidades como a leitura de passageiros por ondas milimétricas

Fora das salas de conferência, outro assunto dominou os círculos em torno da privatização de aeroportos no Brasil. O jornal Valor Econômico divulgou que o governo vai exigir trocas de operadores que integram os consórcios vencedores das licitações para administrar os aeroportos de Guarulhos, Brasília e Campinas. O argumento seria o de que alguns dos operadores dos grupos vitoriosos no leilão não têm experiência de gestão de aeroportos de grande porte. A Anac contestou a informação, em nota ofi cial: "No dia 5 de abril, a Anac homologou o resultado do leilão para a concessão dos aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília. A celebração dos contratos de concessão está prevista para o dia 25 de maio. Assim, é improcedente a informação de que o governo exigirá a troca dos operadores aeroportuários que compõem os consórcios vencedores do leilão de licitação", informa o documento, deixando claro que novas empresas poderão ser absorvidas pelos consórcios para dar suporte às operações. Para a segunda rodada de concessão, que provavelmente acontecerá no ano que vem, o governo deve ser mais rigoroso nas exigências em relação aos operadores dos consórcios.

SOLUÇÕES FUTURISTAS
Na segunda edição da Airport Infra Expo foram apresentadas inovações com enfoque principalmente no passageiro. Ao longo dos seis mil metros do pavilhão do Transamérica Expo Center, 134 expositores de 18 países marcaram presença, com evidente interesse no mercado brasileiro, que demonstra forte potencial de crescimento do volume de passageiros, além de atrair investimentos por conta de eventos como a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016. Na maioria dos estandes foram demonstradas soluções já implantadas em outros países ou com uso iniciado há algum tempo no Brasil.

A gama de expositores estendia-se por toda cadeia de fornecedores de equipamentos e serviços para aeroportos. De controle de tráfego aéreo, comunicação, navegação e meteorologia a ground support, construção, design, operações, meio ambiente, segurança e tecnologia da informação. Alguns desses demonstradores se reuniram para formar o Terminal do Futuro, um espaço cenográfi co de 700 metros quadrados que simulava um verdadeiro terminal de passageiros. Pela área foram dispostos equipamentos e tecnologias presentes apenas nos aeroportos mais modernos do mundo. Assim, os visitantes puderam ter a sensação de estar num aeroporto com sistemas operacionais de ponta.

Entre os sistemas presentes no terminal do futuro estava o da Smiths Detection, com equipamentos voltados para a segurança aeroportuária. Entre eles estava a Eqo, máquina que faz leitura em 360º do passageiro e identifi ca qualquer volume que não faça parte da sua anatomia. A leitura é feita em micro-ondas (ou ondas milimétricas), o que reproduz da pessoa em formato de desenho, mantendo sua privacidade sem deixar de detectar a presença de substâncias ilegais. Outra solução apresentada foi o Ionscan 500DT, que faz a detecção simultânea de vestígios de explosivos e narcóticos. Com formato ergonômico que lembra o de uma colher, o bastão é passado sobre áreas suspeitas e depois encaixado numa caixa que lê a amostragem e verifi ca a existência de materiais ilegais.

A Sita mostrou em seu estande a tecnologia baseada em biometria, que dispensa o uso de documentos físicos e o passageiro é identifi cado por suas características físicas únicas - o formato do rosto, a impressão digital e a íris. A empresa apresentou a solução por meio de um equipamento que deve ser instalado ao lado do balcão da companhia aérea. Uma vez feito o cadastro do usuário, ele não terá de apresentar passaporte, carteira de identidade ou cartão de embarque. No check-in é confi rmado que o passageiro está no voo e, ao passar pelo embarque, basta olhar para a máquina que reconhece a íris e emite o número do assento.

A Kieling e Dittrich Tecnologia, empresa do Rio Grande do Sul, atraiu muitos visitantes ao apresentar uma solução que difi culta a perda ou o extravio de bagagem. Com chip inserido no cartão de embarque e em etiqueta pregada na mala que faz a identifi - cação por radiofrequência (tecnologia RFID - radio-frequency idetifi cation), o passageiro acompanha por meio do celular o trajeto de sua bagagem. Quando a mala é embarcada e desembarcada, o usuário recebe via mensagem de texto as informações e, assim, ele mesmo faz a monitoração de seus pertences. A terceira edição da Airport Infra Expo está confi rmada para o ano que vem, entre os dias 22 e 24 de maio. O plano é que aconteça simultânea à Aviation Expo.