Primeiro americano a entrar em órbita morre aos 95 anos

John Gleen foi um dos eleitos para o programa Mercury e voltou ao espaço em 1998, aos 77 anos de idade

Redação Publicado em 09/12/2016, às 14h00 - Atualizado às 16h09

O astronauta e ex-senador John Glenn faleceu nesta quinta-feira, dia 8 de dezembro, aos 95 anos. O primeiro astronauta americano a orbitar a Terra foi ainda piloto de caça.

Glenn foi um dos sete eleitos para o programa Mercury, o primeiro projeto espacial dos Estados Unidos com objetivo de levar humanos ao espaço. Sua carreira começou na década de 1940, quando voou como piloto durante a Segunda Guerra Mundial em 59 missões de combate. Anos mais tarde, participou da Guerra da Coreia, com 27 missões. Após o final do conflito, tornou-se instrutor de voo, no Texas. Em 1959, foi um dos sete eleitos pela recém-criada NASA para o Projeto Mercury.


Foguete Atlas LV-3B era derivado do míssil balístico SM-65D

Capsulas Mercury em produção. Imagem permite conferir as diminutas dimensões da nave

O jovem astronauta foi o terceiro a ser enviado ao espaço no programa Mercury, se tornando o primeiro a realizar uma órbita ao redor da Terra. Um dos desafios da missão foi colocar a nave em órbita, já que os dois voos anteriores foram sub-orbitais e demonstravam algumas limitações do foguete Atlas LV-3B, derivado do míssil balístico intercontinental SM-65D Atlas. O projeto militar foi concebido para lançamentos de ogivas nucleares em voo balístico suborbital, o que tornava o projeto deficiente para voos orbitais.

O lançamento ocorreu em 20 de fevereiro de 1962, dez meses após o histórico voo de Iuri Gagarin, que em 1961 se tornou o primeiro humano a sair da Terra e o primeiro a realizar um voo orbital. O lançamento da nave Mercury-Atlas 6, batizada por Glenn como Friendship 7, foi realizado no complexo 14, do Cape Canaveral, na Flórida.

Glenn embarcou na Friendship 7 às 11h03, uma hora e meia depois do previsto. O atraso ocorreu por causa da substituição de um componente defeituoso no sistema de orientação do foguete Atlas. A escotilha, que era aberta apenas por fora, foi presa no local às 12h10, porém, um dos parafusos de fixação apresentou uma falha, obrigando a remoção de todos os 70 parafusos, causando um novo atraso de 42 minutos. A contagem foi retomada, mas uma nova falha foi encontrada e uma válvula do motor de oxigênio líquido teve de ser reparada.

Finalmente, às 14h47, quase quatro horas após Glenn entrar no módulo espacial, a missão foi lançada. Dois minutos e 14 segundos após o lançamento, os propulsores foram desligados e separados do foguete. Dois minutos e 24 segundos depois, a torre de escape foi descartada, permitindo a Glenn ter a primeira visão do horizonte, o qual descreveu como “uma bela vista, olhando para o leste através do Atlântico”. Após sentir a última vibração, gerada pelo consumo final do combustível pelos motores, Glenn foi informado que voava a 7.843 m/s, apenas 2 m/s mais lento que o previsto. Às 14:52, a nave estava em órbita. Glenn recebeu a notícia de que estava em uma trajetória que permitiria realizar até sete órbitas, mas logo os computadores do Goddard Space Flight Center calcularam que os parâmetros permitiam fazer quase 100 órbitas. Porém, apenas três órbitas foram realizadas. Após 88,5 minutos, a Friendship 7 reentrou na atmosfera, e pousou no oceano Atlântico.

Após a carreira na NASA, Glenn foi eleito, em 1974, senador pelo estado de Ohio, permanecendo no cargo por 24 anos, atuando como um democrata moderado. Em 1984, tentou se candidatar à presidência, perdendo as primárias para Walter Mondale, que havia sido vice-presidente de Jimmy Carter.

Após 36 anos de sua primeira missão, aos 77 anos, Glenn foi selecionado para tripular a missão STS-95, conduzida pelo ônibus espacial Discovery. Um dos objetivos de sua participação era verificar os efeitos da ausência de gravidade em pessoas idosas. Na nova missão, Glenn ficou nove dias no espaço, quase 13.000 minutos a mais que em sua primeira viagem.

O presidente dos EUA, Barack Obama, prestou homenagem ao astronauta, que considerava um amigo e um herói americano. “John inspirou gerações de cientistas, engenheiros e astronautas que nos levarão a Marte e mais além. Não só para visitar, mas para ficar”, disse Obama. Com sua morte, o país perde um ícone; e Michelle e eu perdemos um amigo.”

Em 1999, a NASA renomeou o centro de pesquisas Lewis, em Ohio, como John H. Glenn Research Center, em homenagem ao pioneiro astronauta.

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