Pilotos negros venceram o preconceito e se destacaram na Segunda Guerra Mundial

Os lendários Red Tails se tornaram famosos pela extraordinária capacidade de combate as forças do nazifascismo

Por Edmundo Ubiratan Publicado em 20/11/2018, às 17h13 - Atualizado às 18h09

Durante a Segunda Guerra enquanto os países aliados combatiam nos campos de batalha e na mídia o nazifascismo, recorrendo aos ideais de liberdade e igualdade, um pequeno grupo de pilotos se destacou por seus aviões com cauda pintada de vermelha. Chamados de Tuskegee Airman, ou Red Tails, esse grupo de pilotos afro-americanos foi o primeiro a ter oportunidade de combater inimigos pelo ar.

Se a propaganda aliada mostrava os males de uma sociedade segregada, os Estados Unidos não viam grande embaraço em manter a comunidade negra sujeitas às leis de Jim Crow, que promulgada no final do século 19 ainda vigoravam em todo o país. Na prática as leis de Jim Crow determinavam a segregação racial em todos os estabelecimentos públicos em território dos Estados Unidos. Isso incluía transporte público, academia, forças armadas, repartições públicas, entre outros.

Apenas em abril de 1939 foi aprovada uma lei que destinava fundos para treinamento de pilotos afro-americanos, visando atender a crescente preocupação de uma situação de guerra em escala global, que já se desenhava na Europa.

Os Curtiss P-40 Warhawk foram um dos aviões utilizados pelos Tuskegee Airman

O então Departamento de Guerra alocou alguns recursos militares em escolas de aviação civil que tivessem dispostas a treinar pilotos negros. Até então era pouco provável que uma escola civil aceitasse um aluno “de cor” (colored people, como eram chamados em inglês). Sendo completamente proibido seu ingresso oficial nas forças armadas.

Os cadetes foram enviados a Tuskegee University, uma histórica universidade para formação de pessoas negras, localizada em Tuskegee, no Alabama. Reconhecida por suas excelência academia, a faculdade se destacou por ser o berço do botânico negro George Washington Carver, que aperfeiçoou as técnicas para cultivo de algodão e melhor aproveitamento do solo.

Os chamados Tuskegee Airman foram designados para duas unidades de aviação do exército dos Estados Unidos, o 332nd Fighter Group e o 477th Bombardment Group, de caça e bombardeiro, respectivamente.

Originalmente o primeiro grupo de pilotos militares negros foi o 99th Pursuit Squadron, ativado na base aérea de Chanute, em Illinois. Um pequeno grupo de 271 recrutas passou a ser treinado a partir de julho de 1941, menos de seis meses antes do ataque a Pearl Harbor, que levaria os Estados Unidos e ingressarem na guerra. Por conta da segregação existente o Tuskegee Airman se destacou por uma série de treinamentos particulares e regras rígidas em seu corpo de combatentes. Um dos diferenciais foi a exigência de um cirurgião afro-americano no grupo, algo que não fazia parte de nenhum procedimento entre os demais grupos de aviação do exército. Para piorar, o alto comando do exército não sabia como enviar os pilotos para a guerra, pois, exigiria a existência de oficiais negros em postos avançados de comando. O que exigiu uma complicada agenda política para atender a todas as demandas. 

O treinamento foi padrão para todos os pilotos, seguindo o mesmo manual e doutrina das unidades do exército.  Contudo, embora o 447th Bombarment Group tenha realizado treinamento com os bombardeiros B-25 Mitchell, o grupo nunca entrou em combate. Enquanto isso, o 332nd Fighter Group, que originalmente incluía o 100º, 301º e 302º esquadrões de caça, se tornou o primeiro grupo de pilotos negros a ser treinado para combater a guerra na Europa. O 99th Fighter Squadron foi o primeiro esquadrão de pilotos negros enviados para o exterior, se posicionando no norte da África, em abril de 1943, sendo na sequência realocado na Sicília, no sul da Itália.

Os Bell P-39 Airacobras voaram apenas três meses com os Tuskegee Airman

 

Inicialmente o 99th Fighter Squadron recebeu como avião o caça-bombardeiro Curtiss P-40 Warhawk, relativamente desfasado em relação aos caças que já estavam em serviço em 1943. Em março de 1944, os 100º, 301º e 302º receberam os Bell P-39 Airacobras, mas apenas três meses depois passaram a voar com os Republic P-47 Thunderbolt. Com a chegada dos novos aviões os pilotos pintaram as caudas de vermelho, passando a serem conhecidos como Red Tails (cauda vermelha, na tradução literal). No ano seguinte receberam os North American P-51 Mustang, avião que associado as marcas vermelhas se notabilizaram com o Tuskegee Airman.

O P-51 Mustang notabilizou o Red Tails. Foto: Max Haynes - CAF Red Tails

Rapidamente o 332nd Fighter Group se destacou durante a escoltas dos bombardeiros na Itália, ganhando a alcunha de Anjos da Cauda Vermelha. Além disso, os Red Tails receberam três Distinguished Unit Citations, uma das mais importantes citações presidenciais, concedida aqueles que se destacam por ser extraordinário heroísmo em ação contra o inimigo.

 

Para quem gosta de cinema, dois ótimos filmes mostram a história dos Red Tails.

Prova de Fogo (The Tuskegee Airman), filme de 1995, do diretor Robert Markowitz, estrelado por Laurence Fishburne, Allen Payne e Malcolm-Jamal Warner, mostra a saga dos cadetes até o combate.

Esquadrão Red Tails (Red Tails), de 2012, dirigido Anthony Hemingway, com destaque para os atores Terrence Howard, Cuba Gooding Jr., Gerald McRaneye e David Oyelowe, destaca o drama e as ações do grupo na Europa. Os efeitos e as cenas de combate são bastante realísticos.

Ao final do conflito, os Red Tails obtiveram as seguintes marcas:

 

992 pilotos formados

1.578 missões de combate

179 missões de escolta de bombardeiros, perdendo 27 bombardeiros em apenas sete missões de escolta.

112 aeronaves inimigas destruídas no ar, 150 no solo e danificando seriamente outras 148.

Foram destruídos 950 veículos no solo, sendo mais de 600 vagões.

Os Red Tails ainda tiraram de combate o navio contratorpedeiro Giuseppe Missori, além de destruir 40 barcos e barcaças das forças do eixo.