Patrulheiro oceânico

Estratégico na vigilância da Amazônia Azul e da camada pré-sal, Lockheed P-3AM Orion devolve ao Brasil capacidade de rastrear ambiente submarino

Rodrigo Cozzato E Ivan Plavetz Publicado em 13/09/2011, às 07h23 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45

Primeira aeronave modernizada pela EADS/CASA faz aproximação para a base do Esquadrão Orungan, em Salvador

O Primeiro Esquadrão do Sétimo Grupo de Aviação (1º/7º GAV) acaba de receber o primeiro de uma série de 12 aviões de patrulha aérea P-3AM Orion encomendados pela Força Aérea Brasileira em 2005. Ainda sem previsão para entrar em operação, o quadrimotor de vigilância oceânica modernizado, com prefixo FAB 7203, aterrissou na base do Esquadrão Orungan, em Salvador (BA), no último dia 31 de julho. A aeronave da Lockheed, variante militar do L-188 Electra, foi totalmente revitalizada pela subsidiária EADS/CASA da Airbus Military, na Espanha, e incorporou radares e sonares capazes de rastrear objetos tanto acima como abaixo do nível do mar.

O novo patrulheiro do Esquadrão Orungan promete recuperar a antiga capacidade da FAB tanto de vigilância aérea sobre o extenso mar territorial brasileiro como de luta antissubmarina. Eles chegam com a missão de proteger a Zona Econômica Exclusiva, mais conhecida como Amazônia Azul, e os investimentos na camada pré-sal, onde estão as principais reservas petrolíferas do país. Os aviões modernizados também chegam para reforçar as operações de busca e salvamento da FAB. Com autonomia para voar mais de 6 mil quilômetros sem reabastecer, o que representa aproximadamente 14 horas de busca, a frota de P-3 terá condições de varrer os mais de 6 milhões de quilômetros quadrados marítimos sob responsabilidade do governo brasileiro, cobrindo, assim, praticamente todo o Atlântico Sul.

O P-3AM comporta de 11 a 16 tripulantes e tem seis consoles de trabalho com os instrumentos de vigilância. Além da revitalização das células, com inspeções e substituição de partes estruturais, a conversão dos P-3A para o padrão "AM" prevê a integração de uma nova e avançada suíte de aviônicos e sensores. Na parte mecânica, os motores originais Allison T56-A-10W do P-3A deram lugar aos T56-A-14, mais potentes. Paralelamente, o P-3AM incorporou um novo painel de comando, fornecido pela Thales Avionics, similar ao existente no CASA C-295 (C-105 Amazonas na FAB), dominado por telas multifuncionais de cristal líquido (MFD) compatíveis com óculos de visão noturna (NVG). O avião, que teve o interior e o exterior remodelados, recebeu ainda instrumentos digitais de comunicação, navegação, controle do motor e piloto automático, bem como um sistema HACLCS (Harpoon Aircraft Command and Launch Control System) para disparar mísseis antinavio Harpoon. Na parte de defesa, o P-3 carregará armamentos como mísseis ar-superfície, torpedos antissubmarinos, minas antinavio e cargas de profundidade.

Variante militar do L-188 Electra tem alcance de seis mil quilômetros e autonomia de 14 horas

Sistema FITS integra informações dos sensores com comunicação, navegação, armas e autoproteção e eleva consciência situacional do ambiente tático

Dentre a tecnologia embarcada dos novos P-3, destaque para o FITS (Fully Integrated Tactical System), um sistema eletrônico digital de alta velocidade que processa volumes grandes de informação. De acordo com a CASA, o FITS é um sistema modular que integra os modernos sensores da aeronave com os sistemas de comunicações, navegação, armas e autoproteção. Esse sistema tático de missão trabalha com um processador de gerenciamento de dados táticos, que controla em tempo real os processos e interfaces dos sensores e do sistema de navegação. A suíte eletrônica de missão do P-3AM é composta por radares de vigilância dotados de funções SAR (Radar de Abertura Sintética), ISAR (Radar de Abertura Sintética Inversa) e MTI (Indicador de Alvos Móveis), bem como por um FLIR (torre móvel giroestabilizada constituída de sensores infravermelhos e eletro-ópticos de longo alcance), ESM/MAD, sistemas de inteligência eletrônica e de sinais (Elint/ Comint), um sofisticado sistema de detecção das condições físicas da superfície do mar e equipamentos de comunicação, como IFF (Indicador de Amigo/Inimigo), data link e receptor AIS (Sistema de Identificação Automática) para localização e identificação de embarcações e receptor de sinais de sonoboias.

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Novo painel tem telas multifuncionais e pilotos contam com óculos de visão noturna

Os seis consoles operacionais do P-3AM são universais e reconfiguráveis por software. Cada um deles possui processador próprio idêntico ao processador tático principal, monitor colorido de cristal líquido de 20 polegadas de alta resolução, duas telas touch screen, um teclado e uma trackball. Além desses periféricos, há a tela de apresentação da situação tática para o piloto, o módulo de gerenciamento de armamentos e sonoboias, entre outros. O sistema conta com uma interface homem-máquina intuitiva e flexível, e arquitetura de sistema aberto que possibilita o uso de equipamentos comerciais (COTS). A arquitetura de hardware do FITS usa processadores de 64 bits, sistema operacional UNIX e VxWorks, utizando o X-Windows, X-Motif e programação em C++.

O Esquadrão Orungan se prepara há mais de cinco anos para a chegada dos Lockheed P-3AM Orion. Além de mudanças estruturais na Base Aérea de Salvador, o 1º/7º GAV capacitou seu efetivo para lidar com o novo patrulheiro aéreo. Foram criados grupos de transição que cuidaram das obras estruturais necessárias para que os P-3AM pudessem operar em Salvador e também da capacitação de pilotos, operadores e equipes de manutenção. Do total de 12 aeronaves P-3 compradas pela FAB, três mais antigas serão utilizadas para reposição de peças sobressalentes.