Sociedade com ingleses da Farnborough internacional celebra 15 anos da Expo Aero Brasil e promete tornar Feira de São José dos Campos uma das maiores do mundo
Donna Oliveira | | Fotos Luciano Porto (Www.Spotter.Com.Br) Publicado em 13/06/2012, às 14h28 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45
Um anúncio promissor marcou a 15ª edição da Expo Aero Brasil, que aconteceu pelo quinto ano consecutivo nas instalações do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial da Força Aérea Brasileira, em São José dos Campos, interior de São Paulo. O evento teve como ponto alto a oficialização da associação da Farnborough Internacional, organizadora de uma das mais importantes exposições aeronáuticas do mundo, a Farnborough Airshow, na Inglaterra, à ExpoAir Exposição e Eventos, empresa responsável pela realização da EAB. "Estão reunidas as condições, no Brasil, para que o país tenha uma das maiores feiras do mundo", avaliou Domingos Meirelles, diretor geral da ExpoAir, por ocasião da assinatura do contrato. Amanda Stainer, diretora da Farnborough, confirmou as expectativas de seus novos sócios: "Enxergamos um enorme potencial do mercado brasileiro". Segundo ela, a ideia de investir no país partiu do grupo ADS (Advancing UK AeroSpace, Defence & Security Industries), que congrega empresas inglesas do segmento aeronáutico.
Com a parceria, os organizadores da EAB têm uma meta bastante ambiciosa. Eles esperam fazer da feira brasileira a terceira maior do mundo. Para o comandante Décio Corrêa, presidente da EAB, o acordo é uma sinalização da confiança internacional na economia brasileira. "Somos um dos três mercados mais promissores do mundo, há oportunidades no Brasil". Com a nova formação, a Farnborough planta no mercado brasileiro sua expertise de mais de 70 anos e, com essa influência, pretende atrair clientes mundo afora, já que passa a ser responsável pela comercialização internacional da feira. A equipe local mantém o foco no país e em parte da América do Sul.
Falcon 900EX da Morro Vermelho, que transportou Fernando Augusto Botelho para as homenagens póstumas a seu pai, Fernando Botelho, durante a EAB |
Perspectivas à parte, o assunto que dominou boa parte das rodas da EAB 2012 foi a regulamentação da cada vez mais conhecida Light Sport Aircraft, ou simplesmente LSA. A categoria, que irá se dividir em experimental e especial, ganhou corpo no país com os esforços da Anac (Agência de Aviação Civil) para padronizá-la, tendo como base normas implantadas em outros países, sobretudo os Estados Unidos. O processo foi iniciado em caráter de experiência e tem a atenção dos empresários do setor; desde os que entraram com o pedido de certificação de voo experimental para aeronaves leves esportivas até os que projetam ou reprojetam os aviões dentro das normas LSA. Entre os expositores, a crença é a de que a padronização da aviação leve e experimental contribuirá para a evolução dos aparelhos, que tendem a incorporar novas tecnologias, tornarem-se mais seguros e, no caso dos enquadrados na categoria especial, reunirem condições para uso comercial.
Para este ano, a expectativa dos organizadores era que 35 mil pessoas comparecessem à EAB. A contagem oficial, no entanto, superou a estimativa inicial e foram computados um total de 45 mil visitantes, que circularam durante quatro dias entre as mais de 150 aeronaves e 120 expositores, com volume de negócios que pode ter superado os R$ 40 milhões. O ponto negativo ficou por conta da falta de condições para chegada de visitantes na feira com seus aviões. No fim de semana, muitos pilotos precisaram dar meia-volta ou se dirigir ao Aeroclube de São José dos Campos por falta de espaço no pátio de estacionamento de aeronaves disponibilizado pela EAB.
Esquadrilha BR Aviation (no alto); Amanda Stainer, da Farnborough International, Décio Corrêa, da EAB, e Domingos Meirelles, da ExpoAir, durante assinatura da parceria (acima): FK9, da FK Lightplanes (com pintura azul); CTLS, da Flight Design (abaixo); e o Conquest 180 Light Sport, da Inpaer
Esquadrilha BR Aviation (no alto); Amanda Stainer, da Farnborough International, Décio Corrêa, da EAB, e Domingos Meirelles, da ExpoAir, durante assinatura da parceria (acima): FK9, da FK Lightplanes (com pintura azul); CTLS, da Flight Design (abaixo); e o Conquest 180 Light Sport, da Inpaer
A VEZ DOS LSA
Na corrida pela certificação LSA, ou ALE (Aeronave Leve Esportiva), na versão brasileira, quem já está em fase adiantada é a Inpaer. O fabricante paulista modificou o ultraleve Conquest 180 e o transformou no Conquest 180 Light Sport, ajustado às regras LSA norte-americanas. A grande diferença está no peso máximo de decolagem, uma das maiores exigências dos novos aparelhos leves esportivos. A aeronave passou de 750 para 600 quilos, ganhou um shape mais slim, aumentou em 20% o estabilizador vertical e adotou para-brisa ligeiramente inclinado. O avião cumpre os requisitos da norma ASTM International (American Society for Testing and Material) e tem CA (Carta de Aeronavegabilidade) provisória para voo de experiência. O experimental custa R$ 195 mil. A Inpaer já trabalha no Conquest 180 Light Special, a linha comercial das aeronaves leves, seguindo as normas estrangeiras da SLSA (Special Light Sport Aircraf). "Estamos trabalhando nessa certificação há dois anos, tudo com o software SolidWorks, da Dassault, e vamos inaugurar em breve a fábrica em São João da Boa Vista (SP)", explica Caio Jordão, diretor técnico da Inpaer.
A alemã Flight Design, representada no Brasil pela Just Fly, esteve presente pela primeira vez na feira com seu CTLS, uma das principais aeronaves certificadas na LSA. O CTLSi, que possui o novíssimo motor injetado Rotax 912iS, ainda não está disponível para vendas no Brasil. Mas estão abertas as encomendas para o CTLS com painel totalmente digital, composto por sistemas Dynon Avionics e Garmin. O CTLS com aviônica básica custa € 87.950, preço FOB. O Rotax 912iS, aliás, pelo termômetro da EAB, vem fazendo estrondo. Por causa dele, o alemão Dynamic WT9, representado e montado no Brasil pela Edra Aeronáutica, passou por uma reprojeção. O capô foi preparado para receber o 912iS, que possui injeção e ignição eletrônicas. As polainas, os winglets e as janelas traseiras também tiveram refinamentos aerodinâmicos. O WT9 reprojetado é vendido a partir de US$ 132 mil, por enquanto sem o 912iS. Durante a EAB, a Edra comemorou bons negócios. "Vendemos ou deixamos encaminhados pelo menos sete contratos", revela Rodrigo Scoda, diretor-presidente da Edra.
Também proveniente da nova safra de aviões LSA, o tcheco Evektor EuroStar SLW, representado no Brasil pela Nova Aeronáutica, chamava a atenção dos visitantes pela robustez, cabine larga de 1,18 metro e plex que contém uma barra de proteção central ligada à célula de sobrevivência. A novidade ficava por conta de uma bicicleta elétrica dobrável que vem no bagageiro. O EuroStar SLW é vendido a US$ 117.100. Outra representante da categoria LSA era o alemão FK9, da FK Lightplanes, comercializado pela nova FK- Brasil. Em processo de certificação ALE, a aeronave possui paraquedas balístico - consagrado pela Cirrus -, asas dobráveis e sistema de reboque de planadores. O couro dos assentos é o mesmo utilizado pela automotiva Audi. A versão básica do FK9 custa € 83.572.
Ainda entre os ultraleves, destaque também para o Quasar, modelo projetado no Brasil, do zero, e fabricado em Franca (SP) desde 2007. Segundo Omar Pugliesi, diretor da empresa, existem 28 modelos já entregues, seis deles exportados, e cinco em produção, a um preço de R$ 170 mil. "Temos dois modelos, o semiacrobático Fast e o de instrução Lite, com emprego de técnicas de fabricação que nos permitiram desenvolver itens aeronáuticos próprios, como roda e disco de freio, além de rebites cravados. É uma aeronave muito econômica, faz dois litros por hora", garante Pugliesi. No estande da Quasar, outra novidade. O comandante Marco Piagentini prospectava clientes para o dois lugares Prime, da italiana Black Shape, que virá para o Brasil. Trata-se de uma aeronave de asa baixa com fuselagem em fibra de carbono. "É um avião de € 140 mil", diz Piagentini.
Ao lado, novo Cirrus SR22 Max; acima, Quasar Lite, da Quasar Aircraft; painel do Robinson R66; e, na p. oposta, o Dynamic WT9, vendido no Brasil pela Edra Aeronáutica
Uma das boas novidades brasileiras da feira não estava exposta em estande, mas, sim, no papel. Ou melhor, em um banner. É o Volato 200, nova aposta da Volato Aviões e Compósitos, de Bauru (SP), para entrar no mercado dos LSA. "Com a normatização da nova categoria, os fabricantes têm a opção de vender um avião pronto, e não somente kits", afirma Marcos Vilela, diretor industrial da Volato. A estimativa dele é que o LSA de dois lugares, cujo projetista Richard Trickel morreu em dezembro último, chegue ao mercado dentro de 20 meses. A empresa abriu encomendas com preço inicial de US$ 100 mil. Exposto na feira e ensaiado nesta edição por AERO Magazine (leia na página 20), o Volato 400, desde janeiro último, esta disponível como kit. O pacote completo das partes de fibra custa US$ 50 mil. O modelo de quatro lugares pronto é estimado em US$ 180 mil. "O Volato 400 é para quem utiliza a aeronave como meio de transporte e ferramenta de trabalho. Já o 200 é para quem curte aviação e gosta de fazer pequenas e médias viagens", diz Zizo Sola, diretor comercial da Volato.
COOPERAÇÃO TECNOLÓGICA A edição da EAB foi marcada por parcerias. Além da união de Farnborough e ExpoAir, o Cecompi (Centro para Competitividade e Inovação do Cone Leste Paulista) assinou um Acordo de Intenção com o DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). A associação firma uma cooperação no desenvolvimento de inovações e soluções tecnológicas, o que deve refletir em melhoria na cadeia produtiva. |
Saindo da categoria experimental, o estande da Cirrus era o único com aviões leves homologados. O novo SR22 MAX, desenvolvido com foco no público brasileiro, trazia a novidade do quinto assento. "Ele tem telefone por satélite, que pode ser usado em voo ou no solo, além de obter informações meteorológicas atualizadas, em tempo real", diz Sergio Beneditti, da Cirrus do Brasil. O interior de couro, o espaço interno amplo, as janelas grandes e o investimento em equipamentos embarcados, como o detector de proximidade de aeronaves TCAS (Traffic Collision Avoidance System), que mostra eletronicamente os aviões em voo num raio de 20 km, segundo o fabricante, foram pensados nas prioridades do brasileiro na hora de escolher um avião. O SR22 nacionalizado está disponível com preço reduzido, por tempo limitado, a US$ 669.500. Outra aeronave fora do eixo experimental exposta era o Robinson R66, representado pela Audi Helicópteros. O modelo é uma versão renovada do R44, com cinco lugares, motor a reação com potência de 300 HP e bagageiro externo com capacidade de transportar 136 quilos. O GPS fica no console do piloto, um Garmin 530, e a cabine possui ar condicionado. O prazo de entrega, no Brasil, é de 14 meses. O valor de venda do helicóptero nacionalizado é a partir de US$ 1.080.000.