Gripen NG se destaca por tecnologias de combate concentrado em rede, usando o mesmo conceito aplicado pela Embraer em aeronaves da FAB
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 09/12/2016, às 21h22 - Atualizado às 22h03
Envolvido em mais uma polêmica, o novo caça brasileiro se destaca por sua tecnologia e capacidade de combate. As investigações da Polícia Federal apontam tráfico de influência por parte do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outras três pessoas, entre elas um dos filhos de Lula, Luis Cláudio. O Ministério Público de Brasília acusa Lula de ter supostamente negociado sua influência sobre o contrato assinado com a Saab, enquanto seu filho teria recebido ao menos R$ 2,5 milhões de empresários ligados a supostos esquemas, que envolvem ainda acordos com montadoras de automóveis na prorrogação de incentivos fiscais. As investigações ocorrem no âmbito da Operação Zelotes da Polícia Federal.
Ainda assim, analistas militares de todo o mundo apontam o Gripen NG como um dos mais modernos e poderosos caças da atualidade. Reunimos as principais características sobre o futuro caça brasileiro.
O Gripen NG está entre os mais avançados projetos entre os chamados Euro-Canards, que inclui o Rafale e o Typhoon e emprega uma série de tecnologias similares às utilizadas no norte-americano F-35 Lightning II. Mesmo sendo um caça multiemprego de pequenas proporções, o novo avião incorpora recursos NCW (Network-Centric Warfare), ou guerra concentrada em rede. A tecnologia permite que todos os aviões em voo e os centros de controle sejam centralizados em uma complexa rede que permite ao piloto desempenhar todas as missões designadas com precisão enquanto o quartel general e órgãos de inteligência acompanham o desenrolar da guerra. Uma das virtudes da aeronave, dentro do conceito NCW, é o fato de o avião radar E-99, projetado pela Embraer, contar com uma série de soluções desenvolvidas pela Saab.
Além disso, toda a atual frota da FAB, composta pelos Super Tucano A-29, Northrop F-5M e AMX A-1M foi desenvolvida para operar dentro do conceito de guerra centrada em rede, permitindo, assim, que as aeronaves de combate da força aérea brasileira possam atuar em conjunto e de forma eficaz via datalink.O Gripen NG (Next Generation) é uma evolução da família Gripen lançada no final da década de 1980. Mesmo contando com uma plataforma básica, apresenta um enorme salto tecnológico em comparação com as versões anteriores. As melhorias são tão abrangentes que fazem do Gripen NG uma aeronave praticamente nova, em um avanço similar ao que ocorreu com o F/A-18 Hornet e o F/A-18 Super Hornet ou o F-16C/D e o F-16E/F.
O projeto prevê a integração de um conjunto completo de sensores, com flexibilidade na integração de armas, o que permitirá a utilização de armamentos desenvolvidos por diversos fornecedores ao redor do mundo. Um dos destaques é a capacidade de disparar, ainda durante a fase de desenvolvimento, os mísseis R-Darter e A-Darter, desenvolvidos pela África do Sul, em parceria com o Brasil, assim como os MAA-1 Piranha, Derby, Amraam, Asraam, Meteor, Iris-T e Sidewinder, Python IV e Python V.
Como se tornou padrão no mundo militar, o Gripen NG poderá receber novos sistemas de armas em desenvolvimento, já que o acordo com Brasil prevê não apenas acesso aos códigos-fonte, mas também alterações, conforme as necessidades. Tal capacidade permitirá que a Força Aérea opere uma vasta gama de armamentos. Qualquer sistema bélico deverá ser compatível com a plataforma NCW, assim como já ocorre com o A-Darter. Recentemente, a Saab postergou o primeiro voo do protótipo com o objetivo de obter um software de controle e missão maduros logo no primeiro voo.
O novo avião faz parte da chamada geração 4++, algo superior aos caças de quarta geração, desenvolvidos entre o final dos anos 1970 e 1980, e ligeiramente inferiores aos atuais caças de quinta geração, em termos de tecnologias embarcadas. Os requisitos para um caça ser considerado de 5ª geração são capacidade furtiva (stealth), dispor de redes para ambientação de combate, aviônica integrada aos sensores a bordo, fuselagens de alto desempenho, supercruise, integração com armamentos de 5ª geração e capacidade de multiemprego. Embora o Gripen NG não tenha capacidade stealth pura, seu design e os materiais compostos empregados na fuselagem reduziram significativamente sua assinatura nos espectros visível, infravermelho e eletromagnético (radar). Além disso, conta com sistemas de guerra eletrônica e de autoproteção similares aos de 5ª geração, incluindo um dos mais poderosos radares AESA (Active Electronically Scanned Array), o ES-05 Raven, que poderá ser produzido no Brasil. Em 2010, a fabricante Selex-Galileo e a brasileira Atmos Sistemas assinaram um memorando de entendimento para uma parceria na produção do aparelho. Outra característica interessante é que o ES-05 Raven pode ser instalado também no F-5M e no A-1M.
O ES-05 Raven é o único radar da categoria com uma placa oscilante móvel (swash plate). Basicamente, a antena do radar foi construída a partir de pequenos elementos que, unidos, formam uma antena. A vantagem é que cada um dos elementos pode ser controlado individualmente, permitindo ao sistema trabalhar simultaneamente em diversas funções e cobrindo ângulos de mais de 100°.
Armamento (Air-to-Air) |
Saab JAS 39E (Gripen NG) |
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Fabricante Saab e Embraer Tipo Caça multimissão monoposto Dimensões Comprimento 14,10 m Envergadura 8,60 m Altura 4,50 m Pesos Máximo de decolagem 16.500 kg Combustível 7.000 kg Carga útil 7.200 kg Desempenho Velocidade máxima Mach 2 Velocidade supercruzeiro Mach 1,2 |
O novo Gripen será impulsionado pelo GE F414G, um motor modular, com pós-combustão de baixa razão de diluição (bypass ratio) e eficiência no consumo de combustível. A taxa de empuxo anunciada pelo fabricante é superior a 98 kN (22.000 lbf), o que representa 20% mais empuxo do que o motor anterior, permitindo ao Gripen NG manter supercruise de Mach 1.2, mesmo com o arrasto aerodinâmico provocado por armamentos em seus cabides alares. Atualmente poucos caças no mundo dispõem de capacidade supercruise, ou seja, voar supersônico sem o uso dos pós-queimadores, o que representa maior alcance e menor risco de ser visto por sistemas inimigos. O primeiro avião a dispor de tal tecnologia foi o norte-americano F-22 Raptor.
O raio de ação, obtido graças aos grandes tanques de combustível na configuração CAP (Combat Air Patrol) permite um raio de combate de 1.300 km (700 nm), com mais 30 minutos sobre a área. Já o alcance de traslado é de aproximadamente 4.000 km (2.200 nm).
Outra característica interessante do avião é contar com um painel digital totalmente integrado e num display único, similar ao utilizado pelo F-35. Recentemente, a brasileira AEL Sistemas entregou à Saab a versão preliminar do software que demonstra os conceitos que será usado nos caças Gripen da força aérea brasileira.
No final de novembro, a Saab e Embraer inauguraram o Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen (Gripen Design Development Network - GDDN), em Gavião Peixoto (SP). O GDDN será o hub de desenvolvimento tecnológico do Gripen NG no Brasil para a Saab e a Embraer, junto às empresas e instituições brasileiras parceiras: AEL Sistemas, Atech, Akaer e Força Aérea Brasileira, por meio de seu departamento de pesquisa DCTA.
O GDDN contempla o ambiente e os simuladores necessários para o desenvolvimento dos caças. Além disso, o GDDN está conectado à Saab na Suécia e aos parceiros industriais no Brasil, assegurando transferência de tecnologia e desenvolvimento eficientes.
Fontes: Sukhoi e Saab
Comparativo* entre o novo interceptador da Saab comprado pela FAB e o mais poderoso caça sul-americano em operação.
Embora o Brasil não tenha nenhum problema político ou ideológico com demais países da região, uma eventual ameaça provavelmente viria de um dos vizinhos. Daí a oportunidade de traçar um comparativo do poder do Gripen NG contra seu maior rival em termos tecnológicos na região, o Sukhoi Su-30MKV, da Venezuela, considerado o mais poderoso avião de caça sul-americano. Trata-se de uma contraposição que se restringe a dados referentes a alcance, raio de ação e poder bélico.
O comparativo entre o raio de ação do Sukhoi Su-30MKV e do Gripen NG é baseado nos dados fornecidos pelos fabricantes e leva em consideração o raio de combate real. O raio de ação leva em consideração a capacidade de uma aeronave de decolar com determinada carga de armamentos mais o combustível necessário para decolar, voar até o alvo, atacar e retornar à base, sem reabastecimento em voo. Um raio de ação de 1.000 km significa que a aeronave tem condições de atacar um alvo distante, no máximo, 500 km. O alcance máximo é baseado na distância máxima que uma aeronave pode voar entre a origem e o ponto aonde chegará apenas com o combustível a bordo. Tanto o raio de ação quanto o alcance máximo são baseados no nível do mar e em condição ISA, portanto, é um dado teórico, que pode variar significativamente em condições reais. O raio de ação fornecido pela Sukhoi é de 1.500 km, voando numa altitude de 17.300 m (56.000 pés), com 5.270 kg de combustível e armado com dois mísseis R-27R1 e dois mísseis R-73E. Com dois reabastecimentos em voo, chega a 8.000 km. Já o Gripen NG, segundo dados preliminares divulgados pela Saab, tem raio de ação de 1.300 km (mais 30 minutos on station) armado com quatro MRAMS e dois SRAMS e com tanque externo.
* Dados baseados nos detalhes publicos divulgados pela Saab e Sukhoi. Os parâmetros reais podem mudar consideravelmente nas versões operacionais, inclusive entre lotes de aviões entregues em diferentes períodos.