Guerra Fria: Os cinco mais exóticos aviões militares

Sucesso de alguns aviões foi tão grande que até hoje são usados, outros eram complicados demais e foram logo abandonados

Por André Magalhães Publicado em 17/12/2021, às 16h05 - Atualizado às 17h48

A Guerra Fria foi um berço de inovações na aviação militar. Muitos projetos de aeronaves peculiares foram desenvolvidas, sendo que, algumas delas tiveram um sucesso e operam até hoje.

Conheça os cinco mais exóticos projetos militares criados neste período histórico no desenvolvimento científico e belíco.

Lockheed Martin YF-12

YF-12 foi usado como base para desenvolviemento do SR-71 | Foto: USAF

Essa aeronave foi precursora do icônico SR-71 Blackbird. Seu desenvolvimento aconteceu na década de 1960, já o voo inaugural ocorreu em agosto de 1963. O seu desenvolvimento teve como base o A-12, uma aeronave de reconhecimento usada pela CIA, a agência de inteligência dos Estados Unidos e que só foi revelada oficialmente nos anos 1990.

Contudo, diferente de seu antecessor e do SR-71 Blackbird, o YF-12 era um interceptador de grande altitude que tinha como principal característica defesa contra bombardeiros.

A aeronave do fabricante Lockheed Martin podia atingir velocidades de Mach 3 e já atingiu uma altitude recorde de 80.257,65 pés (24.462 metros).

Um ponto de destaque da aeronave era sua fuselagem com liga de titânio, pois devido as grandes velocidades cercas superfícies do YF-12 podiam chegar a mais de 200ºC.

Fuselagem da aeronave era feita de titânio para suportar as grandes temperaturas | Foto: USAF

Apesar do ambicioso projeto que foi precursor do SR-71, o YF-17 nunca chegou a ser utilizado operacionalmente pelos militares e o projeto foi finalizado em 1968 devido aos altos custos do projeto e também por conta da Guerra do Vietnã.  Ainda assim, o avião obteve um desempenho em combate simulados excepcional, com elevada margem de acerto.

Por conta da alta velocidade que aeronave podia alcançar, isso para fugir de qualquer míssil da época, a Nasa usou o YF-12 em estudos sobre as cargas de voo e o aquecimento estrutural, o que rendeu mais de 120 relatórios técnicos científicos. Os testes com o YF-12 pela Nasa aconteceram até 1979.

XB-70

A Nasa utilizou o XB-70 em diversos experiemntos de voo | Foto: Divulgação

A Guerra Fria foi um berço no desenvolvimento de aeronave militares, em especial os bombardeiros. Pensando nisso, os Estados Unidos criaram uma aeronave grande e rápida, que pudesse voar a grande altitudes e levar uma considerável gama de armas nucleares.

O Valkyrie foi concebido visando fugir dos mísseis soviéticos superfícies-ar (SAM), conhecidos e temidos nos anos 1960. Sua velocidade final superava os 3.300 km/h.

O projeto do XB-70 teve um curtíssimo período de existência, mesmo não voando operacionalmente, a aeronave entraria para a história.Com design aerodinâmico singular, com elevada preocupação com eficiência em elevadas velocidades e com seis motores, o XB-70 era revolucionário em tudo. Seus pneus tinham uma liga metálica misturada a borracha, visando permitir resfriar os pesados conjuntos de rodas durante a corrida de decolagem e depois a elevada energia térmica acumulada o pouso.

Mesmo com o programa cancelado em 1961, a Usaf adquiriu duas unidades para realização de testes aerodinâmicos, de propulsão entre outros. Foram realizados cerca de 129 voos entre os anos de 1964 e 1969. 

Aeronave era equipada com seis motores, contra quatro do Sukhoi T-4 | Foto: Divulgação

E foi em um destes voos que aconteceu um acidente envolvendo não só o XB-70 Valkyrie, mas também um F-104 que colidiu com o avião em maio de 1966, ocasionando na morte do piloto do Joe Walker, da Nasa e o copiloto do XB-70A, major Carl Cross, da Usaf. O piloto do XB-70, Al White conseguiu ejetar, mas ficou gravemente ferido. O acidente ajudou a cancelar definitivamente o complexo projeto.

Hoje, o XB-70 Valkryie é uma peça do grande Museu Nacional da Usaf, sediado em Dayton, no estado de Ohio. O museu é considerado um dos maiores e mais completos do mundo no segmento da aviação militar.

Sukhoi T-4

Semelhanças entre o Sukhoi T-4 e o XB-70 eram grande, no entanto, o norte-americano era maior | Foto: Via Internet

Do outro lado do globo, nascia uma aeronave que faria frente ao bombardeiro XB-70 Valkryie. O soviético T-4. Seu protótipo voou em agosto de 1972 e assim como seu “irmão” norte-americano podia atingir velocidades de mach 3, próximo aos 3.300 km/h.

T-4 contava com nariz rebatível. Foto: Edmundo Ubiratan/AERO Magazine

Se propósito era básico e direto: ser um bombardeiro nuclear e um avião de reconhecimento de longo alcance que pudesse voar a grandes altitudes e a elevada velocidade, conceitos muito comuns no pós-guerra com o advento da era a jato.

Ao contrário do norte-americano, o T-4 era menor, com um comprimento de 44 metros, uma envergadura de 22 metros e um peso máximo de decolagem de 135 toneladas. Para um efeito de comparação com o concorrente norte-americano, o Valkryie tinha 56 metros de comprimento, 32 metros de envergadura e 246 toneladas de peso máximo.

Outra característica do T-4 foi seu nariz móvel, algo bem similar ao Concorde, que já voava nesta época. Porém, o nariz rebaixado exibia um prabrisa quase reto, que causava alguns problemas aerodinâmicos sérios, mas era o que havia para a época.

Contudo, o Sukhoi T-4 apresentou tecnologias que hoje são muito comuns na aviação, o sistema fly-by-wire, com quatro canais

Na época da Guerra Fria resumidamente o objetivo era único: um ser melhor que o outro e ter vantagens frente ao rival. Isso pode ter sido um dos motivos do T-4 ter continuando voando, mesmo que por um curto período após o cancelamento do programa do Valkriyie.

O projeto foi cancelado pelo governo soviético em 1975, onde foram feitos apenas dez voos e nenhum deles atingiu a velocidade de Mach 3, mantendo-se no Mach 1,36 (aproximadamente 1.680 km/h).

Leduc 0.22

Apesar de ousado, protótipo francês não alcançou objetivos esperados | Foto: Edmundo Ubiratan/AERO Magazine

Nesta lista uma aeronave que não seja dos Estados Unidos nem da União Soviética, também vai ganhar um destaque.

Talvez ainda mais exótico que seus rivais. Apresentamos o interceptador francês Leduc 0.22. Está aeronave apresenta uma configuração totalmente diferente das demais da lista desta lista.

O primeiro voo do Leduc 0.22 aconteceu em 26 de dezembro de 1956, a aeronave projetada pelo renomado projetista de motores René Leduc. A ideia era fabricar um avião que, assim como os outros, pudesse atingir grandes velocidades.

Para isso foi idealizado que o Leduc 0.22 utilizasse motores ramjet, que apenas funcionam com altas velocidades, pois é necessário uma alta pressão de ar para haver a combustão. Esse tipo de motor é ideal para voos hipersônicos.

Apesar de ter em mente a teoria, foi apenas no 34º voo, em maio de 1957, que o motor ramjet foi utilizado. Contudo, devido a forma da fuselagem logo ficou claro que não seria possível romper a barreira do som.

Por fim o ambicioso projeto francês foi cancelado pela falha nos testes e o alto custo do ousado interceptador francês.

Tupolev Tu-95

Os Tu-95MS estão passando por uma grande atualização desde 2009 | Foto: Minitério da Defesa Russo

Um avião concebido na guerra fria que até hoje está em serviço, mas neste caso agora pelo lado russo. O Tupolev Tu-95 surgiu na União Soviética e foi herdado pela Rússia como um de seus maiores e mais poderosos aviões.

O Tupolev Tu-95 ou Bear, como é chamado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) fez seu primeiro voo em 1952 e desde então recebeu várias atualizações e versões, até para serviços fora da aviação militar.

O Bear é um bombardeiro estratégico de longo alcance e seu típico desenho aerodinâmico com cores prateadas, junto das hélices contra rotativas, chamam até hoje atenção.

Se desenvolvimento teve como base o Tu-4, uma aeronave baseada no clássico bombardeiro norte-americano B-29, o mesmo modelo que lançou as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki.

Aqui abrimos um parênteses e voltamos a época da 2º Guerra Mundial. Em um determinado momento do conflito três B-29 precisaram pousar na Sibéria devido aos danos causados pelos japoneses. Com isso, sabiamente os soviéticos fizeram engenharia reversa nas aeronaves e acabaram por criar o Tu-4.

Voltando aos tempos da “cortina de ferro”...

Os militares soviéticos precisavam de uma aeronave que pudesse transportar armas nucleares pelo seu vasto território, missão que não era possível com o Tupolev Tu-4.

Então, depois de alguns projetos preliminares cancelados, chegou-se ao Tu-95, que no início foi marcado por um acidente.  Em maio de 1953 um dos protótipos sofreu uma falha, caindo e matando quatro tripulantes e ferindo outros sete.

Encontro entre os bombardeiros Tu-95MS com aeronaves norte-americanas e européias acontecem com frequência

Em 1955, um segundo protótipo voou e o projeto do bombardeiro estratégico foi avançado, e com isso, novas versões da aeronave foram criadas, incluindo modelos civis. Por exemplo, a versão Tu-114 Cleat, uma versão comercial do bombardeiro, que tinha uma fuselagem mais larga e apta ao transporte de passageiros. Também foi desenvolvida uma versão antissubmarino, denominada Tu-142.

Outra versão de destaque e bem ousada foi o Tu-95LAL, esse protótipo tinha por objetivo verificar a possibilidade de ser um avião movido a energia nuclear. Uma aeronave até chegou a voar com um reator a bordo, que nunca funcionou e o programa foi cancelado. O temor era a contaminação radiotiva em caso de acidente.

O sucesso do avião foi tanto que ainda hoje, em pleno século 21, o Tu-95MS é utilizado pela força aérea russa. A previsão é que a aeronave ganhe mais algumas modernizações, passando para o padrão MSM. A previsão é instalar novos aviônicos e sistemas aprimorados, algo semelhante com o que vai acontecer com o clássico bombardeiro norte-americano B-52H Stratofortress.

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