Poucos sabem, mas alemães e britânicos tiveram aviões a jato em combate na Europa
Ernesto Klotzel Publicado em 26/09/2016, às 15h00 - Atualizado às 15h14
A Segunda Guerra foi responsável por um salto sem precedente na indústria aeronáutica. Os aviões que combatiam nos últimos meses da guerra tornavam a maior parte das aeronaves que iniciaram os conflitos, apenas seis anos antes, bastante ultrapassados.
Entre os avanços estava a aplicação prática de motores a reação, iniciando assim a era do jato. Embora bastante limitados, os primeiros aviões a jato mostravam a viabilidade de emprego operacional da nova tecnologia.
O primeiro avião a entrar em serviço foi o alemão Messerschmitt Me 262, que já estava em estudos antes mesmo da Guerra. Problemas com o motor, a metalurgia e a burocracia, porém, atrasaram o programa em vários anos. O Me 262 só passou a ser operado pela Luftwaffe, a força aérea alemã, em meados de 1944. O jato era não só muito mais rápido, mas também melhor armado do que a maioria dos caças aliados.
Embora os números jamais tenham sido oficializados, estima-se que 542 aviões aliados teriam sido abatidos pelos pilotos dos Me 262. Os exemplares capturados no pós-guerra influenciaram projetos como os do North American F-86 Sabre’ e do bombardeiro Boeing B-47 Stratojet.
No outro lado do Canal da Mancha, o engenheiro Sir Frank Whittle também trabalhava num projeto de caça a jato. Embora menos sofisticado que seu rival alemão, o Gloster Meteor foi o primeiro avião a reação dos Aliados e tirou qualquer vantagem estratégica que os nazistas poderiam tercom a exclusividade de uso da nova arma.
Bem antes da guerra, os alemães previam um grande potencial para aeronaves que utilizassem um motor a jato inventado por Joachim Pabst Von Ohain em 1936. Uma semana antes da invasão da Polônia, os alemães realizaram o primeiro voo com o Heinkel He 178, que se tornou o primeiro avião a voar com um motor a jato. O sucesso com a nova tecnologia encorajou o desenvolvimento de uma aeronave mais sofisticada e com potencial de uso real, dando inicio ao projeto 1065, que daria origem ao Me 262.
As especificações básicas para o novo avião eram autonomia de uma hora, velocidade de, no mínimo, 850 km/h e poder de combate similar ou superior aos aviões já existentes no arsenal da Luftwaffe. Por limitações técnicas e facilidade de projeto, os motores foram montados sob as asas que tinham um enflechamento de 18,5°. Embora, até hoje, muitos se refiram ao Me 262 como sendo um dos primeiros aviões com asas enflechadas, seu real objetivo girava em torno do centro de gravidade, já que o pequeno ângulo era insuficiente para ter qualquer efeito sobre o Mach crítico.
Porém, mesmo diante de um projeto revolucionário, os líderes nazistas e diversos oficiais do alto escalão, incluindo o próprio Hermann Göring, acharam que a guerra seria vencida facilmente sem tanta inovação, o que foi responsável pela falta inicial de apoio ao novo projeto. Em meados de 1943, Hitler imaginou o Me 262 como um bombardeiro de ataque ao solo, em vez de seu objetivo inicial de ser um interceptador defensivo, o que atrasou novamente o programa.
Sua introdução em serviço ocorreu apenas em 1944, quando a Alemanha estava recuando e assistindo o incontrolável avanço Aliado. Sua estratégia de ataque havia sido substituída por uma cada vez mais critica tática de defesa. Com os bombardeiros norte-americanos castigando as principais cidades alemãs e destituindo praticamente toda a infraestrutura do, pouco podia fazer o Me 262 para reverter a já eminente queda da Alemanha.
Um piloto familiarizado com o avião, e seus problemáticos motores, poderia conseguir poupar a vida útil da aeronave, atingindo na melhor das hipóteses entre 20 a 25 horas de vida útil para os motores, em lugar das 50 previstas originalmente. Além disso, a substituição dos motores estimada em apenas três horas, na prática levava de oito a nove horas, especialmente pela falta de treinamento das equipes de manutenção e peças malfeitas. Porém, o Me 262 não era uma aeronave difícil de voar, mesmo não contanto com nenhum recurso automático de voo. Os pilotos que tiveram oportunidade de voar o modelo afirmaram que mesmo monomotor ele se comportava bem voando entre 450 e 500 km/h.
O Meteor seguia um conceito relativamente similar a seu rival, porém, com soluções de engenharia bastante diferentes, como as asas elípticas e os motores instalados nas asas, não sob elas. O Meteor é um herdeiro direto do Gloster E.28/39, um monojato experimental que voou pela primeira vez em 1941, dando aos britânicos maiores condições de pesquisar na prática o uso dos motores a jato na aviação militar.
O desenvolvimento do Meteor foi relativamente rápido, com uma série de mudanças, especialmente em relação aos problemas relacionais ao motor Power Jets W.2. Nos anos 1940, a indústria aeronáutica pouco conhecia sobre os processos de produção de um motor à reação, o que os tornavam extremamente complexos e pouco confiáveis. A fase de ensaios em voo não foi fácil e incluiu a perda de uma aeronave em 27 de abril de 1944.
O Meteor F.1 entrou em serviço meses antes do final do conflito, sendo o primeiro oponente do Me 262 em termos de performance. No entanto, o avanço Aliado sobre Berlim e a destruição de toda a infraestrutura e indústria alemã não permitiu o pleno emprego da nova arma britânica.
No lado alemão, não obstante muitas deficiências do projeto do primeiro jato, próprias de um projeto inovador e revolucionário e as disputas internas do partido nazista e a miopia obsessiva do führer em querer bombardear a Inglaterra a qualquer custo levaram a uma série de erros no emprego do Me 262. Mesmo com estratégia de uso limitado, os dois aviões tiveram o mérito de ser o arauto do começo do fim da aviação com motores a pistões.
Na década de 1950, quando o Meteor já era um avião extremamente defasado, o Brasil adquiriu um lote de 62 aeronaves novas do Reino Unido. A versão F.8 e TF.7 estavam entre as últimas produzidas. O modelo teve papel fundamental no início da era do jato na aviação militar brasileira, tendo ainda auxiliado as autoridades quando da chegada do Caravelle, o primeiro jato comercial a voar no país.
O emprego dos jatos na Segunda Guerra foi o prenúncio do fim dos aviões com motores a pistão na aviação de ponta.