Em uma época que a aviação no Brasil era dominada por alemães, o pernambucano Severiano Lins se tornou pioneiro no país
Redação Publicado em 21/02/2020, às 15h30 - Atualizado às 22h46
A aviação comercial brasileira surgiu da iniciativa de investidores e empresários alemães, notadamente Otto Ernst Meyer, fundador da Varig, além do chanceler Hans Luther, incentivador da expansão da aviação germânica na América do Sul.
Durante os primeiros anos, a aviação brasileira teve como pilotos justamente os alemães, parte devido à origem das aeronaves utilizadas pelas pioneiras Varig e Syndicato Condor (posterior Cruzeiro do Sul), e outra pela preferência na contratação de pessoal com alguma experiência, algo até então inexistente no Brasil da década de 1930.
O primeiro comandante brasileiro, porém, não tinha descendência germânica e, sim, portuguesa. Nascido em Palmares, o pernambucano Severiano Lins deixou o trabalho nos engenhos da família para se aventurar na Escola de Aviação Militar do Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro.
Era o 13º na lista de candidatos, mas obteve o primeiro lugar entre os pilotos civis e o quinto posto na classificação geral. Ao se "brevetar” em 1929, ficou apenas um ano na aviação militar, tendo recebido em 1931 um convite para voar no Syndicato Condor. Por sua experiência e habilidades logo foi escolhido como comandante, tornando-se, assim, o primeiro brasileiro a ocupar tal cargo na aviação comercial.
O Junker Ju-52 era considerado um dos mais modernos aviões de seu tempo e foi comandado por vários anos pelo primeiro comandante brasileiro
Em 1936, venceu as provas aéreas da I Semana da Asa, recebendo o prêmio das mãos do então presidente Getúlio Vargas. No ano seguinte, foi convidado a realizar o curso de voo noturno (numa época em que praticamente não existiam voos por instrumento) na Alemanha. Embarcou no icônico dirigível LZ 127 Graf Zepplin, rumo a Europa. A viagem era considerada não apenas uma aventura, mas uma das mais luxuosas experiências da época. Curiosamente, ele realizou a última viagem num dirigível rígido, já que, dias antes, o LZ 129 Hindemburg se perdera em um acidente em Nova York.
Com um histórico de voo impecável, tornou-se comandante de Junker Ju-52 da Condor. Infelizmente, em 13 de janeiro de 1939, menos de oito anos após ingressar na companhia, o primeiro comandante brasileiro morreu num trágico acidente na Serra do Sambê, em Rio Bonito (RJ). O Ju-52 (PP-CAY) voava em condições precárias de visibilidade quando entrou voando na montanha em razão de um erro na carta de navegação, que identificava de maneira incorreta a altitude de toda a cadeia de montanhas naquela região.