O peixe que colidiu com um Boeing 737 em pleno voo

Um Boeing 737 da Alaska Airlines colidiu com um salmão em 1987, em um dos raros casos de 'fish strike' em pleno voo

Por Edmundo Ubiratan Publicado em 26/01/2016, às 12h10 - Atualizado em 06/03/2023, às 14h30

No dia 1º de abril de 1987, os principais jornais dos Estados Unidos noticiaram a colisão de um voo da Alaska Airlines com um salmão. Tradicionalmente, a imprensa americana publica piadas no famoso “Dia da Mentira”, em geral, com notícias absurdas e fantasiosas. Naquele ano, porém, a informação era verdadeira.

No dia 30 de março, o voo 61 decolou de Seattle, WA, com destino a Anchorage, com escalas em Juneau, Yakutat e Cordova. A única alteração na rotina era a presença de um inspetor da FAA (Federal Aviation Administration), que deveria checar a tripulação em rota até o destino final. Ainda assim, nada incomum.

Eis que, na segunda perna do voo, após a decolagem, durante uma curva à esquerda, para evitar as montanhas a oeste, mantendo uma razão de subida constante, os tripulantes avistaram uma grande águia se aproximando pela esquerda, num rumo que coincidia com o da aeronave.

Os pilotos perceberam que passariam sob a ave se o animal prosseguisse em sua rota de voo, mas, em caso contrário, o choque seria inevitável e os danos na aeronave não seriam dos menores. Talvez a águia tenha tido a mesma percepção, considerando que aquele enorme predador branco representava uma séria ameaça à sua vida. Numa ação rápida, o pássaro mergulhou em curva para o sul, largando a presa que trazia em suas garras. Naquele instante, os pilotos e o checador da FAA assistiram em câmera lenta ao inacreditável: um peixe “voava” em direção ao 737.

O salmão atingiu a aeronave pouco atrás da última janela esquerda do cockpit. O barulho seco do impacto foi seguido de um breve momento de silêncio e um frenético scan flow dos instrumentos para verificar a integridade dos sistemas. Após a confirmação de que o avião continuava voando normalmente, os pilotos se perguntavam: “Realmente batemos no que achamos que batemos?”.

Diante do fish strike, a tripulação chamou o despacho da empresa em Juneau e, apesar das circunstâncias, obteve aprovação para levar o Boeing pelo menos até a etapa seguinte. Seria necessária apenas uma inspeção no solo.

Como Yakutat fica numa das regiões mais remotas do Alasca, a empresa teve de enviar um mecânico até lá num pequeno avião. Evidentemente, a notícia chegou ao aeroporto antes das aeronaves e, enquanto o 737 taxiava, uma pequena multidão se aglomerava para ver o avião que havia colidido em voo com um peixe.

Muitos tiveram a certeza de que essa era a desculpa mais absurda para justificar algum problema no avião. Ainda assim, o mecânico descartou qualquer grave dano, sendo que a única avaria no Boeing era um amassado abaixo da janela do cockpit. Já o salmão se resumiu a um risco de sangue e algumas escamas na fuselagem.

Coincidentemente a Alaska Airlines criou a pintura Salmon Thirty Salmon, mas em homenagem a indústria pesqueira do Alasca

 

Muitos acreditam que o “Salmon Thirty Salmon” é uma homenagem a essa estranha história, ainda que a pintura seja oficialmente uma homenagem ao Alasca e à indústria pesqueira, uma das maiores clientes da Alaska Airlines. O nome é um trocadilho com 737, uma brincadeira com a pronúncia de salmon no inglês americano [samn], similar à pronuncia do número 7 [sevn].

Outro caso parecido ocorreu em 2014, quando um Gulfstream GIV do NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) colidiu com um peixe, também alijado por um pássaro, durante a corrida de decolagem na base aérea de MacDill, na Flórida.

O avião conseguiu abortar a decolagem e o peixe foi encontrado na pista durante a inspeção. O dano se resumiu num amassado no bordo de ataque da asa.

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