Polêmica em torno da obra na pista do aeroporto de Porto Alegre
Por André Vargas Publicado em 22/02/2015, às 00h00
A ampliação da pista do Aeroporto Internacional Salgado Filho (SBPA), em Porto Alegre (RS), está em discussão há pelo menos 18 anos, desde o início das obras para a construção de seu Terminal 2. Porém, o tema ganhou urgente relevância quando setores da sociedade civil, capitaneados pelo Conselho Regional de Engenharia do Rio Grande do Sul (CREA-RS), contestaram o atraso para o início da obra e colocaram na pauta a possibilidade de construção de um novo aeroporto internacional, a ser erguido na cidade de Portão ou em Nova Santa Rita, ambas na região metropolitana.
A polêmica ganhou força diante do momento político delicado para o governo federal no Rio Grande do Sul, já que o PT não fez sucessor nas eleições estaduais e a atual chefia da Secretaria de Aviação Civil (SAC) está nas mãos do gaúcho Eliseu Padilha. Os defensores do novo aeroporto dizem que, se a obra não saiu com o governo estadual alinhado ao federal, as chances diminuíram ainda mais diante da nova realidade política. Outra crítica é que a ampliação em 920 metros da pista do Salgado Filho, quando concluída, já estará defasada. Sem contar que o aeroporto continuaria incapaz de embarcar as exportações aéreas gaúchas, já que a pavimento seria incapaz de receber grandes cargueiros, como o 747 e o Antonov. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, só 10% das exportações do Rio Grande do Sul decolam de Porto Alegre. As demais são despachadas via Cumbica, Galeão e Viracopos.
Na soma das queixas, abriu-se espaço para a discussão de que o aeroporto dentro da cidade atravanca o desenvolvimento imobiliário. Nesta conta entra também a Base Aérea de Canoas, sede do V Comar, distante apenas cinco quilômetros para o norte. As duas áreas somadas chegam a 1.200 hectares, com um valor imobiliário estimado de R$ 10 bilhões. Melvis Barrios Jr., presidente do CREA-RS defende uma discussão sobre a necessidade de um novo aeroporto. Os recursos viriam de parcerias com empresas interessadas em investir nos terrenos da base e do aeroporto. “O Salgado Filho está se tornando um porta-aviões na cidade. Ampliar (a pista) é uma visão de curto prazo. Logo tudo estará sucateado, defasado”, diz.
Números e valores |
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A proposta passaria batido em outros lugares, não fosse o pendor gaúcho a debates acirrados e a capacidade de políticos e agentes do governo de meterem os pés pelas mãos. Em 16 de janeiro, pouco antes de o debate ganhar corpo, o ministro Padilha afirmou que não havia necessidade de a pista ser ampliada. Uma semana depois, afirmou ter sido mal interpretado. Nesse meio tempo, a prefeitura já havia gasto parte dos R$ 248 milhões destinados às desapropriações. Em 6 de fevereiro, o presidente da Infraero Antonio Gustavo Matos do Vale revelou à imprensa local que o projeto de ampliação estava parado por causa do hoje ex-governador Tarso Genro, que apoiaria a construção de um novo aeroporto.
Presidente da Associação Nacional em Defesa dos Direitos dos Passageiros do Transporte Aéreo (Andep) e membro da Comissão Especial de Defesa do Consumidor da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RS), o piloto privado Claudio Candiota Filho levou o debate para o Ministério Público estadual. “Essa obra (do novo aeroporto) não sairia em menos de 40 anos por mais do dobro do preço”, afirma. Candiota argumenta que a proposta do CREA-RS é estapafúrdia. “Seria como querer demolir La Guardia, Newark e Teterboro por estarem em áreas valorizadas perto de Nova York. Daqui a pouco vão querer demolir Congonhas, Campo de Marte e Santos Dumont”, diz. Sem contar os atrasos nas obras públicas e o risco de superfaturamento.
Pressionadas, SAC e Infraero passaram a considerar “em análise” a obra de ampliação da pista, estimada em R$ 660 milhões. Em nota, a Infraero afirmou que a nova pista será capaz de receber aeronaves cargueiras tipo 747-400, se levados em conta destino, escalas e quantidade de combustível. Os novos 920 metros de pista evitariam pousos complicados. Em 19 de janeiro, um avião da Azul com destino a Confins teve de fazer um pouso de emergência na base de Canoas, cuja pista tem 471 metros a mais de extensão do que a do Salgado Filho. Em 23 de dezembro, um 767 da American, com destino a Miami, teve problemas e precisou retornar a Porto Alegre. Diante da pista curta, acabou sobrevoando a região metropolitana para alijar combustível e pousar usando quase todo o pavimento, o que gerou reclamações dos passageiros. Se a pista já tivesse 3.200 metros, o pouso teria sido bem mais tranquilo. Antes de tudo isso ser solucionado, espera-se que o Terminal 3 do Salgado filho, previsto para ser entregue para a Copa, fique pronto.
Argumentos de cada lado |
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Pelo novo aeroporto | Pela ampliação da pista |
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