O dia que Senna atingiu os 1.700 km/h

Em 1989 o piloto mais famoso de todos os tempos voo a bordo do caça Mirage III da FAB acima da velocidade do som

Por: Edmundo Ubiratan | Imagem: Divulgação Publicado em 31/03/2019, às 17h00 - Atualizado às 18h54

Há 30 anos o então campeão mundial de Fórmula 1, Ayrton Senna, realizava seu primeiro voo supersônico abordo de um Mirage III da FAB, atingindo a marca de Mach 1.4, correspondente a 1.728 km/h.

Na manhã do dia 29 de março de 1989, dois Mirage III do Esquadrão Jaguar (1º GDA), localizado na então Base Aérea de Anápolis, interceptavam um King Air (PT-ASN) que levava o piloto para uma visita oficial as instalações da Força Aérea.

Ao desembarcar em Anápolis, Senna foi equipado para o voo e recebeu o briefing para embarcar no Mirage III. Segundo relatos da FAB, durante a instrução, Senna afirmou que gostaria de sentir a velocidade do caça, que na época era o principal avião de combate brasileiro. Além de piloto de Fórmula 1, Senna também pilotava alguns aviões da família e iniciava seus passos nas asas rotativas, pilotando também helicópteros.

LEIA TAMBÉM

O aviador Senna – Filho de piloto de avião, o eterno ídolo das pistas de automobilismo voava também no céu

Voo com os Thunderbirds – A bordo de um F-16 do esquadrão de demonstração aérea da Força Aérea dos Estados Unidos

A bordo do Hercules dos Blue Angels – Um voo com direito a manobras de altíssima performance

O comandante do voo seria o tenente-coronel Alberto de Paiva Cortes, que havia recém-assumido o comando do 1º GDA. “Nós queríamos demonstrar a capacidade do Mirage III, realizar algumas manobras e romper a barreira do som” comenta.  “Senna queria, acima de tudo, sentir a velocidade da aeronave supersônica, porque ele queria sentir a diferença entre pilotar um caça e pilotar um carro de Fórmula 1”, disse o agora coronel da reserva.

Ayrton Senna havia sido campeão mundial no ano anterior e iniciava a temporada de 1989, que seria uma das mais memoráveis da história do automobilismo, rivalizando com seu companheiro de equipe, o francês Alain Prost.

 

Voando a 36.000 pés, aproximadamente 11 km de altitude, o caça acelerou até romper a barreira do som, voando a mais de 1.700 km/h. Contudo, a altitude inibe a sensação da velocidade pela falta de referências que demonstrem a aceleração. A pedido de Senna, o piloto realizou um voo a baixa altura, bastante próximo do solo, em um rasante o avião atingiu Mach 0.95 (1.173 km/h), velocidade superior ao voo de cruzeiro da maioria dos aviões comerciais. A velocidade era tão alta que surpreendeu os fotógrafos e cinegrafistas que tentavam registrar o voo.

 

De acordo com relatos de presentes no evento, ao contrário da maioria das pessoas não acostumadas com a força G, Senna não demonstrava qualquer sinal de cansaço ou enjoo – falava bastante e mostrava empolgação com a experiência, inclusive recebendo o controle da aeronave, orientado pelo piloto. Ao aterrissar os membros do Esquadrão Jaguar celebraram o voo abrindo uma garrafa de espumante, ato tão repetido por Senna nas comemorações no pódio da Fórmula 1.

Senna ainda permaneceu com o esquadrão após o voo, onde trocou lembranças e recebeu um certificado do voo supersônico, ainda levando a tarjeta do macacão personalizada com seu nome e o brevê da FAB.

Hoje, o Mirage III, matrícula FAB 4904, utilizado no histórico voo está exposto para visitação no Museu Aeroespacial, localizada no Rio de Janeiro.

FAB Dassault F-16 C-130 King Air Senna Thunderbirds Blue Angles Mirage III