A quantidade de desastres aéreos no Brasil pulou de 70, em 2006, para 158, em 2011. Afinal, o que está acontecendo? E o que operadores podem fazer para reverter essa estatística?
Por: Jorge Filipe Almeida Barros Publicado em 22/05/2012, às 07h24 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45
Voar sempre gerou sentimentos fortes. A paixão dos pilotos pela aviação é tão intensa que, mesmo depois de aposentados, muitos permanecem rondando hangares, acompanhando pousos e decolagens e puxando conversa com os colegas da ativa. Mas essa sensação boa nem sempre se estende ao usuário do transporte aéreo. Muitos passageiros ficam apreensivos com a iminência da viagem. São vários os motivos, mas as notícias que lhes chegam são focadas em acidentes. E não adianta repetir que o transporte aéreo é o mais seguro do mundo, mostrando estatísticas comparativas com outros modais. Simplesmente os números absolutos falam por si. No ano passado, o Brasil bateu o recorde de acidentes aeronáuticos. Este ano, vemos notícias de quase um por semana. Ainda que a frota nacional de aeronaves tenha crescido em torno de 25% nos últimos cinco anos, o número de acidentes pulou de 70, em 2006, para 158, em 2011. Afinal, o que está acontecendo?
É possível que muitos fatores estejam combinados. O mercado aquecido, por exemplo, faz mudar o cenário com o qual estávamos acostumados. Nesses cinco anos, importamos milhares de aeronaves modernas, com novos conceitos de operação. O fenômeno acontece no mesmo instante em que a formação aeronáutica sofre com o atraso tecnológico de nossas escolas e seus currículos ultrapassados, impostos pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Entidade esta que mudou rapidamente de perfil. Da postura paternalista e orientadora do atendente de balcão, que recebia os processos pelas mãos dos interessados, ao protocolo frio da entrada via internet. E as oficinas de manutenção, cujo trabalho aumentou muito, mas não conseguem obter no mercado mecânicos experientes e com domínio da língua inglesa, necessário para o entendimento dos manuais de serviços. Também precisamos considerar a maior exigência que os pilotos sofrem de seus empregadores com relação à produtividade. São frequentes os casos de tripulantes que trabalham em períodos muito além do estabelecido por lei. Enfim, uma miríade de fatores que merece ser bem analisada. O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) mantém em seu site (www.cenipa.aer.mil.br) um estudo detalhado em cada segmento de aviação.
Os fatores que originam acidentes são causados por variáveis ambientais que envolvem os pilotos e suas aeronaves. É importante compreendê-las bem, pois influenciam as decisões tomadas durante toda a operação. Fazer escolhas acertadas em cenários diversos é uma habilidade profissional que deveria ser mais valorizada. Sabendo disso, autoridades aeronáuticas do mundo todo incentivam o estudo do CRM (Corporate Resource Management) já praticado em empresas de transporte aéreo, mais ainda um ilustre desconhecido na aviação geral privada. O CRM enfatiza a boa qualidade das decisões antes, durante e depois do voo. O FAA, órgão que regulamenta a aviação nos EUA, trata esse tema com mais atenção, situando-o em cinco ambientes que podem produzir fatores negativos à segurança. São chamados de "5P".
OBSERVE SEMPRE OS 5PS ● THE PLAN ●THE PLANE ●THE PILOT ● THE PASSENGERS ●THE PROGRAMMING |