Novos aviões, motores e combustíveis

O século 21 marcou a saída de cena dos jatos de primeira geração e a chegada de modelos com performance mais eficiente, que continuam sendo aprimorados

Santiago Oliver Publicado em 22/03/2013, às 08h52 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45

A grave crise que se abateu na economia e, consequentemente no mercado aeronáutico no início do século, fortemente alavancada pelos atentados de 11 de setembro de 2001, levou fabricantes de aeronaves e motores a desenvolver produtos mais eficientes e procurar combustíveis alternativos mais ecoeficientes.

O surgimento de novos aviões foi também consequência da necessidade das companhias aéreas de acelerar a substituição dos seus aviões mais antigos que, além de barulhentos, consumiam muito combustível. Os primeiros anos da última década marcaram a retirada de serviço de grandes quantidades de jatos das primeiras gerações, como os Boeing 727 e 737-200 e os McDonnell Douglas MD-80. De uma hora para outra, empresas como a American Airlines aposentaram dezenas dessas aeronaves, além de toda a sua frota de Fokker 100. Os Boeing 737-300/400/500 - os chamados classics - já haviam começado a ser substituídos pelos 737NG (737-600/700/800/900), que haviam surgido para concorrer com a família Airbus A320 (A318/A319/A320/A321) e entre os aviões grandes, os Boeing 747-100/200, MD-11, DC-10, Airbus A300 e A310, cederam seu lugar aos Boeing 747-400 e 777, e aos Airbus A330/A340, complementados mais recentemente pelo A380.

Mas mesmo todas essas medidas não eram suficientes. Havia necessidade de aeronaves ainda mais eficientes, motores mais econômicos e, principalmente, tentar descobrir combustíveis alternativos, que pudessem substituir o poluente e cada vez mais caro petróleo. E as quatro grandes indústrias aeronáuticas encararam o desafio.

O família Airbus A320neo é composta de versões melhoradas da família A320 em desenvolvimento pela Airbus. As letras "neo" significam "nova opção de motor". A principal modificação consiste na utilização de motores maiores e mais eficientes, que consumirão 15% menos combustível, custos operacionais 8% inferiores, produzirão menos ruído e reduzirão as emissões de óxido de nitrogênio (NOx) em pelo menos 10% em relação aos da série A320. De acordo com a Airbus, os clientes poderão escolher entre os motores CFM International LEAP-X e Pratt & Whitney PW1000G. A estrutura também vai receber algumas modificações, incluindo a adição de sharklets nas pontas das asas para reduzir o arrasto e modificações no interior para o conforto dos passageiros, tais como maiores espaços para bagagem e um sistema de purificação de ar melhorado.

Estruturalmente, o A320neo terá mais de 95% em comum com o A320, mas será feita com novos materiais, tais como compósitos e ligas mais alumínio, o que ajudará a reduzir o peso e, assim, o consumo de combustível. Além disso, os novos materiais reduzirão o total de partes do avião, o que diminuirá os custos de manutenção. A Airbus afirma que oferecerá melhores compartimentos de bagagem e uma cabine mais silenciosa e com um visual mais moderno.

Boeing 737 MAX

A mais nova família de aeronaves da Boeing - 737 MAX 7, 737 MAX 8 e 737 MAX 9, equivalentes aos 737-700, 737-800 e 737-900, respectivamente - teve a sua configuração congelada em 2012, o primeiro voo deverá ser em 2016 e o início das entregas aos clientes em 2017. De acordo com o fabricante, o 737 MAX proporcionará às companhias aéreas a grande economia de combustível que esperam para o futuro. A aeronave traz novos motores, os LEAP-1B da CFM International, que reduzem a queima de combustível e as emissões de CO2 em 13%, quando comparado à maioria das aeronaves de corredor único mais econômicas da atualidade. As atualizações recentes no design da aeronave, inclusive as winglets desenvolvidas com moderna tecnologia, reduzirão o arrasto e melhorarão ainda mais o desempenho do 737 MAX, principalmente em rotas de longa distância.

A Embraer anunciou no início deste ano a seleção dos motores Pratt & Whitney PurePower Turbofan para a futura segunda geração dos jatos comerciais E-Jets, que tem entrada em serviço prevista para 2018. Os novos motores PW1700G e PW1900G têm uma faixa de empuxo de 66,8 kN a 98 kN (15.000 lbf a 22.000 lbf) cada. Juntamente com novas asas de aerodinâmica avançada, moderno sistema eletrônico integral de comandos de voo fly-by-wire, assim como outras evoluções de sistemas, resultarão em importantes melhorias no consumo de combustível, custos de manutenção, emissões poluentes e ruído externo das aeronaves.

A família Embraer 170/190 surgiu no mercado em 2001, quando no dia 29 de outubro o fabricante brasileiro apresentou ao mundo o Embraer 170, o primeiro e menor membro de uma família de jatos na faixa dos 70 a 120 assentos - que ficaram conhecidos como E-Jets -, e se tornaram um sucesso de vendas. A segunda geração de E-Jets será um passo significativo no compromisso da Embraer de investir continuamente nessa linha de jatos comerciais, e complementará uma série de melhorias em curso e atualmente sendo implementadas nos aviões, com grandes benefícios para seus clientes. Mais de 900 E-Jets estão em serviço em todo o mundo. Atualmente, 63 clientes de 43 países já operam ou estão prestes a receber os E-Jets da Embraer.

A Bombardier Aerospace foi a primeira entre os grandes fabricantes a anunciar um avião com promessa de economia significativa de combustível em 2008, com a família CSeries. O modelo deverá preencher a lacuna existente entre o maior produto da Embraer, o E-Jet 195, e o seu CRJ 1000, e os menores aviões de Airbus e da Boeing, o A318 e o 737-600. A empresa anunciou estar fazendo progressos com o protótipo da família e o primeiro voo está planejado para o final de junho de 2013. As aeronaves estarão equipadas com os econômicos motores PurePowerGeared Turbofan PW1500G.

Embraer E-Jet de nova geração

O principal objetivo do fabricante canadense continua a ser o desenvolvimento, otimização e comercialização da família de aeronaves CSeries, destinadas à faixa de mercado dos 100 aos 149 assentos, mas, recentemente, revelou estar desenvolvendo uma versão com configuração de alta densidade para 160 passageiros.

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PW1100G-JM para o A320 Neo

No que se refere à pesquisa por novos combustíveis, no final de março de 2012, Airbus, Boeing e Embraer assinaram memorando de entendimento para o desenvolvimento de biocombustíveis para aviação com custos econômicos acessíveis e desempenho similares aos de origem fóssil. As três empresas líderes da indústria aeronáutica concordaram em buscar oportunidades de colaboração para cooperar com governos e produtores de biocombustíveis para apoiar, promover e acelerar a disponibilidade de novas fontes sustentáveis de combustível para a aviação.

O presidente da Embraer Aviação Comercial, Paulo Cesar de Souza e Silva, o presidente e CEO da Boeing Commercial Airplanes, Jim Albaugh, e o presidente e CEO da Airbus, Tom Enders, assinaram o acordo no Aviation and Environment Summit, promovido pelo Air Transport Action Group (ATAG), em Genebra. O acordo de colaboração apoia a abordagem ampla e variada da indústria da aviação para reduzir as emissões de carbono. A inovação contínua e a dinâmica de competição do mercado leva cada fabricante a melhorar continuamente o desempenho de seus produtos, além da modernização do tráfego aéreo, que é outro elemento crítico para a aviação alcançar um crescimento neutro em emissões de carbono após 2020 e cortar pela metade as emissões do setor até 2050, em relação aos níveis de 2005.

Embraer, Airbus e Boeing já apoiaram diversos voos com biocombustível desde que os órgãos internacionais de normatização de combustíveis aprovaram seu uso comercial em 2011. Enquanto a Airbus está à procura de parcerias no Brasil para promover a utilização de plantas não comestíveis e resíduos orgânicos na produção de combustíveis já em 2014 - além de associar-se com um consórcio australiano para explorar a produção de um biocombustível à base de uma espécie de eucalipto que cresce em zonas áridas -, a Boeing em parceria com Honeywell e UOP (desenvolvedora de tecnologia) formou um grupo para acelerar o desenvolvimento e a comercialização de novos combustíveis sustentáveis para a aviação.

Com o apoio e aconselhamento de organizações ambientais como o WWF e o Conselho de Defesa dos Recursos Naturais (NRDC), o SAFUG (do Inglês Sustainable Aviation Fuel Users Group; ou Grupo dos Usuários de Combustível Sustentável de Aviação na tradução) torna a aviação comercial o primeiro setor do transporte global a se voluntariar às ações sustentáveis na cadeia de suprimento de combustíveis.