Christian Burgos, De Las Vegas Publicado em 07/11/2011, às 13h45 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45
O vice-presidente comercial para Ásia, America Latina e Canadá da Cessna é um brasileiro filho de norte-americanos. Com passagem pelo país antes de se mudar para os Estados Unidos, Robert Gibbs conhece como poucos as necessidades e aplicações de aeronaves em nosso mercado. Nesta entrevista exclusiva, Bob (como é conhecido) fala sobra a vigorosa lista de lançamentos da Cessna, que mostrou na NBAA por que, apesar da crise, ainda é um dos principais fabricantes mundiais de aviões executivos. Ele deu detalhes sobre o Latitude, que classificou como o grande lançamento da Cessna na feira, e reiterou a importância de sua terra natal nas vendas da companhia que o emprega.
Aero magazine - O Latitude é o principal lançamento da NBAA. O que o mais recente integrante da família Citation oferece de novidade?
Robert Gibbs - Principalmente o conforto. Como o próprio nome sugere, o Latitude é o maior de todos os jatos Citation no que diz respeito ao tamanho de cabine e ao espaço interno. É um novo nível para os clientes Citation e do tamanho perfeito para o Brasil. Com alcance de 2.000 milhas náuticas, ele voa de São Paulo a Manaus sem escalas com grau de conforto superior ao de outros modelos de nossa linha. O Latitude situa-se muito bem entre o XLS+ e o Sovereign. Ele apresentará uma boa relação entre consumo de combustível e performance, que será similar à de seus pares. Vai utilizar winglets similares aos do Sovereign com ganhos de consumo. E será mais veloz do que o XLS+ com um alcance similar e muito mais conforto.
Qual é o tamanho da cabine?
Como pode ver, a cabine tem um piso interno totalmente plano e sem ressaltos. São 4,87 m do cockpit ao lavatório, o que proporciona um conforto sem igual. Além disso, o Latitude oferece 1,83 m de altura e 1,95 m de largura.
Que outras novidades de cabine o Latitude oferece?
Temos soluções eletrônicas touch screen intuitiva em cada assento. A Cessna desenvolveu em parceria com a empresa americana Heads Up Technologies o sistema Clarity. É uma tecnologia inteligente totalmente integrada à aviônica da aeronave via fibra ótica, que permite aos passageiros ter acesso a uma central de dados e de comunicação remota. No cockpit, o Latitude terá o Garmin G5000, também comandado por toques na tela, dispensando o uso de botões. Trata-se de um sistema novo, totalmente integrado, que utiliza três telas principais multifunção de 14 polegadas, além de quatro painéis de controle touch screen. Entre os destaques do G5000, além da interface touch screen entre piloto e aeronave, estão o TCAS II com Change 7.1, tecnologia de visão sintética, cartas eletrônicas, SafeTaxi da Garmin, sistema de controle de voo duplo com WAAS LPV e RNP e radar meteorológico com detector de turbulência capaz de executar scan vertical.
Como será a performance do Latitude?
Ele terá capacidade para dois pilotos e até oito passageiros. Sua velocidade máxima de cruzeiro será de 819 quilômetros por hora. A expectativa é a de que ele opere em pistas de menos de 1.200 metros e suba até 43.000 pés em 23 minutos.
Outra novidade da Cessna aqui na NBAA é o M2. O que já é possível falar sobre ele?
O M2 é um produto para os proprietários de nosso Mustang que querem ascender de categoria. Ele basicamente se situa entre o Mustang e o CJ2+ e é uma aeronave que vai prover melhor alcance e velocidade do que o Mustang. Outro destaque é que ele tem um toalete na traseira, algo que nossos clientes de Mustang queriam.
O toalete é opcional ou de série?
De série. Mas teremos duas versões do M2, uma com porta rígida no toalete e outra com cortina, que oferece mais espaço para reclinar os assentos de trás ou até área para mais um passageiro.
De quantos passageiros estamos falando?
São 6 passageiros no total.
Como o senhor compara o M2 com seus concorrentes? Seu preço estimado é de US$ 4,2 milhões, ligeiramente mais caro...
O principal concorrente do M2 é o Phenom 100. A grande vantagem do M2 em relação ao jato de entrada da Embraer é seu menor custo operacional. De fato, ele é ligeiramente mais caro, mas apresenta velocidade superior, melhor performance de consumo de combustível e maior capacidade de carga. Também acredito que o conforto da cabine seja uma vantagem.
Quantas aeronaves Cessna operam hoje no Brasil e qual o potencial do M2 no país?
Não tenho o número exato, mas temos mais de 30 Mustang operando no Brasil. No caso do M2, devemos ter desde operadores do Mustang buscando uma aeronave de categoria superior até clientes que pretendem adquirir seu primeiro jato. O M2 pode ser uma aeronave de entrada.
O que mudou na estrutura do CJ para o M2?
Basicamente não houve grandes mudanças estruturais. As mudanças foram de motores, aviônica, interior e integração de sistemas.
O que se pode dizer sobre os aviônicos?
O Garmin G3000 tem muito da simplicidade que os pilotos apreciam no G1000, mas está um degrau acima. Ele agrega novas capacidades e mantém a facilidade operacional por conta do controle touch screen. Em verdade, do ponto de vista visual, será até um pouco mais fácil para a tripulação ao compará-lo com o G1000, pois ele usa ícones como os que temos em iPads e iPhones. Ou, por exemplo, quando o piloto busca uma frequência, ele pressiona o ícone rádio e uma janela se abre para que tecle 1234, ou outros números, e sintonize o rádio. Em resumo, o G3000 provê uma melhor interface para o usuário.
E o Citation Ten, como está seu cronograma de lançamento?
O primeiro voo acontecerá em breve, no fim deste ano ou no começo do próximo, com as primeiras entregas em 2013.
Já há pedidos para o Brasil?
Sim, mas não posso lhe dar números. O que posso dizer é que a primeira entrega para o Brasil acontecerá em 2014, em razão do prazo de certificação, que usualmente acontece um ano depois da homologação aqui nos Estados Unidos.
Qual é a diferença entre o Ten e o Citation X?
O Ten basicamente expande a capacidade de um Citation X. Ele será um pouco mais rápido, terá alcance superior e oferecerá nível conforto de cabine maior. A eficiência em relação ao uso de combustível também será maior. É que, com a mudança no fan do turbo, teremos melhor desempenho com o mesmo consumo de combustível. Também pelo motor e pelo modo como os winglets foram montados, o avião subirá mais rápido, economizando tempo e combustível, e terá maior alcance.
Como a crise internacional de 2008 afetou a Cessna?
Reduzimos muito nossas vendas. O vale aconteceu no final de 2009 e início de 2010. Desde então, temos crescido e as vendas estão aumentando muito bem.
Qual é o peso dos mercados emergentes para a Cessna?
Posso dizer que um mercado tradicional para a Cessna, a Europa, não se recupera na mesma velocidade que os demais mercados. Então, esses outros mercados estão ganhando peso proporcional em nossas vendas.