MD-88 se torna 'atalho' para copiloto virar comandante

Na Delta, tripulantes podem mudar sua posição no assento mais rapidamente assumindo o manche do Mad Dog, ou Cachorro Louco

Por Ernesto Klotzel Publicado em 04/09/2017, às 08h05 - Atualizado às 08h18



Um caminho muito mais curto para os copilotos dispostos a enfrentar o velho MD-88. É o que a Delta está oferecendo para copilotos que, normalmente, passam dez ou mais anos no assento da direita até sua promoção a comandante que se reflete em muito mais que o status e o quarto galão dourado: é o topo da carreira, com responsabilidade e sobretudo salário em outro nível. 

A normalmente penosa trajetória de anos pode ser reduzida a meses, caso o candidato se disponha a voar o “Mad Dog” (“Cachorro Louco”), apelido pouco lisonjeiro para o McDonnell Douglas MD-88 – outrora uma estrela em muitas companhias aéreas – e que será tirado de operação pela Delta em cerca de três anos.

Os MD-88 são os jatos mais antigos em operação em qualquer das principais aéreas dos EUA. Eles incorporam algumas relíquias como vigias na parte superior do cockpit utilizadas na época da navegação noturna celestial, e são de operação tão ruidosa que os tornou ‘maus vizinhos’ em muitos aeroportos importantes como o La Guardia em Nova York. 

Agora, os MD-88 estão ajudando a conturbar a ordem natural de promoção dos pilotos mais jovens enquanto a Delta aguarda a entrega de seus substitutos e luta contra uma coletividade de pilotos “cabeça branca”, que preferem naturalmente voar jatos novos Boeing ou Airbus. O que não acontece com a ambição dos copilotos calouros. 

A sequência natural de promoção a comandante percorre do assento à direita de primeiro oficial para o da esquerda de comandante e do jato menor para o maior. Uma maratona que normalmente leva 10 anos ou mais, ou apenas 3 anos em circunstâncias especiais de grande demanda.

Veteranos em posição mais elevada na lista de senioridade podem optar para voar as aeronaves e rotas mais nobres como os novos widebody Boeing e Airbus nas rotas da Ásia, por exemplo, enquanto os pilotos-junior se contentam como comandantes em um Boeing 717 para 110 passageiros, ou como primeiro oficial em um Jumbo. 

Porém, alguns pilotos da Delta, dispostos a pilotar o MD-88 ou mal acomodados no bairro de Queens e operando a partir de Nova York, estão passando por um upgrade muito rápido: um piloto contratado em janeiro tornou-se comandante em junho, fenômeno que não é tão raro na Delta. O que não significa, segundo a Delta, em abrir mão da competência no cockpit pois aqueles que passam a voar os MD-88 “são tão qualificados como seus colegas nos jatos maiores”. De qualquer maneira, trata-se da mais rápida promoção de que se tem notícia nas “três grandes” da aviação comercial norte-americana.

Alguns pilotos da American Airlines passaram pela mesma experiência, a partir dos jatos regionais Embraer E190 para 99 passageiros. O upgrading significa um salto em salários: um primeiro oficial, em seu primeiro ano recebe em torno de US$ 86 por hora, ante os US$ 220 de um comandante novo. Segundo os pilotos, US$ 180.000 por ano é a remuneração típica para um comandante em seu primeiro ano, após concluir seu treinamento.

O MD-88, “cavalo de batalha” em voos de menor alcance desde 1988, exibe controles e checklists que parecem antiquados e contra-intuitivos para pilotos que enfrentam rígidos programas de treinamento antes de poder fazer a transição de aeronaves.