Clube do manche se reúne em São Paulo para comprar, vender e trocar relíquias aeronáuticas
Texto E | Fotos Rodrigo Cozzato Publicado em 08/12/2011, às 15h26 - Atualizado em 27/07/2013, às 18h45
A maioria dos que usam a aviação regular para cumprir compromissos profissionais, ou a turismo, costuma desperceber detalhes do traslado, tais como o modelo e o prefixo da aeronave. Muitos nem sequer atentam para o nome da companhia aérea que os transporta. Algo definitivamente impensável para aficionados por aviões, que, antes mesmo de embarcarem, já estão atentos às minúcias da viagem, o que inclui desde o número e a duração do voo até a rota e a previsão meteorológica em relação à origem e ao destino. Além do cartão de embarque, apreciam copos, talheres, guardanapos, embalagens das refeições e revistas de bordo. Um artigo, no entanto, faz particular sucesso entre os integrantes dessa peculiar casta: o cartão com instruções de segurança, mais conhecido como safety card. Cada modelo de avião possui o seu, tornando-os genuínos objetos de desejo. A maior feira de artigos relacionados à aviação do país, o Clube do Manche, cuja última edição aconteceu em outubro passado, em São Paulo (SP), traduz o espírito dessa vultosa comunidade de colecionadores. Lá é possível comprar, vender ou trocar tudo o que se refere ao mundo da aviação, como maquetes, broches, berimbelas, bonés, fotos, postais, livros, revistas, DVDs e, claro, safety cards.
Mazur tem 150 miniaturas de aeronaves do mundo todo |
Um cartão para cada miniatura
O supervisor técnico Hilton Mazur, de 29 anos de idade, participou do evento deste ano. Ele personifica o aficionado por aviação. Começou a colecionar maquetes e miniaturas aos 5 anos, por causa do pai. Hoje, além de colecionar, comercializa diversos objetos, principalmente maquetes. Sua coleção de cartões de segurança, porém, é bastante curiosa. "Procuro os safety cards somente dos aviões que tenho na minha coleção de maquetes", explica o colecionador, que possui 150 miniaturas de diversas companhias do mundo inteiro. "Já tenho os respectivos cartões de 35 desses aviões. Os mais difíceis de conseguir até agora foram o do Boeing 727-100 e do Electra II da Varig". Curiosamente, Mazur nunca voou de avião. "Compro meus safeties na internet, geralmente em leilões, ou troco com outros colecionadores".
Slimmer e Pissini: 500 gravatas e 2500 safeties, respectivamente |
500 gravatas e 100 mil safeties
Um dos expositores presentes no Clube do Manche era o norte-americano Chris Slimmer. Ele coleciona safety cards, postais e também gravatas - que estavam expostas, mas não à venda. No evento, Slimmer exibia, orgulhoso, uma antiga gravata da British Airways. "Estou nessa há mais de 20 anos. Tenho umas 500 gravatas, 50 mil postais e tranquilamente mais de 100 mil safety cards", confessa. Se as gravatas são para uso próprio, os safeties se destinam aos negócios. Ele explica que muitas companhias nos Estados Unidos e na Europa fazem novas impressões de cartões de segurança anualmente para trocar o layout e vendem os antigos em lotes para colecionadores.
Enquanto no Brasil o Clube do Manche é um dos raríssimos encontros de entusiastas da aviação, no exterior esse tipo de evento é comum. Chris Slimmer é um dos organizadores da Airliners International, que acontece em Memphis (EUA), anualmente, em julho. "É a maior feira de colecionadores do mundo", garante Slimmer.
BOAC dos anos 50
Um dos clientes mais fiéis de Chris Slimmer no Brasil é o piloto comercial Carlos Pessini, de 28 anos, que costuma comprar safety cards pela internet e trocar com outros colecionadores, e já foi algumas vezes à Airliners International. Pessini tem uma vasta coleção de cartões, superior a 2.500 unidades. Ele começou a colecionar há pouco mais de dez anos, mas foi em 2003 que sua coleção deu um grande salto. Na época, ele trabalhava na equipe de solo da Varig. O safety mais raro dele, conservado dentro de um plástico e só manuseado com luvas, é o da BOAC (British Overseas Airways Corporation) da década de 1950.