Maior feira de aviação executiva da América Latina deixa o aeroporto de Congonhas. Mercado seguirá o evento, consolidado dentro de padrões internacionais, onde quer que aconteça
Por Giuliano Agmont Publicado em 16/12/2013, às 00h00
PAMA-SP no Campo de Marte deve sediar edição de 2014
Durante as últimas edições da maior feira de aviação executiva da América Latina, a pergunta que mais se fazia aos organizadores do evento era “A Labace será em Congonhas no ano que vem?”. A dúvida se renovava conforme o encerramento se aproximava, mas, agora, a incerteza chega ao fim. Depois de uma década, a exposição estática da Latin American Business Aviation Conference & Exhibition terá novo endereço. De acordo com a Infraero, estatal responsável pela administração de Congonhas, o principal aeroporto doméstico do país estará indisponível para acolher a Labace em 2014, pois terá de se adequar ao projeto específico de suporte operacional durante a Copa de Mundo da FIFA no Brasil. “Além disso, existem outras obras no entorno, a cargo dos governos municipal e estadual, que trarão impactos sobre o sistema viário próximo, especificamente no acesso ao local e ao sítio aeroportuário, e também inviabilizarão a realização de qualquer evento de grande afluência de público, em curto ou médio prazo, em Congonhas”, informa a Infraero. “Posteriormente, o local onde a Labace foi organizada nos últimos anos terá destinação específica operacional”.
Com a indisponibilidade de Congonhas, o principal desafio do presidente do Conselho Administrativo da ABAG (Associação Brasileira de Aviação Geral), Eduardo Marson, que acaba de ser reeleito para ocupar seu atual cargo pelos dois próximos anos, será definir um novo lugar para a Labace 2014. Até o fechamento desta edição, a decisão estava por ser tomada, embora a expectativa fosse a de que os organizadores do evento escolheriam como nova sede da feira o Parque de Material Aeronáutico de São Paulo (PAMA-SP), que fica dentro do aeroporto do Campo de Marte, justamento por ser a única alternativa situada na capital paulista, além de já comportar outros eventos de grande envergadura. A segunda alternativa seria a base aérea do Aeroporto Internacional de Guarulhos, pela proximidade com São Paulo e pela facilidade de desembaraço aduaneiro e imigração. Opções como a base aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, a base aérea de Santos, no litoral paulista, e aeródromos no interior de São Paulo, como o de Sorocaba, foram descartados pela Abag, salvo fato extraordinário. No Rio, o problema seria a logística. “Na base aérea do Galeão não há portão para a rua, faltariam vagas no estacionamento para carros e a circulação de 12 mil pessoas lá dentro seria complicada”, pondera Ricardo Nogueira, diretor executivo da Abag. Já os demais aeroportos ficam distantes de São Paulo, considerada a “sede” da aviação executiva no Brasil pelos organizadores da Labace.
Apesar da indefinição em relação ao local, a força da Labace é incontestável. A Abag conseguiu fazer dela uma feira de padrão mundial, referência na América Latina. E o mercado de aviação executiva manterá o evento sólido onde quer que aconteça. Para Rodrigo Pesoa, diretor de Vendas da Dassault Falcon para a América do Sul, Campo de Marte e Guarulhos são as opções mais viáveis, “nessa ordem”, por estarem um em São Paulo e outro na Grande São Paulo. “Trata-se do principal mercado para a aviação executiva no Brasil”, enfatiza Pesoa, reconhecendo que “a saída de Congonhas deverá ser prejudicial para o evento”, ao menos neste primeiro momento. O diretor Comercial da AgustaWestland do Brasil, John Arbach, diz que a opção pelo Campo de Marte, em São Paulo, ou Rio de Janeiro, seriam as melhores, segundo consenso interno na empresa. “A ideia de levar este evento para outros centros do país mereceria sérias considerações”, defende Arbach. Para a Líder Aviação, a Abag optará pelo melhor local para a realização da Labace 2014, “sendo o mais acessível ao público, com infraestrutura necessária para o evento e que esteja pronto para receber aeronaves de portes pequeno, médio e grande”.
A preferência pelo Campo de Marte se dá por motivos variados. Responsável pelas avaliações dos aeroportos candidatos à sede da Labace 2014, Ricardo Nogueira diz que a Força Aérea Brasileira demonstrou boa receptividade para a realização da principal exposição de aeronaves do país no PAMA-SP, onde já acontecem eventos de porte, tais como o “Domingo Aéreo”,
shows musicais e feiras de automóveis, com grande circulação de pessoas. “Além disso, há no local, segundo informe da FAB, dois hangares reformados recentemente, que oferecem a infraestrutura necessária para um evento como a Labace, o que inclui elétrica, hidráulica e demais requisitos”, revela Nogueira, que reitera a vocação do Campo de Marte para atender a aviação geral ao conectar São Paulo com centenas de destinos. “Nenhum outro aeroporto brasileiro tem voos para tantos lugares diferentes”.
Já os contras do Campo de Marte não inviabilizam a Labace, pelo menos a de 2014. O principal deles é o PCN da pista, que não a habilitaria para receber grandes aeronaves, como os Airbus e Boeing em configuração VIP, carregadas. “Mas isso não impede a operação desses aviões maiores, basta que venham mais leves de Guarulhos, Congonhas ou até Viracopos. Ademais, acreditamos que uma atualização da inspeção do pavimento da pista mostrará que o PCN de Marte é compatível com os grandes jatos executivos”, sustenta Nogueira. Outro aspecto é a localização em relação aos principais hotéis e restaurantes de São Paulo, já que a de Congonhas é melhor da que a do Campo de Marte. “Sim, a distância é maior ao se comparar com Congonhas, mas bem menor do que a de Guarulhos”. Finalmente, a opção pelo PAMA-SP também esbarra na incerteza sobre o futuro do Campo de Marte, que pode passar a operar apenas helicópteros, assim que os novos aeroportos executivos paulistas se tornarem operacionais, permitindo a construção de empreendimentos imobiliários com edifícios em seu entorno.
A principal vantagem da Guarulhos, a segunda melhor opção para sediar a Labace, segundo a Abag, seria a estrutura de pistas, que recebem confortavelmente qualquer aeronave executiva. O fato de ser internacional representa mais uma conveniência, assim como o generoso espaço da base aérea. Os prós, no entanto, param por aí. A distância do centro econômico da cidade de São Paulo e a falta de infraestrutura hoteleira e gastronômica nas proximidades do aeroporto pesam contra. “O entorno não é amigável”, resume Nogueira. “Além disso, o acesso à base aérea inexiste, precisaria ser criado, e a circulação lá dentro também teria de ser bem planejada, afinal é uma área militar sem tradição em eventos”.
Se confirmada, a realização da Labace no Campo de Marte cria uma oportunidade para Abag ampliar o leque de expositores da feira. Com uma área superior aos 20.000 m² de Congonhas, o aeródromo oferece um espaço possivelmente maior do que aquele que os atuais expositores são capazes de cobrir, abrindo “brechas” para fabricantes de aviões leves, como os novos LSA, que são cada vez mais utilizados por profissionais liberais, empresários e fazendeiros no deslocamento pelo interior do Brasil em missões de negócio. “O foco da Labace sempre foi e continuará sendo a aviação executiva, mas podemos ter uma cadeia melhor representada, já que a feira tem condições de crescer fisicamente, o que não acontecia em Congonhas”, analisa Ricardo Nogueira. Uma das possibilidades, aliás, seria transferir os estandes para o Pavilhão de Exposições do Anhembi, que fica ao lado do PAMA-SP e é um dos maiores centros de eventos da América Latina.
Congonhas receberá jatos executivos na CopaInfraero garante que o principal aeroporto paulistano acomodará a aviação geral durante o evento Um dos principais desafios do Brasil para a Copa do Mundo será a acomodação de aeronaves executivas nos aeroportos do país. Centenas de jatos executivos de chefes de estado, patrocinadores, convidados e VIP em geral virão para o maior evento esportivo do mundo em 2014. “Foram criadas 1.036 novas posições de estacionamento de aeronaves em 31 aeroportos da rede Infraero, para o mix de até um 737-800. Essas posições são complementares às existentes e sua utilização será coordenada por um grupo em operação especial dentro do Centro de Gerenciamento de Navegação Aérea (CGNA). Além disso, serão utilizadas as vias de manobra de aeronaves (taxiways) com menor uso e que não afetem a capacidade do aeroporto, sempre respeitando os requisitos de segurança operacional”, informou a Infraero a AERO Magazine. Segundo a estatal, as aeronaves da aviação executiva chegarão a uma posição perto do terminal, permanecerão ali durante o embarque ou desembarque de passageiros e, em seguida, serão encaminhadas a uma posição de contingenciamento. A empresa também garante que não fechará o Aeroporto de Congonhas para a aviação geral. “Pelo contrário, Congonhas faz parte dos aeroportos coordenados e com plano de contingenciamento para alocação de aeronaves em demanda extra”. |