Relatório acusa o Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos de ocultar voos de deportação com callsigns falsos
Por Marcel Cardoso Publicado em 28/08/2025, às 08h57
O Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês) e companhias aéreas contratadas estariam utilizando identificações de voo falsas para ocultar operações de deportação.
O relatório da organização La Resistencia, entregue à emissora King 5 News, na cidade de Seattle, aponta que os chamados “dummy callsigns” começaram a ser usados em abril, quando houve crescimento no número de decolagens.
Segundo o documento, as aeronaves passaram a voar sob o indicativo “Tyson”, mesmo callsign associado às viagens privadas do ex-presidente Donald Trump desde 2016, conforme já reportado pelo canal norte-americano CNN. O objetivo seria reduzir a possibilidade de rastreamento por grupos de monitoramento e pelo público.
No relatório, a La Resistencia afirma que os indivíduos deportados não aparecem nas listas de passageiros. “O ICE agora não divulga previamente seus voos para limitar o conhecimento público. Em vez de passageiros, os deportados são registrados como carga. Carga humana, uma designação desumanizadora”, descreve o documento.
De acordo com a emissora 12 News, três empresas responderam por cerca de 80% dos voos fretados de deportação: Avelo Airlines, Eastern Express e GlobalX.
O ativista Tom Cartwright, ex-executivo da JP Morgan, informou ter monitorado 5.962 voos desde o início do segundo mandato de Donald Trump até julho, incluindo 68 operações militares, majoritariamente para Guantánamo. Segundo ele, houve aumento de 41% no volume de voos em relação ao mesmo período de 2024.
Aeroportos como o Boeing Field International e o Yakima Air Terminal, ambos no estado de Washington, concentram grande parte das operações. De acordo com La Resistencia, 1.222 deportações foram realizadas a partir desses terminais em 2024, número já superado em 2025, que até junho registrava 1.342 deportações.
A Avelo Airlines enfrentou manifestações em aeroportos onde opera após a confirmação de que havia firmado contrato com o ICE. Apesar da pressão, não há registro de interferência ilegal ou disruptiva nas áreas seguras de embarque.
O relatório também cita o uso de equipamentos de restrição, como o dispositivo “The Wrap”, semelhante a uma camisa de força, observado em pelo menos dois embarques. Além disso, ativistas afirmam que pessoas doentes ou feridas foram deportadas sem assistência médica adequada.