Evite a perda de controle em voo

Dicas para manter a aeronave dentro do envelope de energia e prevenir queda involuntária, uma das principais causas de acidentes na aviação geral

Por Carlos Eduardo Pellegrino, especial para Aero Magazine Publicado em 15/07/2015, às 00h00 - Atualizado em 28/06/2017, às 14h14

Era um dia comum para a tripulação do King Air PR-AVG. Pelo plano de voo, eles iriam do aeroporto da Pampulha para o aeródromo da fazenda Sequoia, nordeste de Minas Gerais, naquele fatídico 7 de junho. A viagem, porém, terminou de modo trágico. O bimotor se envolveu em um acidente fatal após a decolagem, com três vítimas. Pelas imagens capturadas por cinegrafistas amadores, a aeronave perde altitude em aparente falta de controle. Seria mais um exemplo de perda de controle em voo (LOC-I)? Evidentemente, essa resposta cabe exclusivamente ao Cenipa, com a publicação de seu relatório de investigação, mas vamos explorar as maneiras como um piloto pode evitar essa situação.

Em janeiro de 2015, o NTSB, o órgão de investigação de acidentes dos Estados Unidos, colocou a perda de controle em voo como tópico número 1 de sua lista dos dez problemas “mais procurados” (Top Ten Most Wanted List), principalmente, por causa da quantidade de vezes que esse fator contribuinte apareceu em eventos da aviação geral: 40% dos acidentes foram classificados como LOC-I entre os anos de 2001 e 2011. Segundo a AOPA, são dois acidentes fatais por semana. Um contraste com a aviação regular, que vem buscando aprimorar cada vez mais o treinamento para evitar esse tipo de acidente. No Brasil, as estatísticas também preocupam. De acordo com a FCA 58-1/2015 do Cenipa, 19,04% de todos os acidentes entre 2005 e 2014 foram classificados como perda de controle em voo, só perdendo para falha de motor em voo, com 20,95% do total de acidentes.

Numa definição simples, a perda de controle em voo corresponde à situação em que uma aeronave permanece fora do seu envelope de voo, introduzindo um elemento surpresa na pilotagem da tripulação envolvida. Faz parte do treinamento básico de qualquer piloto de uma aeronave a realização de estol (ou stall) de forma controlada, com ou sem motor, numa altitude de segurança. A simples recuperação é o retorno ao nível de energia previsto nas limitações da aeronave, o que não é possível identificar algumas vezes.

Indicador de ângulo de ataque

O acidente com o Air France 447 em 2009 foi um exemplo de perda de controle em voo. O avião, depois de sofrer a perda das informações do tubo de pitot por congelamento, despencou do FL 350 com ângulo de ataque superior a 30o em 4 minutos, conforme o relatório final do BEA, o órgão de investigação de acidentes francês. Um dos fatores contribuintes para esse evento foi a falta de interpretação correta do sistema de automatismo da aeronave e sua aplicação para recuperar a energia. O mesmo erro foi repetido no acidente do OZ 214 em 2011, quando o Boeing 777 da empresa Asiana vindo de Seul para São Francisco tocou antes do início da pista, numa aproximação não estabilizada. No relatório final do acidente, o NTSB registrou a falta de conhecimento do automatismo da aeronave também como um dos fatores contribuintes para o evento.

Preocupada com esses eventos, a Organização de Aviação Civil Internacional promoveu em maio de 2014 um seminário sobre perda de controle em voo, para disseminar o material de orientação do requisito de treinamento de recuperação de situações anormais de voo (Upset Recovery Training).

Nesse contexto, a pergunta que a comunidade aeronáutica se faz é como criar barreiras para que esses eventos não ocorram no voo da aviação geral? Nos EUA, a FAA criou o PEGASAS, um programa voltado para a melhoria da segurança operacional da aviação geral. Uma de suas iniciativas é voltada para a instalação de indicadores de ângulo de ataque (AOA) nos painéis das aeronaves, valendo-se de um processo de certificação aeronáutica simplificado. Mas existem outras recomendações. A seguir, reunimos cinco dicas que podem ser facilmente memorizadas por todos e evitar acidentes:

1. Fique sempre atento aos sinais precursores de estol e aplique as medidas corretivas para a sua aeronave;

2. Seja honesto na sua capacidade de identificar o estol na aeronave, estude e relembre dos principais sinais, principalmente quando for requerido o stick shaker;

3. Utilize sempre as ferramentas aeronáuticas de apoio à decisão antes ou durante o voo;

4. Gerencie as distrações para que não interfiram na manutenção do nível de consciência situacional requerido na fase do voo; e

5. Conheça, entenda, treine e se mantenha corrente na aeronave que irá voar. Tire sempre vantagem no uso de equipamentos de treinamento, incluindo os simuladores de voo.

 

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