Manobra é segura e prevista no manual, mas situação rápida torna quase impossível escolher adequadamente um local para pouso
Por Edmundo Ubiratan | Fotos: Divulgação Publicado em 11/02/2019, às 15h30 - Atualizado às 19h27
O acidente que vitimou o jornalista Ricardo Boechat levantou uma série de perguntas e indignações, incluindo a fatalidade de o helicóptero ter colidido com um caminhão.
Ainda que as causas do acidente dependam de criteriosa analise por parte dos órgãos competentes, como o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), as primeiras imagens sugerem após a perda de potência no motor o helicóptero iniciou uma manobra conhecida como autorrotação. "Os motivos que levaram o comandante a decidir pelo pouso de emergencia ainda não são conhecidos, as condições metereológicas eram boas e a região não oferecia muitas áreas para pouso", comenta Shailon Ian, engenheiro aeronáutico e CEO da Vinci Aeronautica.
A operação não é apenas bastante segura, mas prevista no manual de qualquer helicóptero, além de ser uma manobra treinada nas escolas de aviação, desde o curso inicial de piloto.
Autorrotação é na prática a troca de altitude por velocidade. A aplicação da manobra é bastante ampla, podendo ir da perda do rotor de cauda, até falha no motor.
Um helicóptero convencional possui dois rotores, o principal, popularmente chamado de “hélice”, que gera sustentação e velocidade, e um rotor de cauda, que entre outros desempenha o controle direcional. No caso da perda do rotor de cauda a tendência é que o helicóptero passe a girar em sentido contrário ao rotor principal. Para evitar tal efeito, o piloto pode utilizar um princípio aerodinâmico relativamente simples, ao mergulhar a aeronave o ar que passa ao redor da fuselagem mantém ela com algum controle direcional, evitando seu giro. Já no caso de falha no motor, a manobra mantém a sustentação gerada pelo rotor principal. O deslocamento horizontal mantém a rotação do rotor, gerando sustentação, que permite realizar com segurança um pouso de emergência.
Para realizar a manobra o piloto desacopla o rotor principal do motor, é como desengatar o carro em alta velocidade em uma estrada. O câmbio desacopla do motor, mas a inércia mantém o carro em movimento, no caso se estiver em uma descida, o automóvel trocará a altura da rua por velocidade. O mesmo ocorre no helicóptero. A diferença é que o helicóptero necessita do fluxo de ar ao redor da fuselagem para manter o controle.
Contudo, a principal restrição para realizar uma autorrotação é a altitude de voo. Em determinados casos pela falta de altura em relação ao solo a manobra se torna difícil, em alguns casos, impossível de ser realizada com segurança.
Uma das dúvidas é sobre a escolha do local de pouso, que acabou sendo na contramão da rodovia Anhanguera, uma das mais movimentadas do país. A manobra exige uma reação rápida, onde o piloto deve desacoplar o rotor e imediatamente iniciar a descida. "No caso de uma falha no motor o piloto realiza a manobra, mas ele não tem muitas opções para escolher onde pousar a aeronave", afirma Ian. "O local dependerá bastante da velocidade e da altura em que o helicóptero se encontrava no momento da pane".
Abaixo vídeo mostra manobra sendo realizada, durante treinamento, pelo mesmo modelo de aeronave que se encontrava o jornalista, um Bell 206B3 Jet Ranger.