Fabricante brasileiro de veículos esportivos de luxo lança projeto de um bimotor executivo com configuração pusher-canard construído em fibra de carbono
Por Giuliano Agmont Publicado em 25/06/2014, às 00h00 - Atualizado às 07h45
O empresário Nilton Góes constrói protótipos de carros esportivos usando fibras de vidro e de carbono há praticamente 20 anos. Desde 1995, ele produz em sua fábrica localizada na cidade de Itajaí, no litoral de Santa Catarina, réplicas de máquinas como Bugatti, Lamborghini e Ferrari vendidas a preços que giram em torno de R$ 160 mil. Os oito funcionários da empresa, batizada Autosfibra, montam quase artesanalmente quatro veículos por mês, fazendo o chassi, a carroceria e o interior. Fornecedores provêm itens como pneus, rodas e vidros, além de motores V6 e V8, nacionais. Apaixonado por aviação desde a época em que se dedicava ao aeromodelismo, Nilton se prepara, agora, aos 47 anos de idade, para alçar um voo ainda mais audacioso: fabricar um avião executivo.
Previsão de investimento no projeto do GA620 chega a R$ 17 milhões
A maquete eletrônica da aeronave impressiona. Trata-se de um bimotor a pistão para seis ocupantes com hélices dispostas na parte posterior da aeronave (pusher), estabilizadores horizontais à frente das asas (canard) e trem de pouso retrátil. À primeira vista, parece o veloz turbo-hélice Piaggio P180 Avanti II, mas o GA620, uma alusão ao nome da nova empresa criada por Nilton, a Galaxy Aero, e à potência total oferecida pelos dois motores IO Continental 550 aspirados, de 620 hp, teve como inspiração outros modelos. O principal deles é o Sky Shark TP4/100, um projeto italiano ainda na maquete. Também nos inspiramos em modelos como o Velocity V-Twin, concebido por Burt Rutain, e o asa alta Evektor EV-55M Outback, que tem uma bolha na barriga para comportar o trem de pouso”, conta Nilton Góes. “Nosso engenheiro aeronáutico, o Felipe Teixeira, iniciou as pesquisas para definirmos o projeto do avião há três anos. Já despendemos cerca de 500 mil reais entre projeto, túnel de vento, montagem do escritório e lançamento oficial do avião. O investimento total até a homologação deve chegar a 17 milhões de reais”.
Apesar do formato incomum, com design um tanto arrojado, o principal diferencial do avião será o material com o qual será construída sua fuselagem, a fibra de carbono, por conta da redução não só de peso como também de arrasto apenas as asas serão de alumínio. Nilton está seguro de que a experiência acumulada na manipulação de materiais compostos para fabricação de carros esportivos será a chave para garantir a viabilidade tanto do produto quanto do negócio. “Já fizemos mais de 350 carrocerias de automóveis usando forno pressurizado autoclave, que ‘seca’ a fibra de carbono. Ele exige know-how para ser operado. Para o avião, vamos usar um modelo gigante, de pelo menos 9 metros, explica o empresário, que nasceu em São Paulo e se mudou aos 16 anos de idade para Itajaí, onde se formou arquiteto, sem nunca exercer a carreira, e montou a Autosfibra. Segundo ele, a fábrica de aviões será maior do que a de carro e começará a ser construída no fim deste ano, com inauguração prevista para 2015. “Teremos uma área de 300 metros quadrados, com pista própria de 2.000 metros, perto do Aeroporto de Navegantes, e o plano é contar com pelo menos 300 funcionários, a maioria deles vinda do Senai, para produzir cerca de 20 unidades do GA620 por mês.
O primeiro protótipo do avião já começou a ser construído e deve voar em meados de 2015, entre junho e julho, para ser certificado em seguida, antes de dezembro. A previsão da Galaxy Aero é começar a entregar o GA620 em 2016. Mais um diferencial do avião, que deverá custar US$ 1,55 milhão e concorrerá possivelmente com aeronaves como o Piper Seneca, será o interior assinado pelo arquiteto Leo Shehtman, renomado por seus projetos residenciais e comerciais no mercado de luxo. Ainda assim, o comprador poderá optar por diferentes itens no interior da cabine, como revestimentos, tecidos e luminosidade. Em termos tecnológicos, os passageiros terão um console central para controlar os sistemas de entretenimento e ar-condicionado”, explica Nilton Góes.
A expectativa da Galaxy é que o GA620 tenha um alcance de 2.000 km, o que significa cobrir boa parte do território brasileiro a partir de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, com velocidades que podem chegar a 385 km/h e um consumo médio de 120 litros de combustível por hora. Será um avião ágil e flexível, capaz de oferecer a seus operadores uma excelente relação custo-benefício, com reduzido custo de manutenção, e adequado para operar em pistas curtas e despreparadas, diz Nilton Góes. Além disso, é um avião novo, que receberá um painel Garmin com todos os recursos de um glass cockpit para uma aeronave deste porte. Imaginamos que será uma excelente opção para aqueles que têm um bimotor antigo e pretendem trocar sua aeronave.
Nilton Góes, que tem a seu lado no negócio os filhos James e Alan, se vale de estimativas de mercado divulgadas pela Embraer para justificar seu otimismo em torno do projeto GA620. “As perspectivas para a aviação geral no Brasil se mostram bastante promissoras, com alta demanda por aeronaves executivas”.
GALAXY AERO GA620 |
Preço US$ 1,550,000,00 Motores 2 x IO Continental 550 aspirados Dimensões Comprimento 9,8 m Performance Velocidade máxima 385 km/h Pesos Vazio 1.200 kg |