Nova aeronave é desenvolvida em conjunto pelos dois países que possuem visões particulares sobre o programa
Por Edmundo Ubiratan Publicado em 16/07/2020, às 15h30 - Atualizado em 17/07/2020, às 15h22
Mock-up prévio do CR929 mostra uma aeronave com dimensões próximas dos futuros rivais A350 e 787
Uma série de divergências entre a Rússia e a China poderá atrasar em até dois anos o desenvolvimento do CR929, o avião de fuselagem larga e longo alcance desenvolvido em conjunto pelos dois países.
O novo jato comercial, que deverá disputar mercado com os Airbus A350 e Boeing 787, está sendo desenvolvido em parceria entre a estatal russa UAC (United Aircraft Corporation), com liderança da divisão da Irkut e a chinesa Comac.
Ambos os fabricante atuam de forma independente também no desenvolvimento de um avião comercial de fuselagem estreita, similar as famílias Airbus A320neo e Boeing 737 MAX, com os russos finalizando o programa de desenvolvimento do MC-21 (MS-21, no alfabeto latino) e os chineses com o C919.
O problema com o novo avião é na forma como cada país aposta na estratégia para o programa. Os russos buscam desenvolver um avião de classe mundial, capaz de competir com seus pares ocidentais e acreditam na parceria como uma forma de diluir custos e riscos. Já a China pretende prioritariamente obter acesso as tecnologias de ponta que não domina, assim como preservar seu mercado interno, inclusive cogitando que as aeronaves destinadas as empresas locais deverão ser integralmente produzidos no país.
Os russos não estão dispostos a ceder conhecimento e tecnologia em troca apenas de financiamento, assim como consideram pouco atraente uma parceria onde a maior parte dos aviões não possa ser produzido ao menos parcialmente dentro das fronteiras da Rússia.
Estima-se que o mercado russo deverá absorver entre 45 e 50 novos CR929 nos próximos vinte anos, enquanto os chineses devem incorporar entre 400 e 500 aviões. O objetivo da China é resguardar para a Comac algo próximo aos 35% do mercado interno, tanto para o futuro CR929, quanto para o quase finalizado programa C919.
Outro entrave está sendo a formalização sobre procedimentos industriais e de desenvolvimento, assim como responsabilidades em cada fase do programa. Os russos não estão conseguindo avançar nestes temas devido a China manter um modelo próprio para lidar com tais assuntos. Por fim, os engenheiros russos acreditam que a barreira linguística está sendo mais um problema para ambos os lados.
O custo estimado para o desenvolvimento do programa CR929 é de aproximadamente US$ 15 bilhões, podendo chegar a casa dos US$ 20 bilhões dependendo de eventuais atrasos. O valor elevado, em comparação com projetos ocidentais, se deve a necessidade de criação de toda uma cadeia industrial que demanda investimentos em setores já consolidados em outros fabricantes.
A expectativa é que o projeto seja finalizado até o próximo ano, permitindo avançar rapidamente para a construção do primeiro protótipo. A intenção é que a primeira entrega ocorra entre 2025 e 2027, mas as discussões atuais podem atrasar o cronograma em até dois anos.
Porém, ambos os fabricante terão antes a primeira prova de fogo com o início da operação dos MS21 e C919, que devem fornecer subsídios importantes para lidar com as demandas do mercado, especialmente em relação ao suporte pós-venda.